Foto: Setor de imagens do Vaticano |
Nos dias 17, 18 e 19 de janeiro o Papa Francisco estará em visita ao departamento de Madre de Dios, em Puerto Moldonado, capital daquele departamento, no país vizinho, Peru. Na ocasião o Papa receberá uma delegação de indígenas de diversas partes da região amazônica. Do Acre, estão indo 42 lideranças que também terão a oportunidade de se expressar e apresentarão documentos.
O Papa tinha programado uma visita ao Brasil por ocasião da comemoração dos 300 anos de Nossa Senhora de Aparecida em 2017. Porém face à crise política no Brasil, o sumo pontífice decidiu por não vir ao Brasil optando por ir ao Peru. O Papa também convocou um sínodo episcopal tendo a Amazônia como tema. O sínodo dos bispos ocorrerá em 2019 no Vaticano.
A visita do Papo demostra uma grande preocupação com os povos indígenas e com toda a pan-Amazônia no contexto dos ataques ao meio ambiente e as falsas soluções propostas pelo capital associado a governos e ONGs pseudo ambientalistas e indigenistas. A presença do Papa na Amazônia também é uma convocatória para o sínodo e um chamamento para que todos nós, amazônidas, nos voltemos a nós mesmos com as responsabilidades que temos para com a nossa casa comum. Já na sua encíclica "Laudato si" o Papa escreve:
“A
estratégia de compra-venda de «créditos de emissão» pode levar a uma nova forma
de especulação, que não ajudaria a reduzir a emissão global de gases poluentes.
Este sistema parece ser uma solução rápida e fácil, com a aparência dum certo
compromisso com o meio ambiente, mas que não implica de forma alguma uma
mudança radical à altura das circunstâncias. Pelo contrário, pode tornar-se um
diversivo que permite sustentar o consumo excessivo de alguns países e
sectores.” (Carta
Encíclica Laudato Si, 171).
Fica clara a preocupação do Papa com projetos neocolonialistas como os de REDD - Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação, REM - REDD Early Movers, ou (Pioneiros nos programas de REDD) o que ele chama de "estratégia de compra e venda de Créditos de Emissão". Segundo o Papa, "Este sistema parece ser uma solução rápida e fácil, com a aparência dum certo compromisso com o meio ambiente, mas que não implica de forma alguma uma mudança radical à altura das circunstâncias".
O Acre é pioneiro na implementação desses projetos por meio de contratos e acordos com o governo da Califórnia, EUA e com a Alemanha por meio do Banco de desenvolvimento daquele país, o KFW. Para implantar esses projetos o governo tem se valido de ONGs, secretarias e mesmo dos povos indígenas, razão pela qual o Papa pretende ouvir também os povos indígenas. Ser pioneiro na implantação de projetos neocoloniais não deveria ser motivo algum de vanglórias ao contrário é motivo de vergonha.
Assim como os primeiros colonizadores se valiam de espelhinhos e outras bugigangas para roubarem os povos que aqui viviam e saquearem os nossos recursos naturais, assim também os neocolonizadores se valem de migalhas e até mesmo de contratações de alguns indígenas, sempre sem carteira assinada e quase sempre pagando abaixo do salário mínimo, para seguirem saqueando os territórios e nossos recursos naturais e ainda se dizem defensores da natureza.
"As medidas ditas compensatórias são na verdade uma espécie de cala boca e e servem para justificar a ampliação do direito de os países e empreses poluidoras seguirem poluindo e até aumentando os índices de poluição. É o que chamamos de créditos de poluição", disse a coordenadora do Conselho Indigenista Missionário-Cimi, Regional Amazônia Ocidental Rosenilda Padilha. "O Cimi é quem está bancando a viagem da delegação indígena, sem nenhuma ajuda de outras entidades o que demonstra uma falta de preocupação e interesse pelo tema aqui no Estado do Acre" acrescentou a coordenadora.
Dom Roque entrega o Relatório de violência ao Papa |
Dom Roque Palosch, presidente do Cimi também acompanhará a delegação indígena. Em conversa que mantivemos em reservado, Dom Roque revelou que além de acompanhar a delegação indígena, participará de uma reunião com outros bispos da Pan-Amazônia para refletirem sobre os problemas comuns e buscarem soluções igualmente comuns que não sejam contaminadas pelas faltas soluções e nem representem interesses e modelos vindos de fora que não respeitam as comunidades, as culturas e nem mesmo escutam a voz dos povos que aqui vivem.
A visita do lider supremo da Igreja Católica à amazônia e ainda mais ouvindo os povos indígenas, revela claramente uma tomada de posição na defesa dos povos indígenas e comunidades tradicionais e do que chamamos comumente de bens comuns (recursos naturais) e uma tomada de posição que deverá ser seguida por todas as igrejas locais, as dioceses, todos os bispos , padres e fiéis.
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