Os servidores da Funai estão em greve Brasil a fora desde terça-feira, dia 26. A adesão à greve foi uma resposta à intransigência do Governo Federal em oferecer solução oficial às reivindicações que são as seguintes:
PAUTA DE
REIVINDICAÇÕES DOS SERVIDORES E SERVIDORAS DA FUNAI:
Dada a
atual conjuntura de enfraquecimento da legislação indigenista e ambiental, os
servidores da Fundação Nacional do Índio reivindicam a introdução de um amplo
processo de debate para que sejam discutidos os seguintes pontos:
1.
Posicionamento institucional a respeito:
- da aprovação do novo Estatuto dos Povos Indígenas;
- do projeto de lei que criminaliza o “infanticídio” de crianças indígenas;
- da regulamentação do direito de consulta dos povos indígenas, conforme disposto na Convenção 169 da OIT;
- da tramitação da PEC 215, que já foi aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania;
- da recomendação inconstitucional da presidente Dilma Rousseff de submeter à aprovação do Ministério de Minas e Energia todos os processos de regularização fundiária de terras indígenas antes da expedição de decreto homologatório;
- da falta de celeridade nos processos de regularização fundiária;
- do desmonte do Código Florestal;
- da discussão do projeto de lei que regulamenta a mineração e o aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas a despeito das proposições contidas no novo Estatuto dos Povos Indígenas, que está em tramitação no Congresso há mais de uma década;
- da Portaria 419, que atropela os trâmites técnico-processuais próprios ao processo de licenciamento ambiental, em favor de maior celeridade na condução dos empreendimentos de infraestrutura nacionais;
- da participação dos povos indígenas no planejamento decenal dos setores de infraestrutura e energético, planejamento este responsável pelos projetos de empreendimento que afetam diretamente seus territórios;
2.
Posicionamento institucional contra a criminalização e perseguição de
lideranças e servidores indígenas;
3.
Publicação do Regimento Interno da Funai;
4.
Mudança imediata de prédio da sede para um local bem situado e que ofereça
infraestrutura e condições adequadas ao trabalho (higiene, segurança, mobiliário,
equipamentos), para dar fim à situação inaceitável de insalubridade e
precariedade a que estamos submetidos;
5.
Posicionamento institucional contra mudança de sede para local de condições
igualmente inadequadas;
6.
Garantia da estrutura física necessária ao adequado funcionamento das CRs e
CTLs, uma vez que algumas dessas unidades não possuem sequer prédio-sede e
instrumentos básicos de trabalho;
7.
Aquisição de materiais e equipamentos em quantidade suficiente para o
cumprimento satisfatório do trabalho (computadores, servidores de rede,
impressoras, scanner, fax, GPS, material de escritório e de limpeza);
8.
Realização de concurso público para provimento dos 3100 novos cargos
autorizados pelo Ministério do Planejamento;
9.
Investimento em capacitação continuada dos servidores de cada área de atuação
na sede, CRs e CTLs, além da realização de curso para a efetiva formação de
indigenistas, tendo em vista a total ausência de real capacitação dos
servidores do quadro da Funai para lidar com a questão indígena até o momento;
10.
Valorização dos servidores efetivos do órgão, para dar fim à dependência
técnica da Funai de profissionais externos, como é o caso dos
consultores/colaboradores que demoram anos para entregar relatórios,
comprometendo a garantia efetiva dos direitos indígenas e o cumprimento da
missão institucional, bem como a ingerência de ONGs e grande dependência de
aporte financeiro de cooperações internacionais;
11.
Aplicação das diretrizes do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização
(GesPública), implementado em 2005 pelo Governo Federal;
12. Nova
tabela salarial que reconheça e valorize a real situação na lida diferenciada
dos funcionários desta Fundação com as comunidades indígenas;
13.
Retomada da discussão da proposta do Plano de Carreira Indigenista;
14.
Discussão das gratificações de Qualificação, Zona de Localização e Retribuição
de Titulação.
Porque coordenação da Funai AC prefere ficar contra os índios? |
Nas justas reivindicações dos servidores, eu não poderia deixar de lembrar neste momento o que ocorreu e qual foi o posicionamento da Funai do Acre (Coordenação Regional), durante o movimento reivindicatório dos povos indígenas do Acre e Sul do Estado do Amazonas, dentro do que ficou conhecido como "Abril Indígena".
No acampamento índios abandonados pela Funai Acre |
Nenhuma das reivindicações dos indígenas foi aceita, o que obrigou um grupo de 40 lideranças a viajar até Brasília na esperança e na tentativa de ver pelo menos parte de suas reivindicações acolhidas pelo órgão e pelo poder público. A ida da delegação, por si só, foi uma grande vitória já que por aqui, pelo Acre, todos apostavam no fracasso e desânimo por parte dos indígenas.
Mas, a coordenação regional não se deu por satisfeita e continuou difundindo a idéia de que aqui no Acre tudo estava (e está) bem. Que o movimento tinha como objetivo único a luta por cargos e que o movimento era ilegítimo. A intransigência da Funai foi tanta que resultou em uma ação de reitegração de posse onde os indígenas foram apresentados como invasores e depedradores do patrimônio Público. Para a retirada dos indígenas do "pátio" da Funai foi solicitada o auxílio de força policial que só não levou a cabo tal violência porque os indígenas, sábios que são, negiciaram a saída. Não como rendição, diga-se bem, mas como acordo firmado diante da juíza responsável pelo caso. Os índios cumpriram sua parte no acordo e a Funai? até agora nada.
Grifei a falta de celeridade nos
processos de regularização fundiária porque essa era uma uma das principais reivindicações dos indígenas. A esta reivindicação, a coordenação da Funai disse não ser verdadeira e que os processos estavam correndo normalmente. Alguns, notadamente na região de Boca do Acre, estavam até muito adiantados etc.. algumas perguntas básicas insistem nas cabeças sensatas: porque a coordenação da Funai Acre preferiu não assumir a luta dos povos indígenas? porque a Funai não quiz acolher as reivindicações dos indígenas e apelou pela judicialização, se negando inclusive ao diálogo? O que ou a quem a coordenação pretendia proteger? qual o tamanho real da interferência do Governo do Estado do Acre?
Perguntas podemos fazer. As respostas vamos atrás.
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