“Nos baixões [bairros que serão alagados pela barragem], uns saem porque não sabem se vão perder a casa, outros porque não podem pagar o aluguel. E o motivo é Belo Monte. É Belo Monte que está empurrando o povo pra fora. O povo não teria porque sair do seu canto, se não estivesse acontecendo essa barragem. É assim que a gente se sente: expulsos”.
Este foi o depoimento de dona Raimunda, de 54 anos, moradora do bairro Invasão dos Padres, para a Defensoria Pública de Altamira, no Pará. Ela também é uma das milhares de moradoras e moradores de uma das muitas localizações que poderão ir para debaixo d’água.
Há cerca de um mês, 198 famílias ocupam outro terreno em desuso no perímetro urbano de Altamira. Amedrontadas pelo alagamento que a construção da barragem poderá causar caso seja construída, as famílias deixaram suas casas para construir novos barracos em terras que, popularmente, é sabido serem irregulares. Terras griladas. Contudo, neste caso, o juiz expediu o mandado de reintegração de posse. Dona Raimunda e as outras 198 famílias ocupantes estão temerosas com os desdobramentos violentos estão por vir. “Porque a gente não vai sair daqui, né?”, conclui.
Além do medo do alagamento e da insegurança sobre a política de compensação do consórcio Norte Energia, responsável pela obra, a chegada de centenas de migrantes à região tem elevado os aluguéis em ritmo vertiginoso. “Estão vindo pessoas de tudo quanto é canto, fazendo propostas de aluguel muito melhores do que as que a gente paga. Então estão todos sendo forçados a sair”, argumenta F., desempregado.
Como em Tucuruí, “As pessoas vieram para cá com medo de não receber as indenizações da Norte Energia”, conta N., moradora da Invasão dos Padres. “Vai ficar igual Turucuí. Lá, a maioria das pessoas empregadas eram de fora. Meu pai trabalhou lá, mas a maioria dos vizinhos e amigos não conseguiram emprego, nem foram indenizados, nem receberam casa. Foram abandonados, e é isso o que está acontecendo em Belo Monte. Altamira está vivendo a mesma coisa”, conclui.
Condição
“Olha o barraco em que eu morava [mostra foto no celular]. O aluguel aumentou de 80 pra 250. A casa aqui na frente aumentou de 200 para 600”, conta N., moradora de Boa Esperança. Eu ainda não saí de lá, mas este mês é o último que eu vou conseguir pagar aluguel. E meu vizinho deve vir pra cá também”, ela prevê.
“Os aluguéis vão aumentando de 100 pra 200, 300, 500, mil reais. A gente que mora em Altamira não tem a menor condição de pagar esses valores”, destaca G., desempregado, morador do Baixão Bela Vista. “Tem muitas empresas vindo, mas os empregos não são pra gente. São pra quem tem formação, quem é de fora. Se fosse pra gente, a gente já deveria ter recebido formação pra assumir os empregos. Agora é tarde”, lamenta. “Foi chegar o pessoal da Norte Energia e meu aluguel aumentou. Eu estou desempregado há quatro meses. Eu e minha esposa não tivemos opção a não ser vir pra cá”, relata B., também desempregado.
Defensoria
Uma comissão de ocupantes, acompanhados pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi à Defensoria Pública pedir que a Justiça intervenha nas ocupações. Afora a falta de acesso ao direito à moradia, todas as famílias sem-teto correm o risco de serem despejadas a qualquer momento pela Polícia Militar, que já foi solicitada para realizar a reintegração de posse.
“Nós temos um problema sério de moradia. A população está aumentando e não temos perspectivas de projetos de habitação para agora”, analisa o defensor público de Altamira, Fabio Rangel. Para o defensor, os dois casos de ocupações coletivas são consequências de Belo Monte. “E estes os casos serão objeto de demandas judiciais para que haja retirada dessas pessoas. Elas irão pra onde?”, questiona.
Na ocasião, uma comissão da Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa Humana, do governo federal, também colheu depoimentos dos ocupantes, concordando que Altamira vive uma situação de absoluta falta de diálogo entre poder público, movimentos sociais e empresas construtoras.
Este foi o depoimento de dona Raimunda, de 54 anos, moradora do bairro Invasão dos Padres, para a Defensoria Pública de Altamira, no Pará. Ela também é uma das milhares de moradoras e moradores de uma das muitas localizações que poderão ir para debaixo d’água.
Há cerca de um mês, 198 famílias ocupam outro terreno em desuso no perímetro urbano de Altamira. Amedrontadas pelo alagamento que a construção da barragem poderá causar caso seja construída, as famílias deixaram suas casas para construir novos barracos em terras que, popularmente, é sabido serem irregulares. Terras griladas. Contudo, neste caso, o juiz expediu o mandado de reintegração de posse. Dona Raimunda e as outras 198 famílias ocupantes estão temerosas com os desdobramentos violentos estão por vir. “Porque a gente não vai sair daqui, né?”, conclui.
Além do medo do alagamento e da insegurança sobre a política de compensação do consórcio Norte Energia, responsável pela obra, a chegada de centenas de migrantes à região tem elevado os aluguéis em ritmo vertiginoso. “Estão vindo pessoas de tudo quanto é canto, fazendo propostas de aluguel muito melhores do que as que a gente paga. Então estão todos sendo forçados a sair”, argumenta F., desempregado.
Como em Tucuruí, “As pessoas vieram para cá com medo de não receber as indenizações da Norte Energia”, conta N., moradora da Invasão dos Padres. “Vai ficar igual Turucuí. Lá, a maioria das pessoas empregadas eram de fora. Meu pai trabalhou lá, mas a maioria dos vizinhos e amigos não conseguiram emprego, nem foram indenizados, nem receberam casa. Foram abandonados, e é isso o que está acontecendo em Belo Monte. Altamira está vivendo a mesma coisa”, conclui.
Condição
“Olha o barraco em que eu morava [mostra foto no celular]. O aluguel aumentou de 80 pra 250. A casa aqui na frente aumentou de 200 para 600”, conta N., moradora de Boa Esperança. Eu ainda não saí de lá, mas este mês é o último que eu vou conseguir pagar aluguel. E meu vizinho deve vir pra cá também”, ela prevê.
“Os aluguéis vão aumentando de 100 pra 200, 300, 500, mil reais. A gente que mora em Altamira não tem a menor condição de pagar esses valores”, destaca G., desempregado, morador do Baixão Bela Vista. “Tem muitas empresas vindo, mas os empregos não são pra gente. São pra quem tem formação, quem é de fora. Se fosse pra gente, a gente já deveria ter recebido formação pra assumir os empregos. Agora é tarde”, lamenta. “Foi chegar o pessoal da Norte Energia e meu aluguel aumentou. Eu estou desempregado há quatro meses. Eu e minha esposa não tivemos opção a não ser vir pra cá”, relata B., também desempregado.
Defensoria
Uma comissão de ocupantes, acompanhados pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi à Defensoria Pública pedir que a Justiça intervenha nas ocupações. Afora a falta de acesso ao direito à moradia, todas as famílias sem-teto correm o risco de serem despejadas a qualquer momento pela Polícia Militar, que já foi solicitada para realizar a reintegração de posse.
“Nós temos um problema sério de moradia. A população está aumentando e não temos perspectivas de projetos de habitação para agora”, analisa o defensor público de Altamira, Fabio Rangel. Para o defensor, os dois casos de ocupações coletivas são consequências de Belo Monte. “E estes os casos serão objeto de demandas judiciais para que haja retirada dessas pessoas. Elas irão pra onde?”, questiona.
Na ocasião, uma comissão da Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa Humana, do governo federal, também colheu depoimentos dos ocupantes, concordando que Altamira vive uma situação de absoluta falta de diálogo entre poder público, movimentos sociais e empresas construtoras.
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