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Foto Lindomar Padilha |
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Foto Lindomar Padilha |
Amigas e amigos, desde o ano passado suspendi temporariamente minhas costumeiras publicações neste blog por uma simples razão: o país estava (penso que ainda está) ignorantemente mergulhado em fanatismos que segavam as pessoas e lhes roubavam o pouco de racionalidade e inteligência que ainda lhes restavam. Perdi supostos amigos e ganhei uma expressiva coleção de inimigos que não me pouparam em nada. Então, ponderando sobre a lei que me orienta: "amai-vos uns aos outros", decidi suspender minhas publicações sem contudo recuar em minhas convicções.
Agora volto a publicar e já começo com o "ponto de vista" do WRM em seu Boletím WRM 261 16 Junho 2022, que resume muito bem os conteúdos sobre os quais deixei de publicar no ano passado, mas que agora os retomarei com toda ênfase necessária. Agradeço aos amigos e amigas que permaneceram fiéis, não a mim, mas às causas justas como: Não a mercantilização e financeirização da natureza; não às falsas soluções como PSA, REDD +, SbN; Defesa da causa indígena (e dos povos mais vulneráveis), Defesa do povo Palestino, especialmente em favor das mulheres palestinas; Defesa da natureza de acordo com uma ecologia integral.
Vamos então ao ponto:
São as interconexões e dependências entre colonialismo, racismo, patriarcado e exploração de classe que criam as condições para a crise climática. Portanto, enfrentar o caos climático é enfrentar as relações de poder desiguais em que se baseia o capitalismo, com sua dependência dos combustíveis fósseis.
Portel, Pará, Brasil. Foto: WRM
“Eu entendo também que as mulheres, apesar de todos os inconvenientes que temos no dia a dia, também são capazes de sonhar, de acreditar que o que parecia tão impossível poderia ser possível se todos nos organizássemos e lutássemos juntos.”
(1) Global witness, IPCC clarion call puts spotlight on fossil fuel industry’s hypocrisy, 2022,
(2) Veja, por exemplo, WRM, 15 anos de REDD: Um esquema corrompido em sua essência, 2022, Soluções baseadas na natureza: ocultando um grande roubo de terras, 2021,
(3) FAO, 15th World Forestry Congress, The Seoul Forest Declaration, Maio de 2022.
(4) WRM, Press release: Stop the Racist Conservation Model!, May 2022,
NOTA PÚBLICA
O Conselho Indigenista Missionário-
CIMI, Regional Amazônia Ocidental, órgão vinculado à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, CNBB, vem a público manifestar irrestrito apoio às recentes
ações do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Ministério Público
Estadual e Polícia Civil, no sentido de fazer cessar a prática criminosa e
recorrente de retenção dos cartões de benefícios de indígenas por terceiros, notadamente
comerciantes e mesmo políticos, como o caso da vereadora do município de Feijó
recentemente presa.
A prática de retenção dos cartões
remete ainda ao tempo dos barracões, na política de aviamento. Tanto é assim,
que os indígenas denominam os criminosos que se apropriam de seus cartões de
“patrões”. Patões aos quais sempre estão
devendo. Além da dívida impagável, são obrigados a seguir comprando no comércio
do patrão e, não raras vezes, são obrigados a aceitarem mercadorias inclusive
com prazo de validade expirado.
Resulta ainda dessa prática
criminosa, o aumento do preconceito contra os indígenas, já que não tendo
dinheiro para a compra de mercadorias e combustíveis para o retorno às aldeias,
são obrigados a permanecerem por mais tempo nas cidades e em condições
absolutamente desumanas. Várias vezes alguns desses indígenas se veem na
obrigação de buscar restos de comida nos lixões das cidades, despertando ainda
mais a ira dos preconceituosos que se recusam a enxergar e reconhecer que, se
os indígenas estão naquelas situações é justamente porque os patrões retiveram
seus cartões de benefício.
Nos custa muito ver crianças
desnutridas e mesmo levadas a óbito em decorrência dessa prática criminosa.
Observamos ainda o aumento da violência contra estes povos e também o aumento
dos casos de suicídio, tudo agravado por essa prática comum, mas criminosa.
Há muitos anos o Cimi vem denunciando essas práticas nas diversas cidades do Acre e Sul do Amazonas, contudo as respostas sempre foram tímidas. Esperamos que dessa vez seja para valer e que ações como a realizada recentemente em Feijó se repitam em todos os municípios para que, se não cessar, pelo menos venha a inibir a ação desses criminosos.
Rio Branco, 09
de agosto de 2022.
Dia Internacional dos Povos Indígenas
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO –
CIMI
REGIONAL AMAZÔNIA OCIDENTAL
Chegamos à conclusão que estes projetos da economia verde, ao invés de solucionar, agravam as ameaças sobre nossos territórios e a própria crise climática e ambiental. Trata-se na verdade de esquemas de pagar para poluir, de gerar pretextos para viabilizar a continuada queima de combustíveis fósseis e o continuado crescimento econômico capitalista.
Nos, integrantes dos
povos Manchineri, Apurinã, Katukina Noke Kuí, Jamamadí, Jaminawa, Sharanawa,
Huni Kuim, Shanenawa, Ashaninka, Madiha,
Kuntanawa, Jaminawa-Arara, Jaminawa do Igarapé Preto, Marubo, Arara, Apolima-Arara,
Kanoé Rondonia, Oro Wari Rondonia, Bororo, Nukini, Nawa, agricultores/as,
trabalhadores/as rurais extrativistas, representantes das organizações Conselho
Indigenista Missionário (CIMI), Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
(WRM), Amigos da Terra Brasil, Sempre Viva organização Feminista (SoF), Marcha
Mundial das Mulheres (MMM), Movimento dos Trabalhadores/as Sem Terra (MST-RO),
Movimento dos Pequenos Agricultores/as (MPA – RO), reunidos nos dias 11 e 12 de
junho no Centro de Treinamento Diocesano, na cidade de Cruzeiro do Sul no Acre,
no evento Golpe Verde na Amazônia, identificamos as diversas ameaças que afetam
nossos territórios e nossa sobrevivência cultural, social e física:
Chegamos à conclusão
que estes projetos da economia verde, ao invés de solucionar, agravam as
ameaças sobre nossos territórios e a própria crise climática e ambiental.
Trata-se na verdade de esquemas de pagar para poluir, de gerar pretextos para
viabilizar a continuada queima de combustíveis fósseis e o continuado
crescimento econômico capitalista. Os esquemas de compensação climática e
ambiental, de fato, andam de mãos dadas com a destruição exercida pelos
megaprojetos e invasões diretas em nossos territórios. As falsas soluções,
assim como os mercados de carbono, prosperam na medida em que ameaças e
violência aumentam.
Diante estas
constatações, seguiremos denunciando todos os projetos que atentam contra a
autonomia dos povos da floresta, seus territórios e a própria vida.
Nos
reconhecemos como parte do grande organismo vivo que é a terra. Os diversos
ataques que o capitalismo lança em ritmo acelerado sobre as florestas e seus
povos agem como um vírus que ataca este organismo. Na medida em que este vírus
se espalha, se transforma, assume novas formas e se camufla. Porém, a nossa
luta, nossas rezas, rituais e cantos de cura, também se tornam cada vez mais
fortes a medida em que nos unimos para enfrentar esses projetos de morte.
Como povos da floresta,
somos a voz que cura e se levanta para defender a Mae Terra.
Cruzeiro
do Sul, Acre , 12 de Junho de 2022.
Documento
Final do Seminário Binacional Brasil/Peru
Amazônia: Sociobiodiversidade, resistência ao modelo desenvolvimentista
predatório
Nós, lideranças dos povos indígenas, Apolima Arara,
Jaminawa do Igarapé Preto, Inũkuĩni, Huni Kui, Nokekoĩ, Ashaninka, Shãwãdawa, Nawa,
Kutanawa, Shanenawa, Madija, Apurinã e Jamamadi, do Juruá, e Marubo, do Vale do
Javari.
Reunidos entre 24 e 26 de maio de 2022, após análise
do projeto de construção da estrada Cruzeiro do Sul-Pucallpa e conversa em
conjunto entre nós e com especialistas, estamos por meio deste demonstrando nosso
descontentamento e repúdio ao projeto acima citado.
Salientando o fato da ausência de Consulta Prévia, Livre
e Informada, sobre quaisquer uma das obras presentes no plano, para com os
povos indígenas, o que descredibiliza e deslegitima tais ações presentes em território
indígenas.
Estamos cientes de que a construção da estrada se
encontra dentro de um conjunto de modelo desenvolvimentista predatório
incluindo exploração de minério, madeira, petróleo e gás.
Situada na região, com a maior bacia do mundo de água
doce de superfície, há terras indígenas ainda não demarcadas e a presença de
povos em isolamento voluntário que seguem sendo ignorados e negados.
Lembrando ainda que não foram realizados Estudos de
Impacto Ambiental, necessários a todos os projetos que afetam o meio ambiente e
as populações locais.
Além de todos os malefícios decorrentes da
construção da estrada, vulgos “ramais” adjuntos que acabam por se tornarem
portas de entrada para desmatamentos, ocupações ilegais e atividades ilícitas.
Por tudo isso, nós, lideranças dos povos indígenas,
rejeitamos o projeto de estrada Cruzeiro do Sul-Pucallpa e também o Projeto de
Lei 6024/2019, que visa a redução da Reserva Extrativista Chico Mendes e reclassifica
o Parque Nacional da Serra do Divisor para Área de Proteção Ambiental.
Cruzeiro
do Sul – AC, 26 de maio de 2022