quarta-feira, 10 de julho de 2013

CARTA DE PORTO VELHO DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA


Inspirados pelas luzes do Concílio Vaticano II, que completa agora 50 anos, e da Conferência Episcopal Latino-americana de Medellín, nós, agentes pastorais, juntamente com camponeses e camponesas presentes na XIV Assembleia da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, confirmando nossa fidelidade ao Deus dos pobres, aos pobres da terra e à terra de Deus, nos dirigimos respeitosamente aos irmãos e irmãs camponeses, indígenas, quilombolas, aos outros povos tradicionais e aos membros da CPT e das igrejas cristãs. 

Partilhamos as alegrias e as esperanças, no compromisso com as tristezas e as angústias da Amazônia. Celebramos com entusiasmo a presença fraterna ecumênica das igrejas Luterana, Presbiteriana e da Assembleia de Deus, presença aliás que caracteriza a CPT de Rondônia. 

Nos alegra a participação de diversos movimentos sociais de trabalhadores rurais de todo estado de Rondônia, comprometidos com a defesa das florestas e das águas, e da vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Engajados na produção de alimentos saudáveis, na agroecologia e no cuidado com o bioma amazônico. 

Saudamos a diversidade dos povos da terra e da água: camponeses, índios, quilombolas, ribeirinhos, acampados, assentados, colonos e aqueles escravizados, que na condição de sujeitos de sua própria caminhada, de rosto sofrido e ao mesmo tempo portadores de grande esperança.

Rondônia foi destaque na publicação “Conflitos no Campo – Brasil 2012”, com nove camponeses assassinados e inúmeras lideranças perseguidas e presas. O aumento da violência no campo coincide com o crescimento de famílias que buscam terra para trabalhar. Denunciamos a inoperância do Estado na apuração destes fatos, dificultando o acesso à justiça pelos camponeses. Denunciamos também a criminalização de todos que lutam pela terra de viver e trabalhar.

Aceitamos o chamado a exercemos a missão samaritana junto às famílias camponesas atingidas pela violência do capital e do Estado, articulados em defesa do agro-hidro-negócio. Constata-se por parte desse governo a execução de ações destinadas a enfraquecer a luta, cooptando sobretudo as lideranças populares. Nos comprometemos a estar ao lado das famílias camponesas, despejadas de suas terras, à beira da estrada, e das lideranças ameaçadas de morte e presas. 

Reconhecemos que neste caminho, infelizmente alguns agentes e camponeses vão tombando à sua margem, vencidos pelo cansaço, pela falta de confiança em si mesmo, pela desunião e pela intriga que nos afasta uns dos outros sem podermos mais nos apoiar e impede nossa união de classe, prejudicando a organização das lutas camponesas.

Atentos aos novos sinais dos tempos, tomamos a liberdade de exortar vocês, companheiros e companheiras, parentes, irmãos e irmãs de luta, a levar em conta o clamor das ruas, como um apelo a ingressar nessa nova caminhada vitoriosa na luta pela reforma agrária e pela defesa da vida.

Enquanto Comissão Pastoral da Terra nos comprometemos a recuperar o vigor profético de nossa ação missionária. Vamos construir uma nova história para o Brasil que queremos, ao lado dos povos da terra e das águas da Amazônia. Bem aventurados os camponeses e camponesas, os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e as comunidades tradicionais, enfim, os homens e as mulheres da Amazônia. 

Voltemos para o Deus da justiça, do amor aos pobres e libertador dos oprimidos e assim concretizemos, com sua ajuda nossas esperanças, nossa utopia, assumindo a mística do Bem Viver para todos e para sempre. 

“Não tenham medo, diz o Senhor, continuem a falar e não se calem, porque Eu estou com vocês” (cf At, 18,9)

Porto Velho, 07 de julho de 2013.

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