Elder Andrade de Paula[1]
Fonte: fotografia publicada em :http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/09/07/nucleo-de-campanha-de-marina-une-pessebistas-e-ex-figuroes-do-pt-e-psdb.htm
Ao
deparar-me com essa fotografia em que Marina Silva escuta Fabio Feldman (SP) lembrei-me imediatamente do livro de Frantz Fanon intitulado Pele negra máscaras brancas. Particularmente da introdução feita por Samir
Amin em uma edição de 2009 intitulada Piel negra máscaras blancas (Ediciones
Akal, Madrid, España). Ao tratar das relações entre colonialismo interno e
externo, Samir Amin afirmava o seguinte: “Os fenômenos de colonialismo interno
se produzem pelas combinações particulares da colonização da população, por uma
parte, e a lógica da expansão imperialista, por outra” (Amin, 2009; 5).
Considero Marina Silva uma
representação de “tipo ideal” desse amalgama de colonialismos interno e
externo. O circulo de poder que a envolve opera nessa dupla dimensão. Deve-se
considerar que sua formação foi fortemente influenciada pelo ambiente politico
e ideológico que permeou a “modernização”
capitalista no estado do Acre nas quatro ultimas décadas. Após a expansão
do colonialismo interno capitaneado pela ditadura militar aconteceu a transição
para um capitalismo verde que reciclou o colonialismo externo, valendo-se,
sobretudo, da instrumentalização dos conceitos de “mudanças climáticas”,
“desenvolvimento sustentável” e “governança ambiental” como versículos da nova catequese da “sociedade civil”. O
indevido uso da imagem de Chico Mendes
tem servido para legitimar essa “pregação”.
A trajetória de Marina
deve ser entendida nesse contexto. Num primeiro momento, na condição de atingida
diretamente pela expansão colonial interna, participa das lutas de resistência
como militante da esquerda revolucionária (Partido Revolucionário
Comunista-PRC).Naquele período, além desse tema do colonialismo interno não
aparecer como relevante em boa parte dessa esquerda, ele acabava sendo
reproduzido nas suas práticas politicas. As relações com a “intelligentsia” do
Sudeste e Sul do Brasil eram também marcadas por certo sentimento de
inferiorizacão. Em síntese: no momento em que teve maior proximidade com o
pensamento crítico, Marina não teve a oportunidade de estudar e compreender o
colonialismo interno como fenômeno marcante da formação social dos países
periféricos em especial os latino americanos. Ou o que pode ser ainda pior:
assimilou pela esquerda o que potencializaria posteriormente pela direita.
No momento seguinte, após
dois mandatos parlamentares (vereadora de Rio Branco e deputada estadual),
aproximou-se do poder oligárquico regional capitaneado por Jorge Viana e chegou
ao Senado (1995) onde completou sua adesão ao establishment. Na
condição de senadora e em seguida na de ministra do Meio Ambiente transitou com
mais intensidade e desenvoltura em redes transnacionais vinculadas aos
“negócios ambientais” e ao mundo das finanças, bem como aquelas ligadas à
esfera religiosa. A conversão ao Neopentecostalismo parece decisiva na assunção
do papel que passou a cumprir na reprodução do velho poder colonial.
No exercício do
primeiro mandato de senadora (1995-2002), o seu gabinete teve papel ativo nas
estratégias de atuação do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais(PPG7)
junto a “sociedade civil” na Amazônia. O seu marido, Fabio Vaz, foi coordenador
(1996-99) do Grupo de Trabalho Amazônia (GTA) , ONG criada por iniciativa do
Banco Mundial para servir de mediadora, como representante da “sociedade civil” nesse Programa gerenciado
pelo referido Banco.
Entre outros feitos, o
GTA articulado com grandes ONGs ambientalistas internacionais, atuou
decisivamente na cooptação do Conselho
Nacional dos Seringueiros e outras centenas de organizações sindicais e não
sindicais atuantes na esfera da sociedade civil. Os resultados dessa política são bastante
conhecidos, conforme mostramos em diversas publicações, como a indicada no link
a seguir http://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/viewArticle/1391.
Nos seis anos que
ocupou o cargo de ministra do Meio Ambiente, Marina não mediu esforços para
institucionalizar a agenda do capitalismo verde. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) foi transformado
em uma “trincheira institucional” por grandes ONGs internacionais, como a WWF e
promoveu avanços consideráveis na atualização dos colonialismos interno e
externo na Amazônia, como ilustra a arquitetura do Plano Amazônia Sustentável
(PAS), acalentado carinhosamente por Marina como “sua criação”.
Sob a gestão de Marina
no MMA, os servidores do IBAMA conheceram de perto sua “nova política”, quando
realizaram uma greve contra o desmonte do órgão levado a cabo via Medida Provisória.
As intenções com essa medida foram claramente facilitar o licenciamento para os
grandes projetos e potencializar as politicas de privatização dos bens comuns.O
caso mais emblemático dessa privatização dos bens comuns foi a iniciativa de
encaminhar para o Congresso e aprovar em tempo recorde (um ano)a Lei 11284/2006
que instituiu o regime de concessão de florestas públicas para fins de
exploração privada. Estamos tratando de algo em torno de 50 milhões de hectares
de florestas na Amazônia.
Além desse presente para as corporações
ligadas ao comercio internacional de madeiras tropicais, incentivou-se a
exploração madeireira dita “sustentável” com o argumento de que combateria a “exploração
ilegal”. Bom para a WWF que, em seis anos, teve o salto da área de exploração
certificada com o selo do FSC (vinculado a WWF) de aproximadamente 400 mil para
3 milhões de hectares de florestas (Relatório de Gestão do MMA 2003-2006; p.
54). Na mesma página do referido Relatório informa-se que as “florestas plantadas”
(nome pomposo para designar monocultivo de eucalipto) saltaram de 300 mil para
600 mil há/ano. Basta.
O que não foi possível
concretizar no MMA avançou bastante no estado do Acre, graças ao empenho das oligarquias
aliadas de Marina e também de seu marido Fabio Vaz que participou do “governo
da Frente Popular” até agosto do corrente. Nesse estado – apresentado por
grandes ONGs ambientalistas internacionais como “modelo de economia verde”– está
em curso um processo acelerado de desregulamentação para intensificar a mercantilização
e financeirização da natureza. Os resultados preliminares dessa mega espoliação
podem ser vistos no Dossiê: O Acre que
os mercadores da natureza escondem http://www.cimi.org.br/pub/Rio20/Dossie-ACRE.pdf
Enfim, procuramos
mostrar que Marina não é uma incógnita como insistem em repetir os grandes
meios de comunicação. Eles a tratam
assim não por “desconhecimento” mas por convencimento de sua eficácia para
ocultar os interesses das grandes
corporações capitalistas envolvidas também na sua candidatura. Marina, com essa
trajetória, identificada com a matriz do capitalismo verde e com o domínio
colonial subjacente, se for eleita tentará
conduzir as políticas de governo de forma mais submissa ao imperialismo
comandado pelos Estados Unidos da América e seus aliados. Tudo indica que as
repercussões negativas desse fato nas lutas emancipatórias no Brasil e na
América Latina seriam muito fortes....
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