O CIMI - Conselho Indigenista Missionário, Regional Amazônia Ocidental acaba de soltar uma nota pública denunciando que em apenas sete meses, de dezembro a julho deste ano, já são dez os casos de suicídios entre o povo Madiha (Kulina) da Terra Indígena do Auto Purus no Estado do Acre.
A nota também denuncia outras formas de violência contra o povo e pede que as autoridades tomem providência o que, segundo a mesma nota, ainda não foi feito. Segundo o Cimi já foi protocolado no Ministério Público Federal um documento com as mesmas denúncias e pedindo que as autoridades, especialmente a Funai e Sesai se manifestassem e propusessem políticas públicas que pudessem ajudar o povo na solução do problema.
A mesma nota faz ainda referência ao fato de a Funai, coordenadoria Regional Purus, com sede na cidade de Rio Branco, ter impedido a equipe do Cimi de entrar nas aldeias para averiguar in loco os casos e prestar solidariedade e apoio ao povo, inclusive fornecendo profissionais como antropólogos e psicólogos, fato repudiado na nota.
Confira a nota na íntegra:
NOTA PÚBLICA
O Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Regional Amazônia Ocidental,
vem a público manifestar sua preocupação frente aos casos de violência e
suicídios que estão ocorrendo nas aldeias Madiha (Kulina) do alto Purus.
Desde o dia 1º de dezembro de 2015 até o dia 14 de julho já foram
registrados dez casos de suicídio por enforcamento ao longo das diversas
aldeias desse povo nos rios Purus e Chandless, ceifando as vidas de Huaica Kulina, Desica Kulina, Cohue Kulina,
Macohi Kulina, Walter Kulina, Radsi Kulina, Huinija Kulina, Jahono Kulina, Ita
Kulina e Biraci Kulina.
Afora os casos de suicídio, o povo Madiha (Kulina) enfrenta atualmente
outras situações de violência como afogamento de um indígena (Bernoni Kulina) no porto da cidade de
Manoel Urbano assim como o assassinato de Francisco
Kulina, também nessa cidade, cujo crime ainda segue impune e o assassino à
solta. Paralelo aos casos de violência observa-se uma crescente onda de consumo
de gasolina, seja inalada ou ingerida entre jovens e mesmo alguns adultos, além
das bebidas alcoólicas facilmente encontradas nos bares das cidades ou nos
vizinhos da Terra Indígena.
Em 19 de abril de 2016 o Cimi formalizou uma denúncia junto ao
Ministério Público Federal com a intenção de que a Funai, Sesai e outros órgãos
competentes se inteirassem da questão e
propusessem políticas públicas voltadas à valorização da vida do povo
Madiha (Kulina) de acordo com sua cultura e espiritualidade, mas até o momento
não tomamos conhecimento de nenhuma iniciativa neste sentido.
Manifestamos ainda nossa preocupação com o crescente aumento do número
de casos e com o impedimento de nossa equipe adentrar nas aldeias para
contribuir e apoiar o povo na busca de solução. Desde o início nos colocamos à
disposição inclusive fornecendo auxilio de profissionais e, por isso mesmo,
repudiamos toda e qualquer tentativa de impedir nossa atuação e ocultar a
verdade sobre o que vem ocorrendo.
Rio Branco, 29 de julho de 2016.
Conselho Indigenista Missionário – CIMI,
Regional AO
Estes tristes acontecimentos demonstram bem que a política indigenista oficial nao consegue andar ou pelo menos absorver alguma lição de sua História. Já em 1976 quando não tinha um só funcionario atuando junto a este povo, retirou das aldeias do Alto Purus sob as ordens do então Superintendente José Porfírio de Carvalho a única equipe de profissionais existente junto a este povo na area de saúde, educação e assistencia social, respectivamente: Rosa Monteiro, Darci Secchi e Marta Callovi. Equipe da OPAN-CIMI.
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