sábado, 23 de julho de 2011

Precisamos resgatar a cidadania dos acreanos e acreanas

Recentemente vivi uma experiência absurda no trecho entre Rio Branco e Manoel Urbano, cidade do interior do Estado do Acre. Primeiramente procurei na rodoviária por um ônibus que pudesse me levar até manoel Urbano, onde visitaria um amigo. Não havia e não há ônibus para aquela localidade. Imediatamente me vi cercado por um grupo de pelo menos cinco homens se oferecendo para me levar por meio de um sistema de "táxi" tipo lotação, mas primeiro eu deveria encontrar mais quatro pessoas para 'completar'. Isso era por volta das 08:00 horas.

Lá pelas 11:00, finalmente! a lotação estava completa. Ainda passamos por três bairros diferentes para pegar passageiros. Quando finalmente conseguimos deixar a cidade de Rio Branco já passava de meio dia e a fome insistia em se fazer presente mesmo sem ter sido convidada. Mas não era tudo!

Durante todo o percurso, todo mesmo, o motorista, um senhor com cara de mau e uma ligeira cicatriz no lado direito da face (percebi ainda antes de entrarmos no carro), cujo nome me lembrava o de uma fruta muito comum na região sudeste do Brasil, e isso me incomodava bastante, nos obrigava a ouvir músicas protestantes (evangélicas). Todas com letras do tipo: Sonda-me; Usa-me; Abraça-me... Some se a isso o calor absurdo que fazia e a poeira que nos segava e congestionava as vias respiratórias.

A uma certa altura finalmente o homem "fruta" com cicatriz parou e disparou: "na paz do Senhor podemos almoçar! Ao que imediatamente respondi: Graças a Deus!

Que sorte a minha! no local onde paramos, uma quitanda do tipo "tem mas tá em falta", não havia nada que se assemelhasse a um almoço. Havia apenas biscoitos do tipo Militos e suco "natural" de diversas cores. Não me contive e perguntei: porque não paramos naquele restaurante que vi logo alí atrás? O dono de lá não congrega e preferímos aqui no estabelecimento do irmão fulano. Acreditem, também alí estavam ouvindo uma tal de "Sonda-me".

O desespero começou a tomar conta de mim e passei a odiar o meu amigo. Porque diabos ele fora morar naquela cidade para onde eu estava indo? Todos por lá seriam iguais aos que comigo estavam no carro, principalmente iguais ao homem fruta? Não poderia imaginar ter que ouvir meu amigo ao me abraçar dizer: "abraça-me e usa-me". Meu Deus, isso seria o fim! Não! definitivamente não. Meu amigo não poderia ter mudado tanto! Por um momento fiquei pensando mas logo a realidade voltou a me chamar. Era hora de retornarmos à estrada.

Sonda-me, Abraça-me... e lá fomos nós. Nunca me senti tão desrespeitado em toda a minha vida e nunca fui tão agredido por um "taxista" que transformou o seu carro em uma ceita ambulante recheada de intolerãncia e baseada unicamente na recompensa pessoal. Entendi, depois daquele prenúncio do inferno, porque essa gente, como o homem fruta, precisa nos fazer acreditar que o inferno é aqui. Para que possamos realmente crer que o inferno é aqui, imagino, é que conseguem transformar uma viagem de passeio em um grande pesadelo.

Foi por essa experiência que decidi entrar na campanha "Diga Não ao Comércio da Fé"! Já estou anunciando que vou batalhar para que os taxistas sejam obrigados a respeitarem os seus passageiros e não transformem seus veículos em pequenos templos onde impera o desrespeito e a intolerância. Não podemos continuar assistindo (no caso seria mais correto ouvindo) calados. Nosso Estado é leigo e não pode estar a serviço de um projeto do tipo: "o Acre para Jesus" e, nem nossas autoridades como o Ministério Público Estadual podem permitir que supostos profissionais do volante atuem em nome de igrejas e desrrespeitem os direitos do consumidor.


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