A crise do coronavírus dá o recado: é possível diminuir nossa demanda por recursos naturais e impedir que o planeta entre no cheque especial. Veja como contribuir
Publicado originalmente em:https://www.akatu.org.br/noticia/22-de-agosto-o-dia-da-sobrecarga-da-terra-2020/
Chegamos ao Dia da Sobrecarga da Terra (overshoot day): 22 de agosto é o momento de 2020 em que nós passamos a demandar mais recursos naturais e serviços ecossistêmicos do que a Terra é capaz de regenerar em um ano. Em termos gerais, a data nos conta que atualmente precisamos de 1,6 planeta para suprir toda a nossa demanda de consumo. É como se a partir de hoje a Terra entrasse no “cheque especial”, ou seja, ela tem de acionar a “reserva” planetária que seria destinada à população futura para suprir a nossa demanda atual.
O cálculo para se chegar ao Dia da Sobrecarga da Terra é feito pela Global Footprint Network desde 1961. Nele, divide-se a biocapacidade do planeta pela pegada ecológica da humanidade multiplicada pelo número de dias do ano. Conheça os conceitos:
— Biocapacidade do planeta: quantidade de recursos que a Terra pode gerar em um ano
— Pegada ecológica da humanidade: pegada de carbono (emissões de gases de efeito estufa) da geração de energia; área construída para habitação; produtos florestais para manufatura de madeira e papel; agricultura e pecuária para produção de alimentos e pesca
É importante mencionar que o cálculo da Global Footprint Network utiliza a pegada ecológica nacional (não a individual) e que as métricas de pegada de carbono são recalculadas todos os anos para que compartilhem dados comuns e mesmo método de contabilização.
O recado do coronavírus
Talvez você se lembre que o Dia da Sobrecarga da Terra em 2019 ocorreu em 29 de julho, três semanas antes da data deste ano. Essa mudança é reflexo da redução de 9,3% na pegada ecológica da humanidade desde 1º de janeiro de 2020, em comparação ao mesmo período do ano passado. Um dado que seria ótimo, não fosse resultado direto de um momento de crise e tristeza: a pandemia do coronavírus.
Desde que começou a se espalhar pelo mundo, em fevereiro, a pandemia provocou isolamento social e desaceleração econômica. Com isso, as emissões de CO2 provenientes da combustão de combustíveis fósseis e as taxas de extração de madeira caíram substancialmente, alterando índices utilizados no cálculo, tais como:
- Redução de 14,5% na pegada de carbono global
- Redução de 8,4% na pegada ecológica de produtos florestais — importante ressaltar que essa redução poderia ter sido ainda maior não fosse o aumento do desmatamento no período, sobretudo na floresta amazônica
É claro que uma catástrofe não pode ser o caminho para a redução de nossas pegadas ecológicas. Precisamos alcançar um futuro mais sustentável mantendo o equilíbrio da biodiversidade e sem abrir mão do bem-estar das pessoas.
O recado que a pandemia nos dá é que é possível mudar a nossa demanda por recursos naturais em um curto período de tempo e que o impacto do nosso consumo também diminui se nos limitarmos ao que é essencial.
Está pronto para agir?
Ainda não é possível saber quando sairemos da crise do coronavírus, mas já é hora de aprender com ela e pensar na reconstrução da economia e do mundo considerando os limites do nosso planeta — que é um só.
Para jogar o próximo Dia da Sobrecarga da Terra ainda mais adiante, precisamos agir. O movimento #MoveTheDate convida a todos a refletir sobre o seu consumo e adotar hábitos com melhor impacto, para reduzir a pegada ecológica individual e, assim, contribuir para a redução da pegada global. Veja o que você pode fazer:
→ Reduza o seu consumo de carne vermelha: a pecuária global é responsável por pelo menos 9% das emissões de gases de efeito estufa derivadas de atividades humanas.
→ Reduza o desperdício de alimentos: pelo menos ⅓ de toda a comida produzida no mundo é perdida ou desperdiçada. Essa perda e desperdício de alimentos é responsável por cerca de 9% da pegada ecológica global.
→ Colabore com a natureza: mesmo em isolamento social, é claro que nós ainda dependemos de solo fértil, água limpa e ar puro. Você pode contribuir para a manutenção da biodiversidade ao plantar uma árvore, cultivar um jardim ou ser voluntário em uma organização de conservação natural.
→ Invista em energias renováveis: a pegada de carbono compõe 57% da pegada ecológica da humanidade, portanto é imprescindível eliminar os combustíveis fósseis, cuja queima é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Você pode contribuir pressionando governos e empresas para seguirem este caminho.
→ Mobilize amigos e familiares para adotar hábitos mais sustentáveis: quanto mais pessoas no planeta, menos cada um poderá usufruir dele. Com 7,7 bilhões de habitantes na Terra, a tendência é haver um aumento no consumo, levando à destruição de habitats, extinção de espécies e esgotamento de recursos naturais. Se o crescimento populacional continuar, é ainda mais importante educar e empoderar os indivíduos para a adoção de hábitos mais sustentáveis.
→ Só compre roupas novas se for necessário: as roupas representam 3% da pegada ecológica global, portanto, toda vez que pensar em comprar um item novo, reflita sobre a sua real necessidade dele ou prefira comprar em lojas de segunda mão.
→ Troque o carro pela bike ou pela caminhada: a mobilidade representa 17% da pegada de carbono global. Podemos reduzir essa pegada substituindo o uso de veículos por caminhadas para cumprir pequenos trajetos ou pela bicicleta em trajetos um pouco mais longos, uma vez que ela não emite gases poluentes. Também é importante cobrar dos governantes cidades cujo planejamento favoreça o uso deste modal.
→ Viaje de maneira sustentável: a hospedagem escolhida, a forma de se locomover no destino e quais tipos de alimento privilegiar estão diretamente relacionados à sua pegada ecológica. Opte, por exemplo, por um hotel integrado à comunidade local e equipado com fontes de energia renováveis e reduza sua pegada ecológica em até 48% por viagem.
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