quarta-feira, 22 de abril de 2015

Padilha: O presente mercado futuro

Quando falamos em mercado, seja ele de que base for, estamos falando de uma relação produção/consumo que considera os meios entre um e outro. Estes meios, quase sempre são entendidos como regularizadores. Entretanto, não nos propomos aqui a falar do mercado em si e seus mecanismos. Pretendemos apenas, e introdutivamente, fazermos uma leitura política dessa relação considerando os meios intermediários, de regularização, em relação aos bens comuns, também chamados de bens naturais, e ao futuro do planeta e até mesmo do próprio mercado.

Basicamente no último século, com o crescimento populacional entre outros fatores, sendo o maior deles a própria sanha capitalista, criou-se a necessidade de aumento da produtividade da indústria mundial. Os donos das indústrias, movidos por essa sanha capitalista, tomaram a decisão de produzir e forçar o consumo atacando ferozmente o meio ambiente global, fazendo com que os índices de poluição em nosso planeta crescessem exponencialmente. Esse aumento da poluição, portanto, acompanhou o crescimento da indústria mundial, tornando ainda mais agudo o ciclo vicioso entre produtividade, para cumprir a expectativa gerada para o consumo, e destruição dos mais variados eco sistemas de nosso planeta.

Ora se é assim, então podemos dizer que é o próprio mercado que se “auto regulamenta”? Portanto, é o próprio mercado que decidirá sobre nosso futuro? Preocupados com os rumos tomados e na tentativa de “regulamentar” os ataques aos bens comuns por parte das indústrias e do mercado capitalista como um todo, foram criados diversos mecanismos principalmente voltados para o controle da poluição e emissões de gazes que contribuem com o chamado “efeito estufa”. A esses mecanismos, quando aplicados, passou-se a chamar de “sustentabilidade”. Ou seja, adotando tais mecanismos, o mercado capitalista poderá seguir avançando sobre os bens comuns. Na perspectiva de futuro, portanto, falamos apenas no futuro do próprio mercado capitalista, ainda que isso implique no extermínio de povos e comunidades, tão pouco tem-se a preocupação com os territórios tradicionais.

Um marco para a regulamentação e definição de futuro para o mercado, foi a convenção do protocolo de Kyoto em 1997, no Japão. A importância desta convenção, dentre outros, está o estabelecimento de um mecanismo que visa o incentivo a diminuição da emissão de poluentes por meio dos Créditos de Carbono. Ou seja, para diminuírem a poluição que as próprias empresas geram, estas deveriam obter daí ainda mais lucros. Assim, a redução das emissões passa a ter valor econômico tanto para as empresas quanto para os países sede dessas. Um mercado aparente de ganha – ganha.

A participação no mercado da diminuição de emissão de poluentes é possível, segundo o protocolo, de duas formas: ou pelos próprios países, comprometidos com a redução, ou ainda pelas empresas e particulares. A característica, no entanto, é a mesma: geração de créditos para o mercado. Uma vez emitidos, esses créditos seguirão sendo comercializados. Isso quer dizer que um mesmo crédito poderá beneficiar várias empresas ou ainda a mesma empresa várias vezes. E quem definirá quando e como estes créditos serão negociados? O próprio mercado e, não nos esqueçamos que o consumo é a base do mercado. Sendo assim, esses créditos passam a ser uma espécie de salvo condutos, uma licença para continuar poluindo. Ainda pior, sendo o mercado o próprio controlador e sendo os créditos comercializáveis nas bolsas de valores e futuro, os bens naturais comuns é, em última análise, a garantia – ou “sustentabilidade” deste mercado futuro.

Por fim, não podemos olhar para este mercado atual como se ele se bastasse e fechasse em si mesmo. Não. Ele já está se dando em relação ao futuro. As destruições de hoje são na verdade os investimentos do futuro para estes países e empresas. Deste modo, só nos será possível fazer o enfrentamento futuro se o fizermos agora, no presente. Nossa ação no presente enfrentará e fará o contra ponto no mercado futuro e, queira Deus, garantirá o futuro nosso e de nosso planeta.


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