segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eleição de Macri, populismo fiscal e político e nova onda de conservadorismo, o que isso tem em comum?

Charge publicada no Blog do Noblat: Populismo Agonizante

O empresário Mauricio Macri, 56 anos, é o novo presidente da Argentina. Atual prefeito de Buenos Aires, ele é ex-presidente do clube Boca Juniors e líder de uma frente de centro-direita. Líder da coalizão Cambiemos, o novo presidente irá romper um ciclo de 12 anos de presidentes de centro-esquerda e com o propósito, como já o diz o nome de sua coalizão, mudar tudo. Mas o que é esse "mudar tudo"?

Certa vez Macri disse e prometeu:  “deixar de olhar para trás e acabar com a questão dos direitos humanos”. Seria essa a grande mudança? ou seria a retomada ainda mais aguda do neoliberalismo? Sim mais aguda por que nos 12 anos de Kirchnerismo, que começou com Néstor Kirchner em 2003 e continuou com sua mulher, Cristina Kirchner, em 2007  a política neoliberal não foi alterada, apenas ganhou um avermelhamento populista - lá e cá.

Na verdade o que elegeu Macri foi o próprio Kirchnerismo que usou e abusou do populismo político e principalmente do populismo fiscal, traduzido em "programas" de distribuição de renda e isenções. Há algo de semelhante ao Lulismo aqui? Lá como cá, seguiram pedalando para se manterem no poder e isso levou à exaustão o modelo. É aí que nasce e reside a maior preocupação: em nome do saneamento econômico, retroceder em direitos.

Também aí vemos uma grande semelhança. A onda conservadora que responsabiliza os menos favorecido pela crise, propõe, lá e cá, o fim dos direitos sociais. Apressam-se em divulgar a falência da Venezuela como caminho sem volta a todos os demais países cujos dirigentes, líderes carismáticos e populistas (Hugo Chaves, Lula, Evo Morales, Hollanta Humala, Rafael Correa), seguirem trilhando por este caminho, cujo final, segundo eles, está um abismo pronto para acolher toda a América do Sul.

Os governos populistas se valeram e se valem das conquistas históricas de direitos para apresentar (esses direitos) como se fossem presentes dos governos. É essa irresponsabilidade sociopolítica que, aprofundada pelo populismo fiscal e econômico, que está levando estes mesmos governos a cavarem a própria cova. Mas quando cavam sua própria cova, transferem ou tentam transferir para os empobrecidos e menos favorecidos a responsabilidade.

Recentemente em entrevista ao jornalista  Roberto D'avila lula disse que por causa do avanço social propositado pelo seu governo e de Dilma, assim como o aumento real do salário dos trabalhadores, ele chegou "a se sentir um dinamarquês". Essa expressão revela ainda um outro aspecto do populismo, que é o cinismo e o deboche.

Esses populistas tentam ainda destruir a esquerda ao se apresentarem como se esquerda fossem. Neste ponto cabe esclarecer que o que está em crise e em decadência não é a esquerda mas o populismo irresponsável que na prática nunca fez enfrentamento ao modelo neoliberal. Ao contrário, todos os governos populistas andam de braços dados com a elite financeira. Para os bancos e meus amiguinhos, tudo. Também por isso esses governos estão envolvidos descaradamente em corrupção profunda que revela um autoritarismo antidemocrático capaz de evitar a investigação, apuração e consequente condenação dos líderes populistas.

Talvez não seja mera coincidência o fato de  Macri ser ex-presidente do clube Boca Juniors, já que o futebol, também comum a toda a América do Sul, está sendo alvo de sérias denúncias de corrupção. O fato é que a corrupção não é exclusividade de ninguém, mas é absolutamente favorecida pelo sistema financeiro. Homens corruptos a serviço de um sistema igualmente corrupto e corruptor.

A eleição de Macri aponta para a retomada do poder por parte dos conservadores neoliberais que não estão tomando o poder "popular" mas o poder populista de líderes que jamais foram esquerda, pelo menos enquanto governaram, já que utilizaram a mesma receita neoliberal. A América do Sul não está dividida entre direita e esquerda; conservadores e progressistas...  mas está dividida entre neoliberais privados e neoliberais do estado, estes últimos com a pecha de populistas.

A realidade mostra que enquanto estes grupos neoliberais criam a falsa dicotomia e semeiam o ódio de ambos os lados, a esquerda não populista segue defendendo os direitos conquistados e segue avançando na luta por mais direitos. Todos esses neoliberais (tanto privados ou estatais) estão juntos quando a questão é retirar direitos e responsabilizar o empobrecido pela crise. Nunca na história deste país, parafraseando o ex-presidente Lula representante mor deste populismo irresponsável, se caçou tanto os direitos políticos, socioambientais, trabalhistas e econômicos. As constituições são facilmente rasgadas e refeitas segundo os interesses e ainda tem a devassidão, o deboche, de se dizerem democráticos.

Para concluir este post valho-me de uma frase de Albert Camus:

“O futuro é a única propriedade que os senhores concedem de boa vontade aos escravos.” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário