Quando falamos em
mercado, seja ele de que base for, estamos falando de uma relação
produção/consumo que considera os meios entre um e outro. Estes meios, quase
sempre são entendidos como regularizadores. Entretanto, não nos propomos aqui a
falar do mercado em si e seus mecanismos. Pretendemos apenas, e
introdutivamente, fazermos uma leitura política dessa relação considerando os
meios intermediários, de regularização, em relação aos bens comuns, também
chamados de bens naturais, e ao futuro do planeta e até mesmo do próprio
mercado.
Basicamente no último
século, com o crescimento populacional entre outros fatores, sendo o maior
deles a própria sanha capitalista, criou-se a necessidade de aumento da
produtividade da indústria mundial. Os donos das indústrias, movidos por essa
sanha capitalista, tomaram a decisão de produzir e forçar o consumo atacando
ferozmente o meio ambiente global, fazendo com que os índices de poluição em
nosso planeta crescessem exponencialmente. Esse aumento da poluição, portanto,
acompanhou o crescimento da indústria mundial, tornando ainda mais agudo o
ciclo vicioso entre produtividade, para cumprir a expectativa gerada para o
consumo, e destruição dos mais variados eco sistemas de nosso planeta.
Ora se é assim, então
podemos dizer que é o próprio mercado que se “auto regulamenta”? Portanto, é o
próprio mercado que decidirá sobre nosso futuro? Preocupados com os rumos
tomados e na tentativa de “regulamentar” os ataques aos bens comuns por parte
das indústrias e do mercado capitalista como um todo, foram criados diversos
mecanismos principalmente voltados para o controle da poluição e emissões de
gazes que contribuem com o chamado “efeito estufa”. A esses mecanismos, quando
aplicados, passou-se a chamar de “sustentabilidade”. Ou seja, adotando tais
mecanismos, o mercado capitalista poderá seguir avançando sobre os bens comuns.
Na perspectiva de futuro, portanto, falamos apenas no futuro do próprio mercado
capitalista, ainda que isso implique no extermínio de povos e comunidades, tão
pouco tem-se a preocupação com os territórios tradicionais.
Um marco para a
regulamentação e definição de futuro para o mercado, foi a convenção do
protocolo de Kyoto em 1997, no Japão. A importância desta convenção, dentre
outros, está o estabelecimento de um mecanismo que visa o incentivo a
diminuição da emissão de poluentes por meio dos Créditos de Carbono. Ou seja,
para diminuírem a poluição que as próprias empresas geram, estas deveriam obter
daí ainda mais lucros. Assim, a redução das emissões passa a ter valor
econômico tanto para as empresas quanto para os países sede dessas. Um mercado
aparente de ganha – ganha.
A participação no
mercado da diminuição de emissão de poluentes é possível, segundo o protocolo,
de duas formas: ou pelos próprios países, comprometidos com a redução, ou ainda
pelas empresas e particulares. A característica, no entanto, é a mesma: geração
de créditos para o mercado. Uma vez emitidos, esses créditos seguirão sendo
comercializados. Isso quer dizer que um mesmo crédito poderá beneficiar várias
empresas ou ainda a mesma empresa várias vezes. E quem definirá quando e como
estes créditos serão negociados? O próprio mercado e, não nos esqueçamos que o
consumo é a base do mercado. Sendo assim, esses créditos passam a ser uma
espécie de salvo condutos, uma licença para continuar poluindo. Ainda pior,
sendo o mercado o próprio controlador e sendo os créditos comercializáveis nas
bolsas de valores e futuro, os bens naturais comuns é, em última análise, a
garantia – ou “sustentabilidade” deste mercado futuro.
Por fim, não podemos
olhar para este mercado atual como se ele se bastasse e fechasse em si mesmo.
Não. Ele já está se dando em relação ao futuro. As destruições de hoje são na
verdade os investimentos do futuro para estes países e empresas. Deste modo, só
nos será possível fazer o enfrentamento futuro se o fizermos agora, no
presente. Nossa ação no presente enfrentará e fará o contra ponto no mercado
futuro e, queira Deus, garantirá o futuro nosso e de nosso planeta.
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