segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A vida matada e a mata

“Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem essa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês...Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão (Valmir). Guaiviry já é terra indígena”. Nestes termos se expressou o nhanderu Nisio, baleado, agonizante. Isso foi relatado aos membros do Conselho da Aty Guasu, que foram levar apoio ao grupo e se inteirar do bárbaro ataque. Conforme o relato, três tiros foram disparados em Nisio – nas pernas, no peito e na cabeça. Além do corpo de Nisio, mais três crianças que estavam chorando ao seu redor, foram jogadas na carroceria de uma camionete.

Polícia Federal, Força Nacional e especialistas estiveram no local da execução brutal do nhanderu Nisio Gomes, no tekohá Guaiviary, no amanhecer do dia 18 de novembro. Sangue Guarani-Kaiowá no chão. Rastos do corpo arrastado. Apenas constatações. Um pequeno resto da mata testemunhou mais um assassinato de seus seculares guardadores.

Matam e destroem a mata com a mesma desenvoltura e certeza de impunidade há anos, décadas, séculos. A revolta da Mãe Terra e de seus filhos primeiros chegará. Como diz a canção em homenagem a Marçal Tupã’i: “Chegará o dia em que o alto preço dessa covardia será cobrada pelos Guarani”.

Enquanto isso, as lágrimas e o sangue continuam banhando esse chão em revolta, em gritos, em protesto. Os ouvidos do mundo não estão mudos. O clamor das vidas e da natureza sacrificada diariamente no altar do progresso, da acumulação do capital, do deus dinheiro, não permanecerão impunes!

Que o sangue de Nisio Gomes Kaiowá Guarani se junte ao coro dos guerreiros da vida para juntos nos unirmos no grito que ressoa mundo afora.

A Diocese de Dourados, através de seu bispo Dom Redovino, em manifesto declara: “Ao mesmo tempo em que lamenta profundamente o novo ataque perpetrado contra os povos indígenas, a Igreja Católica presente na Diocese de Dourados renova seu pedido às autoridades civis, judiciárias e militares para que, de uma vez por todas, recorram a todos os meios para pôr fim a uma situação que a todos nos envergonha e oprime, e pede perdão às vítimas de tamanha injustiça e violência, cometida, provavelmente, por pessoas que se dizem cristãs”.

Frente à mercantilização da vida e da natureza, os povos da resistência são portadores de alternativas. É por isso que o sistema da morte procura eliminá-los.

A natureza, a Pachamama (Mãe Terra), a Vida: Não se vendem, Nem se endividam! Se defendem!
Não podes comprar o vento,
Não podes comprar o sol.
Não podes comprar a chuva,
Não podes comprar o calor.
Não podes comprar as nuvens,
Não podes comprar cores.
Não podes comprar alegrias.
Não podes comprar minha vida
Vamos desenhando o caminho...
Vamos caminhando
Aqui se respira luta!
Aqui estamos de pé!
Rua 13-Pasavoz.

Tekohá Guaiviry,
Nisio Gomes Kaiowá Guarani,
Se junta ao batalhão
Dos que tombaram nessa luta
Nativa, milenar!

Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi, 40 anos, equipe Dourados

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