quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Acre: Financeirização da natureza e suas consequências

Gravado durante seminário em defesa dos povos da Amazônia, realizado em Puerto Maldonado (Peru), este vídeo registra a manifestação de Lindomar Dias Padilha, filósofo especializado em Desenvolvimento e Relações Sociais pela UNB / Universidade de Brasília e pós-graduado em Direitos Humanos, que desde 1991 atua junto aos povos indígenas da Amazônia através de seu trabalho no Observatório Pan Amazônico.
Cinemateca Diálogos do Sul*
No encontro foi também foi também lançado o relatório “Economia Verde, Pueblos de los bosques e territórios : Violaciones de derechos en el estado de Acre”, uma denúncia contundente das graves violações de direitos perpetradas pelo governo do Acre contra povos indígenas e comunidades tradicionais em nome da chamada “economia verde”, que resulta na “financeirização da natureza” ou seja, a financeirização da própria vida.
Assista e entenda o que é e as terríveis consequências causadas:
CINEMATECA DIÁLOGOS DO SUL/SABURO AKAMINE NETO
Mais do que uma cinemateca um instrumento de difusão cultural!
CREC/CENTRO RIOCLARENSE DE ESTUDOS CINEMATOGRÁFICOS
30 Anos de Cineclubismo em Defesa dos Direitos do Público
REDE CIDADE LIVRE/COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA
15 Anos Democratizando as Comunicações

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

PARA QUE NÃO NOS ESQUEÇAMOS: ATÉ AGORA NADA FOI FEITO E AS AGRESSÕES AO CIMI ACRE CONTINUAM

Apelo para denunciar violência praticada contra o CIMI, uma organização de apoio aos povos indigenas no Acre. Acre é o principal programa que recebe financiamento do fundo 

‘REDD Early Movers’

Ministro Dr. Gerd Müller 
Bundesministerium für wirtschaftliche
Zusammenarbeit und Entwicklung (BMZ)  
Stresemannstraße 94 
10963 Berlin
Ministra Dr. Barbara Hendricks
Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz, 
Bau und Reaktorsicherheit (BMUB) 
Stresemannstraße 128 – 130
10117 Berlin
Prezada Ministra Hendricks,
Prezado Ministro Müller,
Estamos nos dirigindo aos senhores em função de uma preocupação com a situação de colegas do CIMI-AO no Acre, o Conselho Indigenista Missionário, um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O CIMI no Acre tem sido alvo de ataques e ameaças que resultaram em duas invasões do seu escritório regional em Rio Branco em menos de um mês. Os membros da entidade recebem ameaças constantes e enfrentam intimidações. Desde sua criação em 1972, o CIMI não só tem se tornado uma organização respeitada no Brasil e internacionalmente, mas também tem se transformada numa das principais organizações no Brasil que se dedica a exigir o respeito aos direitos constitucionalmente garantidos dos povos indígenas em todo o país.
O escritório regional na Amazônia Ocidental do CIMI (CIMI-AO), em Rio Branco, Acre, é um dos 11 escritórios regionais do CIMI no Brasil. No Acre, o CIMI tem apoiado os povos indígenas que enfrentam interesses de fazendeiros e madeireiros que invadem seus territórios e deixam para trás devastação e destruição de floresta. Estes mesmos povos são testemunhas da indiferença em relação ao desmatamento e à violação dos seus direitos por parte das instituições governamentais.
Em 2013, métodos semelhantes e atos de violência, como esses que ocorrem agora contra CIMI-AO, foram usados contra a Comissão Pastoral da Terra (CPT). A CPT apoia camponeses que defendem o direito as suas terras e suas formas de sobrevivência, com muitos conflitos também em torno da destruição florestal para criar gado e extrair madeira. Até o momento, nada foi feito pelas instituições governamentais para investigar de forma séria e punir os responsáveis, nem pelos atos de violência contra o CPT, nem pelas invasões e ameaças contra CIMI-AO nestas últimas semanas, apesar das denúncias feitas pelas próprias organizações e também por organizações de apoio a nível nacional e internacional.
Nós pedimos que os senhores demandem ao governo do Acre ações imediatas. O governo deve mostrar de forma inequívoca que não tolera este tipo de violência contra organizações da sociedade civil no seu estado e contra aqueles que se levantam para defender os direitos a seus territórios. As instituições do Estado devem investigar e punir aqueles que são responsáveis pelos atos de violência.
Estamos fazendo este apelo em especial ao governo Alemão porque através do programa ´REDD Early Movers´, administrado pelo Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), ele está ajudando o estado do Acre com mais de EUR 15 milhões, com financiamento adicional do ministério de cooperação econômico, BMZ, também ao estado do Acre. O financiamento do ´REDD Early Movers´ para 2014 tem o objetivo de apoiar programas em beneficio de povos indígenas em particular. Nós perguntamos: Como povos indígenas que dependem das florestas para realizar seu modo de vida podem se sentir seguros em realizar ações para combater o desmatamento e destruição de seus territórios quando eles e sua principal organização de apoio estão enfrentando estas ameaças e violência praticadas contra eles?
Pior ainda quando esta violência ocorre e aqueles afetados não podem confiar em que as autoridades estatais entrem em ação para prevenir mais violência contra aqueles que buscam parar o desmatamento e/ou demandar que os direitos dos povos indígenas sejam respeitados e suas terras demarcadas. Num contexto como este, o REDD e o programa do governo alemão – REDD Early Movers -, se transforma numa farsa.
Nós fazemos este apelo para que os senhores se juntem a nós e solicitem ação imediata por parte do governo do Acre, que deveria publicamente denunciar a violência contra os defensores das florestas do Acre. As autoridades competentes deveriam imediatamente iniciar uma investigação profunda sobre as invasões e ameaças contra os membros do CIMI-AO. Ao mesmo tempo, pedimos que os senhores cobrem da Ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, medidas urgentes do Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos no sentido de garantir segurança ao CIMI e sua equipe no Acre, sem descuidar da investigação dos atentados noticiados nesta carta.
Solicitamos que os senhores nos mantenham informados sobre as medidas que irão tomar para assegurar que a violência contra CIMI e os povos indígenas que a organização apoia nas suas lutas por justiça e demarcação de seus territórios no Acre sejam inteiramente investigadas. Aqueles que são responsáveis devem ser punidos por seus atos de violência e intimidação.
Socializaremos nesta Carta Aberta dirigida aos senhores com o CIMI e outras organizações no Acre que estarão mobilizadas em solidariedade com o CIMI-AO em frente ao escritório da organização em Rio Branco nesta 6ª-feira, 17 de outubro de 2013.
Assumimos a responsabilidade de manter os membros do CIMI informados sobre sua resposta.
Contato da ministra Ideli Salvatti, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República,
Tel:  +55 (61) 2027-3106 / 3536        Email: direitoshumanos@sdh.gov.br

Atenciosamente,
Winfridus Overbeek, World Rainforest Movement


 Endorsed by:
Arbeitsgemeinschaft Regenwald und Artenschutz (ARA)Deutschland
Infoe – Institut für Ökologie und Aktions-Ethnologie e.V.Deutschland
denkhausbremen e.V.Deutschland
Forum Umwelt & EntwicklungDeutschland
Pro RegenwaldDeutschland
Rettet den RegenwaldDeutschland
urgewaldDeutschland
FDCLDeutschland
Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem FronteirasBrasilien
Coordenação da Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)Brasilien
Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia  (CEPEDES)Brasilien
Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo  (CLASP)Brasilien
Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)Brasilien
Conselho de Missão Entre Povos Indígenas (COMIN) -Assessoria Acre Sul do AmazonasBrasilien
FASE AmazôniaBrasilien
Fórum da Amazônia Oriental  (FAOR)Brasilien
Instituto Politicas Alternativas para o Cone Sul (PACS)Brasilien
Jubileu Sul BrasilBrasilien
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)Brasilien
Movimento Mulheres pela P@Z!Brasilien
Movimento de Luta pela Terra (MLT)Brasilien
Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia  Ocidental (NUPESDAO-UFAC)Brasilien
Programa de  Extensão Centro de Referência em Direitos Humanos e territoriais na tríplice Fronteira Brasil, Peru /Bolívia (UFAC)Brasilien
Terra de DireitosBrasilien
Plataforma Interamericana de Derechos Humanos, Democracia y Desarrollo (PIDHDD Regional)International
Carbon Trade WatchInternational
GRAINInternational
Movimiento Mesoamericano contra el Modelo extractivo Minero
No REDD in Africa Network (NRAN)International
REDD-MonitorInternational
Redmanglar InternacionalInternacional
Diálogo 2000 – Jubileo Sur ArgentinaArgentina
Instituto de Estudios sobre Desarrollo y Cooperación InternacionalBasque
Struggle to Economize Future Environment (SEFE)Cameroon
Common frontiersCanada
Colectivo VientoSurChile
Comisión Intereclesial Justicia y PazColombia
Coecoceiba – Amigos de la TierraCosta Rica
Acción EcológicaEcuador
Ecuador decideEcuador
Escuela de Pensamiento Ecologista -SaviaGuatemala
Coordinadora Guatemalteca por la Defensa de los Manglares y la Vida -CogmanglarGuatemala
Sustainable Development Institute (SDI)Liberia
Red Mexicano de Acción Frente al Libre Comércio (RMALC)Mexico
Justiça AmbientalMozambique
Landless Peoples MovementSouth Africa
Stichting Indianen in BrasilThe Netherlands
Transnational Institute (TNI)The Netherlands
Ecologistas en AcciónSpain
Observatorio de la Deuda en la Globalizacion (ODG)Spain
The Corner HouseUK
FERNUK
Global Justice Ecology ProjectUSA
Friends of the Earth-USUSA
 Sign-ons received after the letter was submitted
 KoBra – Kooperation Brasilien e.V.Germany
Friends of the Earth InternationalInternational
Núcleo Amigos da Terra – Friends of the EarthBrazil
Observatorio de Multinacionales en América Latina (OMAL)Pazcon DignidadSpain
PAPDAHaiti
Fórum Mudanças Climaticas e Justiça SocialBrazil
Red Latinoamericana contra los Monocultivos de ÁrbolesInternational
Grupo GuayubiraUruguay

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A industrialização da bioeconomia acarreta riscos para o clima, o ambiente e as pessoas


Mais de 119 organizações da sociedade civil de 40 países rejeitam o impacto de um crescimento exponencial da bioeconomia

Nos últimos anos, os governos atribuíram incentivos à substituição dos combustíveis fósseis por biomassa na produção de energia, com o objetivo de combater as alterações climáticas. De forma crescente, os governos estão também a considerar o incentivo a outros produtos elaborados a partir de biomateriais, designados de uma forma genérica de "bioeconomia".


A Plataforma para o Biofuturo, uma iniciativa proposta pelo governo brasileiro e lançada com o apoio de 20 países em 2016, é um exemplo. Contudo, um olhar mais atento sobre esta Plataforma mostra que a bioeconomia é uma forma simples de esconder um aumento significativo no uso de bioenergia, bem como outros "bioprodutos" de curta duração cujos impactos climáticos são tão prejudiciais para o clima quanto a bioenergia. [1]
A União Europeia e outros países (que até agora não assinaram a Plataforma para o Biofuturo) estão também a desenvolver estratégias de promoção da bioeconomia com o mesmo propósito. [2]

As organizações abaixo subscritoras estão preocupadas com o aumento no uso de bioenergia e outros bioprodutos de ciclo de vida curto (a chamada bioeconomia), que terá impactos negativos sobre o clima, os direitos humanos, a proteção da natureza e a transição para uma economia de baixo carbono.

As organizações subscritoras rejeitam a Plataforma para o Biofuturo e outras formass similares de promoção de bioenergia pelas razões abaixo descritas:

Prejudicial para o clima


Para cumprir o objetivo do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5ºC, a comunidade internacional deve estar focada na eliminação progressiva das emissões de gases com efeito de estufa e, simultaneamente, no aumento da quantidade de carbono que pode ser removida pelas florestas, prados e solos. Em oposição direta a isso, a Plataforma para o Biofuturo defende a transição dos setores da produção de energia, transporte e indústria para o uso de bioenergia e biomateriais. Isto ignora o estado atual da ciência – a queima de biomassa para a produção de energia emite mais emissões para a atmosfera do que a queima de carvão [3], ao passo que a produção e o consumo de biocombustíveis, bioplásticos ou outros biomateriais reduzem a quantidade de terrenos disponíveis para as culturas alimentares, conduzindo à desflorestação e outras conversões de usos da terra, o que contribui para as emissões de outros gases com efeito de estufa, como o óxido nitroso.

Para mitigar os efeitos mais prejudiciais das alterações climáticas, é necessário que os governos, as organizações da sociedade civil, as universidades e o setor privado trabalhem em conjunto para reduzir o consumo excessivo de energia e descarbonizar os setores de produção de energia, transporte e indústria - não permitindo apenas que aqueles que possuem mais recursos disponíveis prossigam em níveis de consumo excessivo, enquanto assumem o compromisso de fazer a transição para outros recursos que implicam emissões significativas de carbono.


Prejudicial para os direitos humanos

Uma bioeconomia de escala industrial aumentaria a procura por terrenos disponíveis para a produção de biomassa. Isso levaria à desflorestação e outras alterações no uso do solo em grande escala, o que teria impactos devastadores sobre as comunidades locais. Um estudo conservador sobre o potencial global de biomassa [4] evidencia que seria necessária a conversão de terrenos numa área superior à do território da Índia (386 milhões de hectares) para garantir o fornecimento de bioenergia em cinco por cento do uso global de energia. O uso de recursos associados com a bioeconomia previsto pela Plataforma para o Biofuturo exigiria terrenos adicionais para serem convertidos em bioprodutos. A hipótese subjacente é que a maior parte dos terrenos necessários para converter a economia baseada em combustível fóssil para a bioeconomia seria fornecida pelo Sul global. Mas a crescente procura por biocombustíveis e biomassa para aquecimento e produção de eletricidade já conduziu à apropriação de terrenos em grande escala e à expulsão de comunidades inteiras, além de reduzir o acesso a terrenos agrícolas, florestas e recursos hídricos [5]. O aumento da procura agravará estes impactos, sobretudo quando as florestas forem substituídas por plantações, aumentando o envenenamento por pesticidas e a violação dos direitos dos trabalhadores, e reduzindo a disponibilidade de água potável e a soberania alimentar. Além disso, o processamento e a queima de biomassa para a produção de energia são responsáveis pela emissão de poluentes tóxicos, com riscos acrescidos para a saúde humana.

Prejudicial para a natureza e a biodiversidade


Estamos no meio de uma crise de biodiversidade que será agravada pelas propostas da Plataforma para o Biofuturo que pretendem aumentar a procura por terrenos, água e florestas. A procura por óleo de palma e soja já está a acelerar a destruição de florestas em muitos países e a intensificação da agricultura (mais produtos químicos, menos terras em pousio) na Europa e na América do Norte, acelerando o declínio das populações de insetos e aves. [6] A procura por bioenergia já levou à destruição de florestas de elevada biodiversidade no sul dos Estados Unidos da América [7], nos Estados Bálticos [8] e em outros locais. À medida que as monoculturas avançam, a agrobiodiversidade é reduzida. As plantações para produzir bioplásticos e outros biomateriais só agravam estes problemas. É necessário reduzir a procura por madeira e culturas alimentares. Existe ainda um pressuposto de que a produção de bioprodutos dependerá fortemente do uso de culturas, árvores e micróbios geneticamente modificados, os quais representam sérios riscos para o ambiente e a saúde humana.

Prejudicial para uma transição justa a partir de uma economia baseada em combustíveis fósseis


A visão da Plataforma para o Biofuturo desvia a atenção e os recursos de soluções reais e comprovadas para mitigar as alterações climáticas e consolida as injustiças energéticas, sociais e económicas em todo o mundo. Esta plataforma encoraja subsídios adicionais para o uso de bioenergia em detrimento de outras energias renováveis de comprovadas emissões de baixo carbono, como a energia eólica e solar, as quais devem aumentar de escala com efeito imediato. A “bioenergia moderna” (biocombustíveis e biomassa destinada para aquecimento e produção de eletricidade) promovida pela Plataforma para o Biofuturo é utilizada principalmente pelo Norte global e por indústrias consumidoras de energia que deveriam estar focadas na melhoria da sua eficiência. O recurso a fontes de bioenergia é um mecanismo de escape para estas empresas, que não querem assumir a realidade dos seus consumos energéticos excessivos.