quarta-feira, 8 de junho de 2011

Líder da CPT em Rondônia diz a comitiva de senadores que é o próximo a morrer

O coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de Extrema, distrito de Porto Velho, capital de Rondônia, Sérgio Britto, 50 anos, pode ser o próximo da lista dos líderes “marcados para morrer”.
Levantamento da CPT Nacional revela que 889 pessoas foram vítimas de ameaças de morte na região Norte entre os anos de 2000 e 2010.
Desse número, 215 foram assassinadas e 203, vítimas de tentativa de assassinato nos Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.  Em todo o País, 1.855 pessoas foram ameaçadas em uma década.
“Sabem o que dizem para mim?  Você será o próximo a morrer.  Mas, eu não tenho medo da morte.  Se esta é a minha cruz, eu vou carregar (sic), como o companheiro Dinho carregou a dele.  Cada um de nós tem uma cruz; quem quiser que assuma; quem não quiser que se acovarde porque covarde eu não sou.  A gente vai continuar nessa luta, denunciando o que acontece por aqui”.
As declarações de Sérgio Britto, prenunciando o seu assassinato, foram testemunhadas pelos senadores-membros Comissão Externa do Senado, por representantes da OAB, Ministério Público Federal, dos Governos de Rondônia e Amazonas e pelos cerca de 200 participantes da audiência realizada em Extrema, na segunda-feira (07).
Os senadores Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Valdir Raupp (PMDB-RO), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) foram a Porto Velho acompanhar as investigações da morte do líder camponês, Adelino Ramos, o Dinho, e também ouvir as reivindicações dos agricultores, assentados e proprietários de terras da região da Ponta do Abunã (Extrema, Nova Califórnia, Vista Alegre e Fortaleza).
Lista
No comando da CPT local há um ano, Britto conta que nunca recebeu ameaça de morte pessoalmente, mas vários amigos e pessoas conhecidas de Extrema vêm lhe alertando.  “Dizem que sou o próximo da lista.  O amigo já até sonhou que estava morte”.
Ele conta que fazia parte, em 2008, do Projeto Jequitibá, um assentamento semelhante ao que Adelino Ramos estava implementando.  Foram ameaçados e Sérgio Britto se retirou do projeto porque não havia segurança.
O líder católico não fala da família, mulher, filhos, nem onde mora.
“Aqui eu paro.  Visito meus familiares, irmãos.  Quem está nessa luta tem que estar em um lugar a cada dia.  Infelizmente, a gente tem que ver isso aqui (ameaças, mortes) para que alguma coisa aconteça.  Alguém tem que morrer.  Jesus Cristo morreu na cruz para libertar seu povo.  Muitos ainda vão ter que morrer para trazer essa liberdade porque o poder econômico constituído não quer e o Estado faz que não ver”.
Ameaças
Sem se intimidar com a presença de supostos “olheiros” de proprietários de terras e madeireiros que estariam presentes no encontro, Sérgio Britto disse que as ameaças de mortes e assassinatos vêm ocorrendo há 20 anos e apontou como verdadeiros culpados: o poder econômico e o Estado brasileiro que se faz ausente nas regiões de conflitos agrários.
As ameaças de morte foram denunciadas por Britto e por Dinho ao Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), em Brasília, e segundo ele, o Estado brasileiro nada fez para garantir a segurança dos líderes camponeses.
“Espero que vocês (senadores da Comissão Externa) voltem aqui com soluções para dar dignidade a esse povo, com regularização fundiária, saúde, segurança pública, educação, comunicação e não para fazer reunião porque estão matando gente no campo”.
Além de Adelino Ramos, ele lembrou do pastor Gedeão que foi fazer um culto no assentamento, que recebeu o mesmo nome do religioso, e foi morto a tiros.
“É o poder econômico que está matando esse povo e o Estado, sabia, sabe de todos esses fatos”.
Propina
O momento mais contundente da manifestação do coordenador da CPT foi quando ele respondeu ao senador de Rondônia, Valdir Raupp (PMDB).
O ex-governador do Estado havia dado um exemplo da ineficiência do Incra e demais instituições federais sobre a falta de regularização fundiária, havia 30 anos, da gleba Marmelo.
“Essa falta de documentação, criticada pelo senador Valdir Raupp, ocorre porque têm políticos estaduais, federais e municipais no meio.  Tenho CPF e RG de todos esses políticos.  Eles é que não deixam acontecer o georreferenciamento.  O Incra pega suborno para não realizar a demarcação”, afirmou.
Sérgio Britto citou um juiz de Porto Velho, José Ribeiro da Luz, que teria sido preso em uma investigação feita pela Assembleia Legislativa de Rondônia.
Ele disse que o magistrado autoriza reintegração de posse, por sentença, desde que a pessoa apresente um contrato e afirme ser o proprietário da terra.
“A partir da decisão, a polícia vai lá e tira o agricultor da área.  Faço essa denúncia pública e não tenho medo”.

Fonte: A Critica

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