terça-feira, 12 de abril de 2022

LIDERANÇAS DE 16 POVOS DO ACRE INICIAM A MOBILIZAÇÃO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE 2022

 

Foto: Lindomar Padilha - Cimi

Cerca de 170 representantes de 16 povos do Acre iniciaram neste dia 11 de abril o ATL/AC (Acampamento Terra Livre no Acre). A mobilização começou com uma marcha em direção à diversos órgãos e instituições. A primeira parada foi na Coordenação regional da Funai (Coordenação Alto Purus), coordenada por José Ciro Monteiro Junior, que é fuzileiro naval. Esta primeira parada foi também a mais sintomática e reveladora de quão grave está a situação dos povos indígenas. O coordenador não recebeu as lideranças e se recusou até mesmo a dar uma explicação para tal recusa. Mas, o fato ainda mais grave foi que, após a fala do Sr. Francisco Saldanha, cacique do povo Jaminawa da Terra Indígena São Paolino, e como o cacique se dirigia a um banheiro externo à Funai,  o coordenador percebeu sua passagem e dirigiu-se a ele nos seguintes termos: “É Francisco você fala mal da Funai né? Portanto, não vou receber mais nenhum documento vindo de vocês. Se quiser procure o Ministério Público”. Segundo depoimento do cacique, a intenção era clara: no mínimo intimidar.

Diante da postura intransigente e desrespeitosa, para dizer o mínimo, todas as lideranças que tomaram a palavra repudiaram o comportamento do coordenador afirmando que o mesmo não pode trabalhar com os povos indígenas e se tornou unânime o pedido de demissão. Segundo as lideranças, o coordenador terá uma representação formal contra ele e um pedido urgente de exoneração. Aliás, aproveitaram a parada no MPF e OAB/AC para denunciá-lo e pedir que providências sejam tomadas.

Na Polícia Federal foram recebidos em comissão e ouviu da PF um compromisso de acolher todas as demandas que lhe forem apresentadas. No MPF o próprio procurador saiu de seu gabinete e foi ao encontro das lideranças em um ato muito bonito. Também foi recebido com muito afeto e sob gritos e falas de agradecimento pela atuação na defesa dos direitos dos povos e no cumprimento de suas atribuições constitucionais.

Após todo o dia de caminhada e visita aos órgãos, todos montaram acampamento em frente ao Palácio do governo do estado e em frente a Assembleia Legislativa. Até o dia 14 permanecerão acampados e cumprindo uma extensa pauta marcada principalmente pelo sucateamento da Funai, ICMBio e Ibama, propostas e projetos que atingem diretamente os povos seus direitos e territórios, que segundo dados do Cimi são 33 propostas, reunindo mais de 100 projetos, ameaçam direitos indígenas. Outro ponto a ser debatido trata das novas formas de violações de direitos alimentadas pela chamada economia verde ou mercantilização e financeirização da natureza por meio de projetos do tipo REDD+ e REM (Programa para Pioneiros em REDD). Modelo que o Acre tem exportado como se estivesse dando certo, mas, na verdade é parte da grande farsa das falsas soluções. Neste contexto, foi feito também hoje, dia 12, pela manhã o lançamento da revista GOLPE VERDE: Falsas Soluções para o Desastre Climático (https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2022/02/golpe-verde-cimi-ao.pdf).

O acampamento segue com muita animação e com a promessa de grandes debates. Ao final, serão apresentados encaminhamentos e um documento final que expressará todas as demandas apontando para um outro futuro possível.


Criança Huni Kui em frente à Funai
Foto Lindomar Padilha - Cimi

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