CIMI- CZS
1º de maio,
luta e resistência!
Foto da mobilização por Evanilda Torres - CIMI |
O Dia do Trabalhador em Cruzeiro do Sul/Acre foi marcado por
um Ato Público com Passeata pelo centro da cidade organizado pelas pastorais
sociais da Diocese de Cruzeiro do Sul em conjunto com lideranças sindicais,
associações, movimentos e organizações cuja pauta principal foi denunciar os
aumentos abusivos do combustível e da Cesta Básica, gerados pelos resquícios
das enchentes do Madeira.
Foto: Ivanilda Torres - CIMI |
Quem deu o tom da mobilização foram os povos indígenas com
participação de 120 pessoas de 9 etnias da região. Homens e mulheres,
juventude, crianças e idosos todos chamando a atenção da sociedade local para a
questão da extração do petróleo no Vale do Juruá.
Os povos aproveitaram a ocasião para denunciar também os
desmandos e descasos das políticas públicas da Saúde, educação e a inoperância
da FUNAI que não agiliza os processos de demarcação das terras e mantém atitude
omissa em relação à retirada de petróleo cujo empreendimento afetará
drasticamente todas as terras indígenas da região.
No Ato Público as lideranças deixaram seu recado afirmando
que não admitem a retirada de petróleo em suas terras e denunciaram o Governo
Estadual e a ANT – Agência Nacional do Petróleo – pela execução da prospecção
de petróleo, na região, sem que houvesse a devida consulta e audiência pública
conforme garante a Constituição Federal bem como a Convenção 169 da OIT –
Organização Mundial do Trabalho.
O cacique Paulo Nukini alertou: “não será os povos indígenas
os únicos afetados com a extração de petróleo em nossa região, vocês das
cidades sofrerão muito mais. Vocês denunciam a falta de moradia, a falta de
emprego, a falta de alimentos, o aumento da violência; não pensem que a
extração do petróleo vai resolver esses problemas, pelo contrário, eles serão
multiplicados, o emprego que o governo diz trazer para a região é mentira,
porque isso vai gerar emprego para gente de fora e para nós só vai ficar as
desgraças. Essa luta precisa ser de todos nós, índios e brancos que vivemos e
sobrevivemos do nosso Juruá. Nós Nukini não aceitamos a extração de petróleo em
nossas terras e vamos resistir custe nossas vidas!”
Lucila Nawa, foto Ivanilda Torres - CIMI |
Das denúncias foi extraído um documento, colhido assinaturas
e o mesmo será encaminhado ao Ministério Público Estadual e Federal, aos
poderes executivos e legislativos estaduais e municipais, e para a ANT.
O Ato Público foi encerrado com danças e músicas dos povos
indígenas que apesar de expressar suas angustias possuem uma capacidade imensa
de manter a serenidade na adversidade.
Os manifestantes também entregaram um documento às autoridades onde denunciam as propagandas enganosas do governo e exigem "respeito à Constituição Federal. Veja o documento na íntegra:
Ao:
Ministério
Público Estadual e Federal
Governo
do Estado
Câmara
dos Deputados Estaduais
Governo
Municipal
Câmara
dos Vereadores
Agência
Nacional do Petróleo
A população civil organizada através
das Pastorais Sociais da Diocese de Cruzeiro do Sul, bem como Sindicatos,
Associações, Organizações e Movimentos, no exercício da democracia e cidadania,
vêm exigir dos poderes públicos supracitados efetivação dos direitos garantidos
na Constituição Federal de 1988, dentre eles o que reza o Artigo 6º “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados.”
Tais direitos, constituídos como direitos
básicos, é dever do Estado e direito de todo cidadão brasileiro. No momento
atual vivenciamos a negligência e omissão do Estado quanto a efetivação e
garantia dos nossos direitos básicos.
Denunciamos o aumento no preço do combustível
bem como o aumento abusivo no preço dos alimentos tornando-se cada dia mais difícil para os trabalhadores e
trabalhadoras prover o alimento para sua família. Enquanto os preços sobem os
salários continuam o mesmo, bem como os benefícios sociais.
Denunciamos os projetos de pagamento de
serviços ambientais, (REDD) que além de não prover incentivo aos pequenos
produtores rurais, as populações indígenas, extrativistas e ribeirinhos cerceam
o direito ao uso da terra, da floresta, das águas, diminuindo a produção agrícola
local e o modo de subsistência desses povos.
Denunciamos a falta de política pública de
habitação na zona urbana. A falta de incentivo para o homem do campo, a falta
de uma educação de qualidade, a falta de atendimento de saúde tem levado cada
vez mais as famílias deixarem o campo para viver na cidade em busca de
melhorias, ao chegar na cidade vivem em condições precárias, sem o direito a
uma moradia digna.
Denunciamos a falta de segurança pública. É
assustador o aumento da violência. As demandas têm crescido, porém o efetivo de
policiais continua o mesmo.
Denunciamos o mau atendimento dos órgãos
públicos especialmente da saúde e da segurança pública.
Por fim as populações indígenas bem como
setores da sociedade local, ribeirinhos, extrativistas denunciamos o governo do
Estado e a ANT – Agencia Nacional do Petróleo – pela execução da prospecção de
petróleo na região do Juruá sem que houvesse a devida consulta prévia e
informada, bem como audiências públicas com toda população envolvida conforme
nos garante a Constituição Federal e a Convenção 169 da OIT – Organização
Mundial do Trabalho.
Cruzeiro do Sul, 1º de Maio de 2014
Meu comentário: para quem insistia e insiste em afirmar que a exploração de petróleo na
Amazônia, especialmente, neste caso, no Vale do Juruá, no Acre, não afetará povos indígenas, comunidades tradicionais e principalmente os demais seguimentos urbanos, o primeiro de maio serviu para desmentir essa afirmação e, ao contrário, afirmar categoricamente que atingirá sim mas a brava população do Juruá está atenta e já disse um NÃO CONTUNDENTE À EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NAQUELA REGIÃO que é simplesmente um dos maiores nascedouros de rios que abastecem a maior reserva de água doce de superfície do mundo, a bacia Amazônica.
Para quem preconceituosamente insiste em afirmar que os povos indígenas são contra o
progresso, a presença e participação ativa de diversos seguimentos da sociedade cruzeirense (e acreana) serviu para provar que a exploração de petróleo e gás naquela região é indesejada pela maioria da população que sabe e tem plena consciência dos riscos e prejuízos. A população do Vale do Juruá denunciou também o estado de abandono da região e a necessidade de se tratar os problemas e apresentar soluções sem politicagens e sem que o movimento social seja vinculado a qualquer partido político.
Para quem insiste em dizer que o CIMI coloca na boca dos povos indígenas palavras que estes não falaram, a mobilização foi um momento rico para que os povos indígenas pudessem falar a verdade do que realmente pensam. Além dos povos indígenas, a sociedade e os movimentos sociais e pastorais da Diocese de Cruzeiro do Sul, deram um show de cidadania e consciência. Este blog, mais uma vez, parabeniza a cada uma e cada um que compareceu ao ato e que está firme no propósito de defender a vida antes de tudo.
PARABÉNS AO POVO DO VALE DO JURUÁ !!!!
http://www.youtube.com/watch?v=jplpopNt32M
ResponderExcluirgrande dia!