quinta-feira, 31 de março de 2016

Quem se mistura a porcos, farelo come

Por: Lindomar Dias Padilha

Dilma e Katia - Imagem de internet
Quem me conhece sabe que sempre fui um democrata, entendendo que um democrata não é apenas uma pessoa que apoia determinado modelo de organização política, mas sobretudo alguém que se comporta como um democrata, livre. Que aceita uma sociedade democrática. Que aceita a diversidade de opiniões e comportamentos, ainda que contrários aos seus. E que aceita essa diversidade de modo natural, com boa vontade, sem ilusões e sabendo que mesmo as aberrações de uma sociedade livre são preferíveis aos desmandos da falta de liberdade. Por isso mesmo, sempre fui capaz de me abrir ao debate e às polêmicas sem jamais perder a ternura, mas firme nas convicções e propósitos.

Entretanto, nestes últimos tempos, a postura maniqueísta e, por isso mesmo anti-democrática, tem batido à minha porta com muita insistência na forma de agressões e acusações contra minha pessoa e os princípios aos quais estou ligado por caráter, situação ou por escolha. Estranha-me muito que alguém julgando defender a democracia haja com tanta fúria justamente contra um democrata, contra pilares da própria democracia que é o debate sensato e, lamentavelmente eu não sou o único a ser agredido mas, há milhões de brasileiras e brasileiros nestas condições. Quero dizer portanto, que o que está em curso com a ascensão do maniqueísmo entre nós, os santos e deuses, versus eles, os pecadores e demônios, nada tem com a democracia. Ao contrário, este maniqueísmo é uma afronta à democracia e a fere de morte. Mesmo com essas considerações, sigo propondo o debate e, por isso me dispus a escrever estas linhas sobre o que penso (se isso interessar) sobre o momento crítico em que estamos atravessando por uma tormenta em mares nunca antes navegados sob essas condições.

Por primeiro preciso esclarecer que não escrevo sobre o passado e por ele mesmo. Escrevo sim para um futuro que sei que virá, pois, o amanhecer nos encontrará felizes depois da atormentada noite e ai estaremos nós dançando e festejando a nossa liberdade. A história é um retrovisor que precisamos, de tempo em tempo, olhar mas o furo é o pára-brisas e é por ele que veremos o amanhecer. No momento o nosso retrovisor está menos turvo que o pára-brisas e, aliás, o que nos atinge não é o que podemos chamar de brisa, por isso o futuro também está bastante turvo. Neste momento precisamos ver o que não se vê. Pensar em possibilidades, em vias alternativas e não ficar insistindo ainda mais no mesmo. Essa insistência é sinal de falta de abertura ao novo, é o velho se impondo. É o pessoal sobre o coletivo. É a anti-liberdade, porque sentencia o futuro exclusivamente com os pecados e erros (argumentos) do passado sem lhe dar qualquer chance de defesa. O futuro tem o direito de se defender e nós a obrigação de defendê-lo. Mais: temos a obrigação de construí-lo.

Chamo a atenção para a necessidade de uma reflexão sobre nossas ações, considerando não apenas nossos interesses singulares e pessoais, mas suas implicações e relações com o outro, com a sociedade e seus impactos no ambiente, na vida mesma e de todos. Isso significa nos vermos novamente seres humanos em sua totalidade, integrados em suas múltiplas dimensões, não só politico-ideológicas, pertencentes a uma sociedade e uma natureza, e construindo formas de vida que integrem essa totalidade de modo harmônico, afinando suas necessidades e possibilidades particulares, às necessidades e possibilidades da coletividade, notadamente no amparo aos empobrecidos e mais vulneráveis. A isso chamo de democracia ativa e concreta, que vai além do discurso fácil do "eu contra eles e todos contra nós". Só espíritos desarmados se abrem ao outro e se doam na construção deste futuro que, sei e reafirmo, virá e nos encontrará felizes porque com nossos deveres cumpridos, ainda que muitos não creiam e muito menos trabalhem para isso.

Venho de uma militância junto às Comunidades Eclesiais de Base onde aprendi que não há salvação individual e devemos sempre nos atentar para que o pecado do sistema não nos tome pela mão e nos conduza por caminhos indignos aos seres humanos. O poder por ele mesmo é sempre mesquinho e contra a vida dos demais, assim como toda sorte de acumulação, nos leva a defesa das mais variadas formas de latifúndios, frutos da ganância. Quando ganância e poder se juntam, então temos uma obra que, na linguagem que aprendi nas comunidades, nada mais é que manifestação do reino do mal, do ódio, e isso não é democracia, é poder pelo poder e neste ponto se igualam os de cá com os de lá, usando a linguagem maniqueísta que tem sido preferida por aqueles que se supõem estarem debatendo democracia e como se democratas fossem.

Milito desde o limiar da década de 80 tendo minha primeira relação político-partidária em 1982 com o recém criado PDT do saudoso trabalhista Leonel de Moura Brizola. Agremiação partidária que marcou profundamente minhas convicções e escolhas, só não tão decisivas quanto o foram as CEBs. Nesta mesma década militei junto ao MAR - Movimento Anarquista Revolucionário, participando inclusive de ocupações de casas e apoiando ocupações de terras no Estado do Rio de Janeiro, chegando a morar com meus pais em uma dessas ocupações conhecida como Vila Bakunin, em homenagem ao pensador anarquista Russo  Mikhail Aleksandrovitch Bakunin. Uma pequena narrativa sobre este tempo pode ser lido AQUI em um texto escrito por Yasmin, que à época tinha 13 anos. Não me lembro da Yasmin mas pelo que ela escreve, compreendeu muito bem a importância daquele momento. Não relembro isso por saudosismo, senão para esclarecer de onde falo, qual a base de meu discurso.

A partir do engajamento no MAR, participei de diversos congressos e eventos estaduais da CUT - Central Única dos Trabalhadores, membro de uma corrente denominada PT/PT, de onde fomos expulsos, eu e mais alguns poucos, ainda em 1987 durante o IV Congresso Estadual da CUT/RJ, ocorrido entre os dias 28 a 30 de agosto daquele ano no Fundão, justamente por acreditarmos mais na liberdade democrática que nas estruturas de poder. Em 2017 completarei 30 anos de opção por militância fora de agremiações político-partidárias, salvo um curtíssimo período de apenas uma semana, em que estive nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, PC do B, em 2003.

A luta contra toda forma de autoritarismo marcou e marca minha opção política fundamental e minha relação com os demais na construção de um mundo bom para todos e todas e não pode haver mundo bom que não baseado na justiça e na liberdade. É por essa marca fundamental que compreendo os ataques e as violências dos discursos, sem no entanto, concordar com eles.

Há mais de 20 anos venho tentando contribuir na defesa da vida dos povos indígenas e meu grito maior tem sido o de demarcação das terras indígenas já! mas também vou às ruas por reforma agrária, por reforma política, por reformas na educação, por reforma tributária, por reforma urbana, contra a exploração de petróleo e gás natural na Amazonia, principalmente utilizando a tecnica do fraturamento (fracking) e o uso indiscriminado de combustíveis fósseis, contra a financeirização da natureza e todos os projetos que atentam contra a vida e pelo respeito entre as pessoas e em favor da tolerância ativa. No entanto, engana-se quem pensa que faço isso apenas pelos outros. Faço antes por mim mesmo, porque também eu dependo de tudo isso para me realizar enquanto ser humano integral e integrado à natureza, como parte indissociável dela. Minha postura tem sido democrática e não covarde ou conciliadora entre inconciliáveis. Temos que ser duros na defesa dos direitos especialmente dos menos favorecidos, sem arredar pé. Isso não significa defender governos ou partidos mas defender causas.  

Dito isso e respondendo a uma pergunta cinicamente a mim formulada (mais parecendo uma acusação) se sou defensor do impedimento da Srª presidente Dilma, afirmo negativamente. Ou seja, não sou nem nunca fui favorável ao impedimento porque sei distinguir entre crimes políticos e crimes administrativos, ou de responsabilidade. Claro está que aqui se trata antes do primeiro caso que do segundo, sem no entanto afirmar que não tenha havido os dois tipos de crimes. Digo apenas que o impedimento deve ser analisado por crimes à administração. Se estes crimes dos quais ela tem sido acusada restarem provados, com a palavra o Congresso Nacional. Porém, os crimes contra a democracia aconteceram e é contra estes que me levanto democraticamente.

Penso que a saída mais correta e sensata seria a cassação pelo TSE da chapa que elegeu Michel Temer e Dilma e convocar novas eleições. No meu entendimento fomos todos e todas enganados e isso se caracteriza como fraude eleitoral. A fraude eleitoral é o ataque mais covarde à democracia, porque a ataca naquilo que lhe é mais representativo em nosso modelo que é o sufrágio universal. Desta forma soa como falsa, e de fato o é, a afirmação de que Michel Temer e Dilma foram eleitos democraticamente. Não foram eleitos democraticamente mas, ao contrário, foram eleitos negando um princípio basilar da democracia que é a verdade e a transparência nos propósitos. Mentiram e ocultaram intenções induzindo propositadamente o eleitor ao erro. Note que isso nada tem a ver com qualquer partido político mas com democracia e respeito ao voto e à vontade soberana do povo expressa neste mesmo voto. Para mim a cassação da chapa e a convocação de novas eleições recolocaria o debate sobre que democracia estamos construindo.

Em junho de 2013 o povo foi às ruas sem nenhuma agremiação partidária convocando, algo lindo de se ver! Atordoados com a democracia e liberdade ali manifestas, os que estavam no poder determinaram aos aparelhos repressores e repressivos que entrassem em ação e literalmente tivemos um massacre de sonhos juvenis de uma sociedade verdadeiramente justa. Cada uma daquelas bombas e balas, me feriam como que de morte porque de morte feriam a democracia e os sonhos de uma pátria livre. Em pouco tempo a juventude foi criminalizada por sonhar e os políticos, como hienas, se juntaram às mídias latifundiárias para degustarem e tripudiarem sobre seus restos e carnes sangradas e feridas. Nada, rigorosamente nada do que os jovens propuseram foi acolhido. Ali percebi com clareza a marcha da insensatez. Do poder pelo poder e do vale tudo para permanecer no poder ou para tomá-lo.

Não, ninguém vai me convencer  de ficar do lado de quem está no poder e, faz de tudo para lá permanecer, tão pouco de ficar do lado de quem o quer a qualquer custo. Fico do lado do povo, a quem pertence verdadeiramente o poder: "não terias poder se não lhe fosse dado" (Jesus Cristo). 

Quem se mistura a porcos, farelo come, como diz um ditado português. Pois bem, quem se junta a traidores da democracia, se retroalimenta de golpes e traições. Os golpes e traições só estão entre vocês mesmos que querem nos acusar e obrigar a que estejamos de um lado ou de outro. O povo não traiu ninguém e tem sido o único verdadeiramente traído e enganado ora pelos porcos, ora por aqueles que a eles se misturaram. Os iguais que se resolvam!

Link para  texto de Yasmin:

https://www.nodo50.org/insurgentes/textos/autonomia/14vilabakunin.htm

quinta-feira, 24 de março de 2016

Carta aberta para Maria Bethânia

“ Tomo a liberdade de escrever esta carta em protesto contra sua participação na campanha "A Natureza está falando"  da Organização Não Governamental Conservação Internacional (CI). Percebo que a senhora se entende como uma pessoa espiritualmente ligada à natureza. Recentemente assisti uma entrevista sua na TV. Nesta entrevista a senhora falou que, antes de aceitar ser enredo da Mangueira, consultou seus guias espirituais para obter autorização. A principio considero muito boa esta atitude. Entretanto sinto que sua participação na campanha supracitada pareceu-me contraditória com a referida atitude. A seguir exponho as razões desse estranhamento que motivou a lavra desta Carta...”

Por: Michael F. Schmidlehner

Carta aberta para Maria Bethânia. 23972.jpeg
Prezada Maria Bethânia,

Tomo a liberdade de escrever esta carta em protesto contra sua participação na campanha "A Natureza está falando"  da Organização Não Governamental Conservação Internacional (CI). Percebo que a senhora se entende como uma pessoa espiritualmente ligada à natureza. Recentemente assisti uma entrevista sua na TV. Nesta entrevista a senhora falou que, antes de aceitar ser enredo da Mangueira, consultou seus guias espirituais para obter autorização. A principio considero muito boa esta atitude. Entretanto sinto que sua participação na campanha supracitada pareceu-me contraditória com a referida atitude. A seguir exponho as razões desse estranhamento que motivou a lavra desta Carta.

Inicio compartilhando algumas informações que possam ajudar esclarecer em que consiste na minha avaliação o propósito desta Organização Não Governamental (ONG). Tendo trabalhado algum tempo com uma ONG, hoje entendo que tem três principais perguntas que podem revelar os interesses que movem uma ONG: Quem a dirige? Quem a financia? Quais as relações entre dirigentes e financiadores? Vejamos, através de alguns exemplos, como estas questões se comportam no caso da CI.

A maior empresa do mundo - Walmart - é uma das principais parceiras da CI. O ex-presidente e filho do fundador desta empresa, o multibilionário Rob Walton ao mesmo tempo é presidente do comitê executivo da CI. Walmart vem sendo veementemente criticado por violar direitos trabalhistas no mundo inteiro, por explorar trabalho forcado na China e por causar uma gigantesca pegada ecológica.  A parceria com este gigante das ONGs é estratégica para Walmart por duas razões. Primeiro o melhoramento da imagem publica da empresa.   Segundo, os projetos conservacionistas da CI (principalmente os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal - REDD) em grande parte objetivam a emissão de certificados de "emissões de carbono evitadas". Estes certificados podem ser usados por empresas como Walmart, para "compensar" as emissões por ela causadas. Ao invés de mudar suas praticas ambientalmente destrutivas, a empresa pode - com relativamente pouco dinheiro - "apagar" sua pegada ecológica e tornar-se "carbono neutral".  Através de um dos projetos facilitados pela CI no Brasil, por exemplo, Walmart pretende "evitar" a emissão de 458 milhões de toneladas de carbono na floresta Nacional do Amapá.
A maior parte das receitas da CI provem de empresas e fundações, sendo grande parte destas fundações por sua vez ligadas às corporações, ricos empresários ou bancos (por exemplo Fundo Filantrópico Goldman Sachs, Fundação Walt Disney, Fundação Coca Cola, Fundação Margaret A. Cargill etc.).

De fato, estes projetos tendem a resultar em criminalização e até expulsão dos povos da floresta, que são forçados a abandonar suas tradicionais praticas de subsistência. Em Botswana, por exemplo, onde a CI apóia o governo na implementação de políticas conservacionistas, centenas de indígenas foram espancados, presos e expulsos de áreas de proteção ambiental. Trata-se de uma reserva, onde o governo do país quer explorar minas de diamantes e extrair gás de xisto (fracking).  A CI se defendeu contra as acusações com uma nota, alegando que não teria envolvimento em tais ocorrências, mas que não poderia ser responsabilizada por eventuais evicções promovidas pelo governo de Botswana. Entretanto, a nota não menciona o fato que o Sr. Ian Khama - o próprio Presidente deste país africano - integra a diretoria da ONG (CI) .

A CI ainda promove pesquisas e atividades de bioprospecção em terras indígenas e em regiões de grande Biodiversidade (biodiversity hotspots), frequentemente em parceria com empresas, tais como Monsanto e Novartis. Estas atividades são percebidas por ONGs críticos e comunidades indígenas e como biopirataria e biocolonialismo. Eles acusam a CI, alem de criminalizá-los, de roubar seu conhecimento tradicional e de se apropriar de recursos biológicos, monopolizando e mercantilizando-os.

Empresas petrolíferas, exploradoras de carvão e empresas de energia, cientes do fato que a queima dos combustíveis fosseis são a principal causa da crise climática, hoje tem grande interesse no melhoramento da sua imagem e na possibilidade de compensação de emissões, que deve permitir que eles continuam seu negocio como sempre. Por isso não é de estranhar que encontramos nomes como BP, Shell, Cerrejon Coal,  etc. na lista dos parceiros da CI. A organização justifica suas parcerias com as empresas poluidoras, argumentando que ela trabalharia para melhorar as práticas ambientais das mesmas. Na pratica não podemos ver muitos resultados deste trabalho da ONG. Ela parece mais viabilizar meios para que as corporações possam comprar seu caminho fora da responsabilidade e continuar com suas práticas destrutivas.

No Brasil, a Petrobras é parceira da CI. Aqui o entrelaçamento de interesses entre os dois obviamente vai além da sua parceria oficial. O multibilionário brasileiro André Esteves preenche (juntos com o ator Harrison Ford) o cargo de vice-presidente do conselho da CI. Em 1992 Esteves foi acusado de ter pagado R$ 6 milhões em propinas para Fernando Collor. A quantia teria sido repassada a Collor para que a BR Distribuidora - subsidiária da Petrobrás - cedesse sua bandeira para uma rede de 120 postos de combustíveis controlada pelos empreendimentos de Esteves. Uma das empresas de Esteves ainda vende equipamentos para exploração de petróleo para a Petrobras. Acusado de ter pagado propina na compra de ativos da Petrobrás na África e de ter tramado contra a operação Lava Jato, Esteves foi preso em novembro do ano passado e responde por processo criminal. A CI apresenta seu vice-presidente Esteves no seu site como "conservacionista", sem maiores explicações. Temos que perguntar: como Esteves chegou a ter esta posição na CI? Que faz dele uma "conservacionista"? Em que consiste este conservacionismo da CI?

O rompimento da represa em Mariana em novembro de 2015 é considerado o maior desastre ambiental que já teve no Brasil. A mineradora Samarco que é responsável pelo desastre é propriedade da Vale S.A. (50%) e da empresa anglo-australiana BHP Billiton (50%). Ambas as corporações tem parceria com a CI. Houve um laudo independente do instituto Pristino em 2013, que apontava para o perigo de rompimento, e que foi ignorado pela Vale e pela BHP Billiton. Mas por que a CI ignorou este laudo? Sendo ela parceira ambiental destas Multinacionais, não teria sido sua responsabilidade de pressioná-las para que tomem medidas? Ou seja, a CI não poderia ter evitado este desastre? E depois do desastre: enquanto a população brasileira (juntos com algumas organizações financeiramente independentes das empresas) protestava para que as corporações se responsabilizassem, a CI (assim como outras ONGs que recebem dinheiro da Vale) ficou praticamente quieta, se restringindo a analises técnicas sobre o ocorrido.

Assim como as indústrias poluidoras, as empresas petrolíferas e as grandes instituições financeiras, a indústria de armas também tem seus interesses entrelaçados com os da CI.  Wes Bush, o presidente da empresa Northrop Grumman é tambem membro da diretoria da CI. Produtos da Northrop Grumman são, por exemplo, o bombardeiro "Stealth B-2" e o drone "Global Hawk", utilizadas entre outros, nas guerras que os EUA promoveram em Afeganistão e no Iraque para manter seu controle sobre o petróleo nestas regiões. Neste momento estes mesmos equipamentos efetuam bombardeios na Síria.  Em 2011, a corporação faturou com seus produtos acima de 26 bilhões de dólares. Neste mesmo ano, a Fundação Northrop Grumman doou 2 milhões (menos que um milésimo do faturamento) para a CI. Em contrapartida, a ONG confere à empresa a reputação de responsabilidade ambiental. No site da CI consta: "CI colabora com Northrop Grumman [...] para permitir que a empresa possa demonstrar impactos positivos de suas operações comerciais. As atividades específicas incluem uma análise das melhores práticas, protocolos recomendados para a medição de áreas de impacto (energia, água, resíduos e ecossistemas) [...]".  Impactos positivos?!

Novamente: em que consiste afinal o conservacionismo da CI? O que ela realmente conserva? Sinto que - mais que a conservação da natureza - o propósito fundamental da CI é a conservação de um sistema. Ela contribui na conservação de estruturas de poder e de interesses particulares de indústrias e do capital financeiro. Estes mesmos interesses e estruturas querem levar nosso planeta à destruição. Lutar contra eles hoje é uma questão de sobrevivência. Não podemos consentir ou colaborar com a maquiagem verde que organizações como a CI vendem para estas corporações!

Os povos indígenas andino-amazônicos levam muito a sério a idéia da natureza como ser vivo e sujeito falante. Em 2010 representantes destes povos proclamaram na Bolívia os Direitos Universais da Natureza e desde então se reúnem anualmente para ouvir denuncias de crimes contra a natureza. Praticas da CI, tais como os mencionados projetos REDD que visam a mercantilizarão da natureza e o encobrimento de crimes contra ela estão sendo denunciados e julgados neste fórum, e um grande número dos parceiros da CI está na banca dos réus.

O "ambientalismo dos conservadores do sistema" que vem sendo praticado pela CI e outras grandes ONGs tende a produzir em suas propagandas imagens da natureza selvagem, intocada, sem gente. Estas imagens condizem à pretensão deste sistema de transformar florestas, rios e oceanos em capital disponível sem interferência humana (sumidouros de carbono, serviços ecossistêmicos comerciáveis etc.). Ignorando as intimas ligações, os inúmeros processos de co-evolução entre comunidades, plantas e bichos, imagens como estas nos vídeos da CI acabam afirmando nossa separação da natureza. Assistindo-os, sentimos por um curto momento uma espécie de admiração por uma natureza irreal e romantizada, enquanto de fato ela nos escapa ainda mais. Esta comoção superficial faz que continuemos cegos diante as atrocidades muito reais que o sistema produz,  tanto contra a natureza, quanto contra as pessoas que dependem dela.

Acredito firmemente que, quando nos re-conectamos com a natureza dentro de nos nós (sendo nós parte dela), ela cobra de nós um grau cada vez mais elevado de discernimento, de vigilância e de disposição de lutar por ela. Peço que a senhora faça esta consulta, tanto no mundo dos fatos, quanto no mundo espiritual, para reavaliar sua participação na mencionada campanha e considerar a retirada do seu apoio a ela!

Espero que minhas palavras não a tenham ofendido. Certamente esta não foi minha intenção. Ao contrário, quero convidá-la para conhecer melhor os movimentos populares que se criam em reação à crise planetária, em defesa dos direitos da natureza e em oposição contra as falsas soluções do ambientalismo de mercado. Seria um grande ganho para esta luta contar com seu apoio e solidariedade.

Atenciosamente,

Michael F. Schmidlehner

quinta-feira, 10 de março de 2016

Qualquer solução que atenda a lógica do mercado (...) nega a ética, diz Nota da CNBB

Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.

A CNBB - Conferência Nacional do Brasil, divulgou nota onde manifesta preocupação com o momento atual do Brasil. A nota demonstra que, antes de tudo, vivemos uma crise de referência ética e moral que se manifesta na crise política e econômica, ou ainda que estas últimas decorrem da primeira. 

Diz ainda mais: "Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça." Ficando assim explícito que a questão que sustenta tudo e aparece como mal maior são os interesses do mercado e dos partidos, todos a serviço deste mesmo mercado. A crise ética portanto, não passa de debates sobre como se pode assaltar os cofres públicos e ainda assim seguirem pousando de santos.

Isso lembra que só temos atualmente o direito de escolher a cor azul ou vermelha, ou como diz o ditado, o povo elege a coleira.

Eis a nota:

NOTA DA CNBB SOBRE O MOMENTO ATUAL DO BRASIL
“O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)
Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).
Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.
A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. 
As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.
O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.
Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.
Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11). 
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!
Brasília, 10 de março de 2016.

Dom Sergio da Rocha                              Dom Murilo S. R. Krieger
    Arcebispo de Brasília-DF                     Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA
   Presidente da CNBB                         Vice-Presidente da CNBB

      Dom Leonardo Ulrich Steiner
         Bispo Auxiliar de Brasília-DF

Democracia entre golpes

Publicado no blog Insurgente Coletivo
Israel Souza[1]
            Em uma passagem de O capital, Marx fez referência a um provérbio inglês, segundo o qual, “quando dois ladrões brigam, algo de útil acontece. Realmente, a luta ruidosa e apaixonada entre as duas facções da classe dominante, para determinar qual delas explorava mais cinicamente o trabalhador, serviu para revelar o que havia de verdadeiro dos dois lados” (MARX, 2003: 782).
O autor se referia aí à briga que se desenrolava entre a “aristocracia da terra” e a “burguesa industrial”. Mas, particularmente hoje, essa passagem faz lembrar o atual cenário político brasileiro e os conflitos entre as duas facções da direita que ora se desenrolam.
Para a “facção azul” (encabeçada pelo PSDB e consortes), o Brasil está entre a democracia e uma ditadura comunista ou bolivariana. Por essa ótica, a democracia só poderia prevalecer se o atual governo caísse e ela assumisse. Para a “facção vermelha” (encabeçada pelo PT e consortes), o país está entre a democracia e uma ditadura fascista. Neste sentido, a democracia depende da permanência do atual governo e da derrota (ou contenção) de seus inimigos, os golpistas.
Ambas as facções arrogam para si a tarefa de defender a democracia contra um golpe, contra uma ditadura. Embora acostumadas a mentir à sociedade, ao se acusarem, “algo de útil acontece”. Dizem a verdade uma da outra. Ambas são golpistas e antidemocráticas. São as principais responsáveis pela involução democrática dos últimos anos, fragilizando e/ou desmantelando as conquistas da Constituição de 1988.
Profundamente corrupta, a facção azul acusa a corrupção nas forças governistas apenas para miná-las, visando a ocupar o lugar que hoje elas ocupam. Pouco lhe importa a democracia. Por seu tempo, enredadas até a medula em corrupção, as atuais forças governistas repetem um roteiro já nosso conhecido. Toda vez que acuadas, denunciam perseguição dos outros e invocam o apoio da esquerda contra o golpismo e a favor da democracia. É sempre assim.
Nesses momentos, gritam coisas como “O golpe é contra você”, “O golpe é contra milhões de brasileiros”, “O golpe é contra a democracia”, “O golpe é contra os trabalhadores e os pobres”, “O golpe é contra toda a esquerda” etc. E assim, invertendo por completo a ordem das coisas, tratando uma disputa político-partidária como se fora a própria luta de classes, tentam nos fazer crer que é a democracia e a esquerda que dependem do PT e não o contrário. Com efeito, a democracia não estaria tão fragilizada e a esquerda tão enlameada, não fosse a atuação dos governos petistas.
Em verdade, o golpe que a facção azul da direita brasileira pretende dar em nossa democracia a facção vermelha está dando. A entrega do pré-sal (proposta por José Serra (PSDB) e acolhida pelo governo), reforma da previdência, aprovação da lei antiterrorismo, possível congelamento do salário mínimo (aventado por representantes do governo) são alguns dos fatores que mostram o quanto estão irmanadas em seus intentos antidemocráticos e golpistas. A democracia brasileira está entre golpes.
Dessa forma, o conflito que se desenrola hoje no país não é entre um grupo democrático e outro golpista. Ambos são golpistas. Ambos pretendem sangrar a democracia. Só divergem em como sangrá-la. Agora que os conflitos se acirram e parece difícil um recuo, não devemos desejar senão que se arruínem e se devorem entre si.
Nesse momento em que mais desabridamente favorece os de cima e encurrala os de baixo, o PT já não merece nem apoio nem solidariedade dos trabalhadores. Teve todas as chances de que precisou para reorientar o governo, as que mereceu e as que não mereceu; e, ainda assim, não o fez. Não há desculpas. A classe trabalhadora e as forças democráticas já não podem quedar-se reféns suas. Precisamos trilhar outro caminho, independente, verdadeiramente alternativo.
É chegada a hora de o PT colher abundantemente o que abundantemente plantou.

Referências bibliográficas

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.




[1] Cientista Social, com habilitação em Ciência Política e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO). Email: israelpolitica@gmail.com

quarta-feira, 9 de março de 2016

DIA DA TERRA PALESTINA


Onde: Auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFH - UFSC - Campus Trindade - Florianópolis - SC
Dia: Quarta-feira, 30 de março de 2016
Horário: de 18 a 21 h
PROGRAMAÇÃO
18 a 18:10 h - Apresentação do Evento ao Público
18:15 às 19:20 h - Palestras e Debate: “História do sionismo e a luta contemporânea pela liberação da Palestina.”
Mesa apresentada por Allan Kenji, com a mediação da socióloga e representante do Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino Silvinha e os palestrantes: 
Hasan Félix, pesquisador antropólogo, escritor e artista plástico, autor do livro Vítimas de um apartheid ou ativistas silenciosos do fascismo?, cubano 
Tali Feld Gleiser, jornalista, tradutora, escritora, ativista do Movimento BDS e diretora geral de jornalismo do Portal Desacato, autora do livro Uma Judia na Palestina, chilena.
19:20 às 19:45 h - Apresentação e lançamento do livro de poesia de autoria de Yasser Jamil Fayad “Nosso verbo é lutar: somos todos palestinos” e apresentação de fotos de Baby Siqueira, Tali Feld Gleiser e Silvinha.
19:45 às 21 h Palestras e Debate: “Existência Israel, Resistência Semita”.
Mesa apresentada pelo jornalista Raul Longo com a mediação da socióloga e representante do Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo PalestinoSilvinha e os palestrantes:
Baby Siqueira Abrão, jornalista, descendente de família palestina, ex-correspondente no Oriente Médio do BDF, sediada na Palestina, pesquisadora da história e da política daquela região, 
Khader Othman, Membro do Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino, nascido na Palestina. 
O que é o Dia da Terra: O Dia da Terra é comemorado desde 30 de março de 1976, quando as autoridades de ocupação israelense confiscaram milhares de hectares de terras palestinas, especialmente nos territórios ocupados em 1948 e regiões da Galileia com maioria palestina. Naquela ocasião, foi declarada uma greve geral contra o confisco de terras em todo território da Palestina ocupada em 1948, desde a Galileia, no norte, até o Negev, no sul. As manifestações se estenderam na Cisjordânia, Faixa de Gaza e nos campos de refugiados e houve confrontos com as forças de ocupação nas aldeias de Sakhnin, Arraba e Deir Hanna. Seis palestinos foram assassinados, centenas de feridos e milhares de presos. 

Você é nosso convidado para participar deste importante evento! Participe e divulgue!

Contatos:

Editores RECOs
editores_recos@terra.com.br

sexta-feira, 4 de março de 2016

Desmistificando REDD e Serviços Ambientais por Michael F. Schmidlehner.

“A principal intenção destas apresentações é de desmistificar REDD e Serviços Ambientais, divulgando informações criticas acerca destas políticas em linguagem acessível, e incentivando pessoas para que encararem este assunto e participarem dos diálogos da sociedade civil sobre o mesmo.
Sobre Michael F. Schmidlehner: Filósofo pela Universidade de Viena, austríaco nato e brasileiro naturalizado, Michael vive no Acre desde 1995, onde vem trabalhando como professor de filosofia e atuando como pesquisador e ativista nos contextos de justiça climática e ambiental “
Michael F. Schmidlehner. Foto Lindomar Padilha

Quatro vídeo-apresentações disponíveis online

Por Amyra El Khalili (Aliança RECOs)

Que significa REDD? Que significa pagamentos por Serviços Ambientais? Em que consistem estes mecanismos, que ganham cada vez mais importância nas políticas climáticas e ambientais e afetam cada vez comunidades dentro e fora das florestas? De fato, a sociedade ainda possui muito pouco conhecimento sobre este assunto, geralmente considerando-o de difícil compreensão e deixando-o nas mãos de especialistas. Existe, todavia um crescente numero de pessoas que questionam tais políticas e se organizam em protestos contra sua implementação. Neste contexto se inserem as quatro vídeo-apresentações disponibilizados na web por  Michael F. Schmidlehner .
O primeiro vídeo traz uma explicação do mecanismo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal) e de Serviços Ambientais a partir da problemática do clima. Quais as principais causas da mudança climática? Como a comunidade internacional vem lidando com isso? A intenção inicial da ONU-Convenção do Clima,  de efetivamente reduzir a emissão de gases de efeito estufa, foi gradativamente substituída por uma lógica de compensação de emissões, viabilizando assim os mercados de carbono. Olhando mais de perto para os projetos REDD , enxergamos que se trata de soluções falsas, promovidas pelos interesses particulares de industrias poluidoras, ONGs intermediadoras e de especuladores.
No segundo vídeo, impactos dos projetos REDD e PSA (Pagamentos por Serviços Ambientais) são observados. Projetos REDD privados no Acre assim como uma política de “economia verde” promovida pelo governo deste estado  são freqüentemente citados como experiências pioneiras e bem-sucedidas. No entanto, os exemplos do Acre revelam justamente o contrário: Acirramento de conflitos, violações de direitos ameaça à soberania alimentar das comunidades dependentes da floresta e a tendência de desempoderar e criminalizar estas comunidades.
A terceira parte analisa o resultado da última conferencia  do clima, o Acordo de Paris. Este acordo - aplaudido e  elogiado por governantes e pela grande mídia - de fato representa mais um grande retrocesso.  As metas de redução do aumento da temperatura não foram ancoradas em medidas correspondentes. Os países industrializados – e principais responsáveis pelas emissões - não assumiram sua responsabilidade de ajudar os países pobres para lidar com a crise climática. Ao contrário, a transformação das florestas nos países do sul em “sumidouros de carbono” e a implementação das tecnologias da Geoengenharia, após o Acordo de Paris,  se apresentam como oportunidades de negocio para aqueles que causam a crise climática.
Após ter exposto nos três primeiras vídeos as ameaças que as políticas de REDD e Serviços Ambientais representam, a quarta parte da apresentação busca identificar reações e propostas alternativas que surgem a partir da sociedade civil em reposta à crise. Um movimento vem se criando, opondo-se contra as falsas soluções que empresas, governos e a ONU querem impor. Mais e mais pessoas reconhecem a necessidade de uma mudança paradigmática da nossa convivência na terra, propondo visões alternativas.
A principal intenção destas apresentações é de desmistificar REDD e Serviços Ambientais, divulgando informações criticas acerca destas políticas em linguagem acessível, e incentivando pessoas para que encararem este assunto e participarem dos diálogos da sociedade civil sobre o mesmo.
Sobre Michael F. Schmidlehner: Filósofo pela Universidade de Viena, austríaco nato e brasileiro naturalizado, Michael vive no Acre desde 1995, onde vem trabalhando como professor de filosofia e atuando como pesquisador e ativista nos contextos de justiça climática e ambiental.
Assista as vídeo-apresentações aqui:
ou aqui:

quinta-feira, 3 de março de 2016

CONROA - Coalición Nacional de Redes y Organizaciones Ambientales de Honduras divulga nota depois do assassinato de Bertha Cáceres

Bertha Cárceres. Imagem da internet
Este blog quer manifestar profundo pesar pelo assassinato da líder indígena e militante das cousas socioambientais Bertha Cárceres, em Honduras. Lá, como aqui no Brasil, os povos indígenas são vítimas de toda sorte de violência não raras vezes assassinatos. A radicalização dos financeiristas e mercantilizadores da natureza atinge um nível jamais pensado. Nesta nova fase de reorganização do capital e de nova forma de concentração, via mecanismos de financeirização da natureza também chamados ironicamente de economia verde, os ataques aos territórios se intensificaram.

Reproduzo aqui a nota da CONROA como se deste blog fosse.

La Coalición Nacional de Redes y Organizaciones Ambientales de Honduras (CONROA) se pronuncia ante el asesinato de la compañera dirigente Indígena y defensora de Derechos Humanos Bertha Cáceres.

Bertha Cáceres como dirigente del COPINH formó parte de nuestra articulación social y participó conjuntamente con más de una treintena de redes y organizaciones sociales en la defensa del territorio nacional en contra de las concesiones hidroeléctricas y mineras que los distintos gobiernos han realizado a favor de corporaciones internacionales y de grupos económicos, políticos y militares de este país.

Nuestra organización coordinadora, el Centro Hondureño de Promoción para el Desarrollo Comunitario (CEHPRODEC) coordinó con el COPINH, bajo la dirigencia de Bertha Cáceres, múltiples actividades de resistencia y rechazo de las compañías hidroeléctricas que se han ido apropiando de los ríos y demás bienes naturales de los departamentos de Intibucá y La Paz.

El cobarde asesinato de Bertha Cáceres, ocurrido en la madrugada de este 3 de marzo, en primer lugar puede considerarse una escalada represiva de la élite empresarial de este país, en franca colusión con el presidente Juan Orlando Hernández y sus distintos cuerpos represivos, orientado a llevar adelante su recién lanzado programa económico 20/20 que pretende impulsar la generación eléctrica mediante la operación de las concesiones hidroeléctricas.

Sin lugar a dudas el asesinato de Bertha Cáceres parece querer amedrentar a todas las organizaciones defensoras de los ríos, los bienes Naturales, la tierra y los territorios. Nos envía el mensaje de desmovilización para dar lugar a los negocios que Juan Orlando Hernández, Gladys Aurora López  y demás miembros del Partido Nacional hacen con la geografía hondureña.

Ante estos hechos, anunciamos:

1.       Que la CONROA se mantiene en alerta permanente hasta  que se esclarezcan los hechos, se encuentre a los autores materiales e intelectuales del asesinato de Bertha Cáceres y se aplique los castigos que corresponde.
2.       La CONROA condena al gobierno de Juan Orlando Hernández, sus policías, las fuerzas armadas, al partido nacional,  a la élite empresarial de este país y a las transnacionales de las hidroeléctricas como culpables del asesinato de Bertha Cáceres, hasta en tanto no se esclarezca de otra forma los hechos y las causas de esta barbarie.
3.       Una próxima movilización social en Tegucigalpa y el resto de las ciudades importantes en este  país  en respuesta a esta escalada de exterminio que parece haber reiniciado el régimen de Juan Orlando Hernández.


Tegucigalpa 3 de marzo de 2016

Coalición Nacional de Redes y Organizaciones Ambientales
CONROA

quarta-feira, 2 de março de 2016

Movimento global “Liberte-se dos combustíveis fósseis” mobilizará milhares de brasileiros em quatro estados

“Não podemos nos omitir nem deixar de nos posicionar em favor daqueles que são os guardiões das florestas e das águas. Se o povo, o proprietário hereditário dos bens comuns, decidir que o ouro, o petróleo e o gás de xisto, dentre outros minérios, devem ficar debaixo do solo para que possamos ter água com segurança hídrica e alimentar, que sua vontade soberana seja cumprida.”  Amyra El Khalili
(A lógica perversa do capitalismo verde - http://port.pravda.ru/science/17-12-2014/37769-capitalismo_verde-0/)

Meu comentário: Aqui no Acre, fazemos parte deste importante movimento contra os combustíveis fósseis e desde 2007, quando o então senador da república Tião Viana, hoje governador do Estado, iniciou suas investidas para forçar a população a concordar com o projeto de exploração de petróleo e gás na região do Vale do Rio Juruá, que, segundo ele, será a redenção econômica do Estado. A imprensa "paga" e subserviente se encarregou de propagandear os inúmeros benefícios advindos da exploração. Entretanto, nenhuma palavra foi dita, por exemplo, sobre os prejuízos ao ambiente e as comunidades imediatamente afetadas, como os povos indígenas e ribeirinhos além de ser a região de nascedouros de importantes rios que abastecem a bacia amazônica, simplesmente a maior bacia hidrográfica de água doce de superfície do mundo. 

Este blog e o CIMI, desde então, juntamente com a Diocese de Cruzeiro do Sul e outros tantos e outras tantas pessoas de boa vontade, iniciamos uma grande onda de mobilização da sociedade no sentido de esclarecer sobre os inúmeros e irreparáveis danos ao ambiente e às pessoas. O CIMI todos os anos realiza um seminário em Cruzeiro do Sul sobre o tema e tem investido muito na defesa dos interesses dos povos indígenas e do ambiente, do qual essas populações são ao mesmo tempo defensoras e dependentes. Evidentemente que temos sofrido inúmeros ataques, ameaças, calúnias e toda sorte de perseguição mas, como diria meu velho e saudoso pai, "ninguém joga pedra em árvore que não dá fruto".

Como resposta direta aos resultados da COP 21, insuficientes para conter as mudanças climáticas, a 350.org Brasil e parceiros organizam em quatro estados a ação global “Liberte-se dos combustíveis fósseis” (Break Free). A ação será realizada entre 1 e 15 de Maio, simultaneamente em diversos países para mostrar à indústria dos combustíveis fósseis que queremos um futuro renovável e com água limpa.

Organizada pelo movimento climático 350.org e entidades parceiras como a COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e pela Sustentabilidade, a campanha será lançada com objetivo de mobilizar milhões de pessoas no mundo para pressionar a indústria do hidrocarboneto e os governos locais a manterem os combustíveis fósseis no subsolo e acelerar a transição justa para 100% de energia renovável e para um futuro sustentável para todos nós.

“Estamos organizando junto com comunidades tradicionais uma série de eventos em vários estados, com apoio de centenas de entidades e voluntários, para demonstrar que nós, cidadãs e cidadãos brasileiros, vamos lutar para que os combustíveis fósseis fiquem no subsolo”, afirma Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.
Vários países estão se mobilizando para se libertar dos combustíveis fósseis, entre eles Estados Unidos, Canadá, Espanha, Alemanha, Indonésia, Filipinas e Nigéria. No Brasil, está sendo articulada uma programação escalonada em quatro regiões: Vale do Juruá, no Acre, Usina Termoelétrica Pecém no Ceará, no Estaleiro de Jurong Aracruz no Espírito Santo e em Londrina e Maringá, no Paraná.
Para maiores informações sobre as ações e detalhes da campanha, acesse www.liberte-se.org e saiba como participar.
A expectativa é que um número nunca antes visto de pessoas se comprometa a participar de ações que desestabilizem o poder da indústria, tendo como alvo os projetos ligados aos combustíveis fósseis mais perigosos e desnecessários ao planeta e apoiando as soluções climáticas mais ambiciosas.
“Cada um é peça fundamental neste processo, e será responsável por algo grandioso, que nenhuma outra organização já fez no mundo: mobilizar milhares de pessoas para dizer não aos fósseis em algum grande projeto”, destaca Nicole.
Mudanças Climáticas
350.org Brasil defende o desinvestimento nos combustíveis fósseis para conter as mudanças climáticas e mostrar que as energias renováveis são fundamentais para construirmos o futuro justo e sustentável do qual precisamos.
Nicole lembra que 2015 foi ano mais quente da história, já que as emissões ultrapassaram 400 partes por milhão (ppm) de concentração de CO² na atmosfera. “Só estaremos seguros caso consigamos reduzir para 350 ppm. Para isso, teremos que promover uma mudança histórica e global em nosso sistema energético, e tem que ser agora”, alerta.
Não Fracking Brasil
Parceiro da 350.org Brasil na ação “Liberte-se dos combustíveis fósseis”, o coordenador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e pela Sustentabilidade, Eng. Dr. Juliano Bueno de Araujo, ressalta a importância do engajamento das entidades organizadas da sociedade, parlamentares e população: “Queremos ser donos do nosso destino e chegou a hora de dizer que não vamos admitir que a indústria do hidrocarboneto continue a colocar a nossa vida em risco”.
Fundador da COESUS, Juliano desenvolve no Brasil desde 2013 a campanha contra o fraturamento hidráulico, chamado FRACKING, tecnologia altamente poluente para extração de petróleo e gás de xisto do subsolo.
Além de contaminar a água, tornar o solo improdutivo, poluir o ar e causar câncer nas pessoas e animais, fracking é um dos principais causadores das mudanças climáticas pela emissão sistemática do metano. Não bastasse, o fraturamento hidráulico também já está associado à ocorrência de terremotos.
Também pode ser lido AQUI