quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CONJUNTURA

Imagem de internet, blog Papo de Barba

Interessante observar como os analistas de conjuntura estão sumidos. Desapareceram em meio a tanta poeira levantada por tantos que passam por essas estradas sem pavimentação deste nosso Brasil. Mais interessante ainda é ver que estes mesmos, agora desaparecidos, foram os primeiros a "analisarem" os movimentos de 2013, classificando-os como sem pauta, sem lógica, sem rumo, apenas como "uma insatisfação" generalizada e crise de representatividade política.

Passados quatro anos, meu filho que à época tinha 18 anos, agora com 22, amadureceu e já está terminando a faculdade. Enquanto isso, pergunto: porque nossos analistas não amadureceram? O que deu errado, já que era claro que o que faltava era apenas um "controle e direção" dos partidos e sindicatos? 

Quatro anos, um mandato inteiro, e nada. Parecia óbvio que o maior problema era a crise de representatividade, até Dilma falava em plebiscito. E... cadê a reforma política? Enquanto Dilma fazia o discurso para agradar, Lula, seu mentor, seguia fazendo "articulações" com setores da direita tradicional e corrupta, especialmente com o PP de Maluff, Ciro Nogueira, Ana Amélia e com o PMDB de Renan, Sarney, Eduardo Cunha, Sergio Cabral, e por aí vai.

No Brasil sempre tivemos dois tipos centrais na política: o traidor e o usurpador, ambos sempre tiveram como princípio somente a sanha de chegar e permanecer no poder, ainda que esteja ilegitimamente no poder. Se valem sempre da figura do "salvador" megalomaníaco. Então, o que vivemos hoje é apenas uma repetição, um déjà vu na história, fragilíssima história de nossa democracia. O governo Lula retomou conceitos antigos, muitos herdados da ditadura militar, como por exemplo no campo do desenvolvimentismo interno através de grandes obras e os dois modelos desenvolvimentistas a gosto da IRRSA que foram o PAC I e PAC II. No campo internacional fez também dois grandes movimentos. Primeiro no sentido de se revelar "potência". Para isso buscou insanamente fazer parte do conselho de segurança da ONU - e só para lembrar, o Brasil liderou e ainda lidera a ocupação do Haiti desde 2004 através do minustah, que só deverá ser suspensa no final deste ano ou no próximo ano. Neste mesmo período Lula e Sérgio Cabral decidem projetar o Rio de Janeiro e o Brasil por meio do esporte. Em 2007 a FIFA (também envolvida em corrupção) define que o Brasil sediará a copa do mundo. Deu no que deu.

Ainda no campo da política de propaganda internacional, o brasil vendeu a imagem de país progressista, e  exportou e implantou empresas ligadas ao desenvolvimentismo nacional especialmente para nossos vizinhos e países da África. Interferiu diretamente em países como Venezuela e Bolívia. O fato dessas empresas estarem envolvidas em denúncias de corrupção passa a ser mero detalhe depois que Lula escreveu a "Carta ao Povo Brasileiro" em 22 de junho de 2002, garantindo ao mercado financeiro que não cessaria o, digamos, "fluxo de capital" (em troca do chamado caixa dois).

Para alem de obras de grande impacto nos territórios de comunidades tradicionais, incluindo aí povos indígenas, rigorosamente nada foi feito na defesa e proteção dessas comunidades e tão pouco da natureza ali presente. No rastro das aliança espúrias foram-se os anéis. O traidor traiu e nada fez em favor dos menos favorecidos.

Ensaiaram uma briga entre uma suposta esquerda e a direita. Tentaram dividir o país para levantar poeira e assim evitar que o povo enxergasse o que de fato estava e está acontecendo. Tentaram polarizar. Eu mesmo fui vítima de xingamentos e rupturas de amizades de anos. Meus canais sociais foram infestados de grotescas agressões, ora da direita mais quase sempre vindos da falsa esquerda sindical ávida por permanecer em sua sinecura inconfessa. Os jovens de 2013 foram criminalizados e silenciados, enquanto todos os partidos políticos se declararam iguais no tocante a malversação de recursos públicos. Portanto, recriaram o cenário para uma total desilusão , campo propício para o surgimento de um novo "salvador" ou quem sabe um "volta Lula?"

Pois bem com a queda dos traidores (do traidor mais especificamente), entra em cena o usurpador. O usurpador, assim como o traidor, pretende se perpetuar no poder e não medirá esforços para tanto. Para conseguir seu intento, deve aprofundar ainda mais as alianças espúrias, já feitas pelo traidor. Tudo que o traidor prometeu aos algozes do povo o usurpador deverá cobrir, como se fosse um leilão de quermesse do interior: os mais ricos gritam mais alto e, afinal, arrematam "a prenda".

O deboche, sim essa é a palavra mais próxima do que quero dizer que encontrei - deboche, é tanto que no dia 22 de agosto (agorinha, esses dias), Lula se encontrou com o velho amigo Renan Calheiros e a família Sarney. No dia 23 deste mesmo agosto de cães danados, o usurpador (cujo nome prefiro não pronunciar),  publicou o decreto de extinção da RENCA - Reserva Nacional do Cobre e seus associados. O traidor não demarcou as terras indígenas e quilombolas e nem criou grandes áreas de proteção, já o usurpador, extinguiu as demarcações e reservas que outros criaram. O deboche que chega a parecer ironia é que a RENCA foi criada em 1984, último governo militar antes do governo Sarney. Sabem quem é o Ministro do Meio Ambiente do usurpador? sim, ele mesmo, o Sr. José Sarney Filho, conhecido como Zequinha Sarney. Quer mais deboche? Zequinha é do PV/MA, partido que abrigou Marina Silva (agora na REDE - Caiu na REDE é peixe) assim que ela rompeu com o PT e deixou o mesmo ministério agora ocupado pelo "companheiro" Zequinha.

A conjuntura aponta para nada. Nada mudou, nada será feito, nada será nada, exceto por algumas pioras. No mais, o traidor, segue traindo, o usurpador usurpando e o grande capital rural ou empresarial segue leiloando as prendas (bens comuns) nesta grande quermesse sem santo padroeiro chamado Brasil.


terça-feira, 29 de agosto de 2017

Nota de repúdio ao Decreto Presidencial que extingue a RENCA



CEA 0523/17
Brasília, 28 de agosto de 2017

 Nota de repúdio ao Decreto Presidencial que extingue a RENC

Ouvimos o grito da terra e o grito dos pobres
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), ligada ao Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), e no Brasil organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), juntamente com a Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, por meio de sua Presidência, unida à Igreja Calica da Pan-Amazônia e à sociedade brasileira, em especial aos povos das Terras Indígenas Wpi e Rio Paru D'Este, vem a público repudiar o anúncio antidemoctico do Decreto Presidencial, altamente danoso,   que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA) na última quarta-feira (23).

A RENCA é uma área de reserva, na Amazônia, com 46.450 km2 tamanho do território da Dinamarca. A região engloba nove áreas protegidas, sendo três delas de proteção integral: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá; a Reserva Biogica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d`Este. A abertura da área para a exploração mineral de cobre, ouro, diamante, ferro, nióbio, entre outros, aumentará o desmatamento, a perda irreparável da biodiversidade e os impactos negativos contra os povos de toda a região.

O Decreto de extinção da RENCA vilipendia a democracia brasileira, pois com o objetivo de atrair novos investimentos ao país o Governo brasileiro consultou apenas empresas interessadas em explorar a região. Nenhuma consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais foi realizada, como manda o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169, da Organizão Internacional  do  Trabalho  (OIT). O  Governo  cede  aos  grandes  empresários  da mineração  que solicitam anos sua extinção e às pressões da bancada de parlamentares vinculados às companhias extrativas que financiam suas campanhas.

Ao contrário do que afirma o Governo em nota, ao abrir a região para o setor da mineração, não haverá como garantir proteção da floresta, das unidades de conservação e muito menos das terras indígenas que serão diretamente atingidas de forma violenta e irreversível. Basta observar o rastro de destruição que as mineradoras brasileiras e estrangeiras têm deixado na Amazônia nas últimas  décadas:  desmatamento,  poluição,  comprometimento  dos  recursos  hídricos  pelo  alto consumo de água para a mineração e sua contaminação com substâncias químicas, aumento de violência, droga  e prostituição,  acirramento  dos  conflitos  pela terra,  agressão descontrolada  às culturas  e modos  de vida dacomunidades  ingenas  e tradicionais,  com  grandes  isençõede impostos, mas mínimos benecios para as populações da região.

Riscos ambientais e sociais incalculáveis ameaçam o pulmão do Planeta repleto de biodiversidade” que é a Amazônia, como nos lembra Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si, alertando que propostas de internacionalização da Amazônia que servem aos interesses econômicos das corporões internacionais” (LS 38). A política não deve submeter-se à economia e aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia, pois a prioridade deverá ser sempre a vida, a dignidade da pessoa e o cuidado com a Casa Comum, a Mãe Terra. Em Santa Cruz de la Sierra, na
Bolívia, em 9 de julho de 2015, o papa Francisco não hesitou em proclamar: digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

Na LS, o papa Francisco alerta ainda que o drama de uma política focalizada nos resultados
imediatos (...) torna necessário produzir crescimento a curto prazo" (LS 178).

Ao contrário, para ele no debate, devem ter lugar privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as finalidades que transcendem o interesse econômico imediato” (LS 183).

A extinção da Renca representa uma amea política para o Brasil inteiro, impondo mais pressão sobre as terras indígenas e Unidades de Conservação, e abrindo espaço para que outras pautas  sejam  flexibilizadas,  como  autorizão  para  exploração  mineral  em  terras  indígenas, proibida pelo atual Código Mineral.

Por todos esses motivos, nos unimos às Dioceses locais do Ama e de Santarém, aos ambientalistas e à parcela da sociedade que, por meio de manifestações nas redes sociais e de abaixo-assinados, pedem a imediata sustação do Decreto Presidencial que extingue a Reserva.

Convocamos as senhoras e os senhores parlamentares a defenderem a Amazônia, impedindo que mais mineradoras destruam um dos nossos maiores patrimônios naturais.

Não nos resignemos à degradação humana e ambiental! Unamos esforços em favor da vida
dos povos que vivem no bioma amazônico. O futuro das gerões vindouras está em nossas mãos!

Que Deus nos anime no mais fundo de nossos corões e nos ilumine e confirme na busca da tão sonhada Terra Sem Males.


       Dom Claudio Cardeal Hummes
Presidente da REPAM e da Comissão Episcopal para a Amazônia

Dom Erwin Krautler
Presidente da REPAM-Brasil e Secrerio da Comissão Episcopal para a Amazônia