terça-feira, 31 de julho de 2018

Relatório REDD Early Movers (REM) no Acre

O relatório REDD Early Movers (REM) no Acre, Brasil compara a promessa da redução das emissões de carbono causadas pelo desmatamento mediante incentivos financeiros com a implementação de medidas REDD+ no âmbito do programa REM (REDD Early Movers) no Brasil. Faça o download do relatorio em pdf .

A inclusão do REDD+ como instrumento de proteção florestal e climática nas negociações da ONU sobre o clima desde 2005 suscitou muitas expectativas. Já se falava de uma mudança de paradigmas na proteção das florestas tropicais, com a promessa de cessar o desmatamento ao tornar a mata intacta mais valiosa do que a desmatada.

Sabemos que, se houve uma mudança de paradigma, foi porque o REDD levantou a falsa impressão de que o pequeno agricultor é agente de desmatamento. E o desmatamento continua com a mesma velocidade, ou até acelerou. Isso porque nem as medidas de REDD+ demonstram muito interesse pelos atores responsáveis pelo desmatamento em larga escala, nem esses agentes de desmatamento em larga escala demonstram interesse pelo REDD+, uma vez que, para aqueles que mais contribuem para o desmatamento, a destruição das florestas continua sendo muito mais rentável do que as receitas provenientes do REDD+.

O relatório REDD Early Movers (REM) no Acre, Brasil compara a promessa da redução das emissões de carbono causadas pelo desmatamento mediante incentivos financeiros com a implementação de medidas REDD+ no âmbito do programa REM (REDD Early Movers) no Brasil.

REM é um programa piloto por meio do qual o governo alemão destina recursos para estados que começaram antes que outros com a implementação do chamado REDD+ jurisdicional. É um programa baseado na suposta redução das emissões de carbono em toda a jurisdição estadual, como o estado do Acre. O programa piloto foi criado para promover financiamento aos governos que demonstraram interesse no mecanismo REDD+ assim que o debate sobre ele foi iniciado, de modo a recompensá-los pela “ação pioneira” e pela contribuição na forma que o REDD+ tomou nas negociações climáticas da ONU.

A presente publicação é uma versão resumida da publicação em alemão ‘REDD Early Movers. Ergebnisbasierte Zahlungen ohne klimarelevante Ergebnisse?. Essa versão original inclui também uma breve descrição dos programas REM no Equador e na Colômbia. A publicação pretende contribuir com o debate sobre REDD+ na Alemanha, um dos principais financiadores de iniciativas REDD+, junto com a Noruega e a Grã-Bretanha. O relatório está enfocado em questões de contabilidade e nas contradições presentes na teoria do instrumento de REDD+. Achamos esse um debate importante também para o WRM compartilhar, complementando as publicações sobre os impactos de atividades REDD+ no território de comunidades.  Faça o download do relatorio em pdf

Meu comentário: Aqueles que se beneficiam dos milhões de EUROS vindos do principal banco de Desenvolvimento da Alemanha, KFW, evidentemente escondem a verdade e mentem para as comunidades. Chegam mesmo a dizer que este recurso, aliás imenso, "é uma doação do banco" como se fossemos estúpidos  o bastante para acreditar que banco dá dinheiro sem que receba algo em troca. Este relatório, como vários outros documentos publicados pelo WRM, CIMI e outras instituições honestas e honradas, escancara mais uma vez a farsa do programa REM no Acre e denuncia as falsas soluções para o clima.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO: ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS

"As comunicações sobre a verdade são apenas versões da verdade verdadeira. E isso abre uma larga avenida para a manipulação da informação."

Por Vilmar Berna*
Enviado ao blog por Amyra El Khalili
Tanto as boas quanto as más notícias fazem parte da verdade, mas divulgar apenas uma e esconder a outra é uma prática desonesta adotada com muita frequência tanto por administrações públicas quanto privadas - e também pelos que lhes fazem oposição.
diamundialdascomunicacoes2018O problema com a verdade é que, embora ela exista de fato, o observador exerce uma influência sobre o que observou e sempre vai distorcer a sua versão dos fatos, em tese, não por alguma maldade ou por que queira enganar, mas por que cada um de nós é um ser único, com história, informações, valores, compromissos e comprometimentos, ideologias etc, diferentes uns dos outros e ao comunicarmos sobre alguma coisa, um pouco de nós vai junto com a versão que dermos aos fatos.
Essa nossa incapacidade em transmitir os fatos verdadeiramente, não significa que a verdade não possa ser percebida. Ela apenas não pode ser divulgada tal como é de fato.
As comunicações sobre a verdade são apenas versões da verdade verdadeira. E isso abre uma larga avenida para a manipulação da informação.
Considerando que informação é poder, aos manipuladores não é um público bem informado que interessa, pois mudanças podem ser perigosas para certos interesses dos que estão no poder e se beneficiam dele. Uma sociedade bem informada pode fazer escolhas diferentes, pode mudar. E fica bem difícil esperar a verdade de quem tem vantagens com a desinformação do público. Quanto mais cegueira, mais escuridão, mais confusão, melhor.
Enquanto para uns só interessa revelar a parte da verdade que lhes favorece, aos opositores interessa o mesmo, só que ao contrário.
Não que seja mentiroso omitir parte da verdade, pois mesmo sendo parte, é verdade de qualquer forma - tanto para as boas quanto para as más notícias.
Logo, tão importante quanto avaliar uma mensagem, é a credibilidade da fonte. Sabendo disso, os manipuladores da informação nem se dão ao trabalho de debater ideias ou informações que contrariem seus interesses. Vão direto na desqualificação das fontes. Por exemplo, "fulano não tem credibilidade pois é pago pelos administradores. Ou, sicrano não tem credibilidade pois é da oposição".
Em tese, caberiam aos veículos da mídia e a seus profissionais de comunicação serem fontes isentas, confiáveis - isso se seus empregos ou sobrevivência econômica também não dependessem das verbas de publicidade públicas ou privadas.
"Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde." - a frase dita em 1994, pelo embaixador Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda no Governo FHC (Escândalo da Parabólica), ilustra bem essa filosofia. O ministro acabou tendo de renunciar por dizer uma verdade que todos sabem, mas que não pode ser dita.
O direito de pensar, de criticar, praticamente fica abolido. Na prática, é a Lei da mordaça, ampla, geral e irrestrita. Falar 'mal', divulgar notícia desfavorável a uma administração - seja publica ou privada - é coisa da oposição.
E o contrário também é verdadeiro. Um opositor que elogie o contrário é visto com desconfiança.
É como um diálogo de cegos, surdos e mudos, como aquela imagem dos três macaquinhos. As pessoas falam, mas ninguém escuta. E, se escutam, não acreditam. Escolheram acreditar apenas nas partes da verdades - ou em fantasias, ou em mentiras mesmo - já preestabelecidas. E escolhem fontes de informação que não contrariem suas verdades, mas ao contrário, que as fundamentem ainda mais. É como viver num mundo de Alices no País das Maravilhas, construído a sua própria imagem e semelhança. Como diz a canção, "eu só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder".
Muito poucos se interessam pela verdade desinteressadamente. Sendo poder, sempre haverá alguma vantagem na informação que se divulga. E vantagem não precisa ser só no sentido econômico. Existe vantagem na informação que empresta um sentido ao mundo, explica a realidade de um jeito que esteja do nosso agrado.
Muita gente pode preferir a meia verdade ou até mesmo a mentira, desde que alivie a dor. E ninguém está dentro do outro para saber onde doi, e o que dói.
Até promessas já comprovadamente falsas ainda podem continuar servindo como esperança - especialmente onde não se percebe mais nenhuma esperança.
A vida precisa tanto de esperança quanto precisa de oxigênio, a ponto de alguns se confortarem com falsas promessas, ideologias, mentiras, fantasias, com a consequência de colocar uma espécie de véu diante dos olhos.
O pior cego é aquele que não quer ver, e o pior entre os piores, é o que trama e manipula para que os outros não vejam.
Parafraseando Marina Colasanti, a gente se acostuma com as meias verdades e até com as mentiras, mas não devia.
A vida, sugeriu Sartre, é um equilíbrio entre escolhas e consequências. Se escolhemos aceitar conviver com meias verdades e mentiras confortáveis, seguiremos conduzidos como gado ao matadouro. "Eh, vida de gado, povo marcado, povo feliz!", denuncia a canção.
*Vilmar Berna é escritor e jornalista. Fundou a REBIA - Rede brasileira de Informação Ambiental. Edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.