Foto: Lindomar Padilha - Cimi |
Cerca de 170
representantes de 16 povos do Acre iniciaram neste dia 11 de abril o ATL/AC
(Acampamento Terra Livre no Acre). A mobilização começou com uma marcha em
direção à diversos órgãos e instituições. A primeira parada foi na Coordenação
regional da Funai (Coordenação Alto Purus), coordenada por José Ciro Monteiro
Junior, que é fuzileiro naval. Esta primeira parada foi também a mais sintomática e
reveladora de quão grave está a situação dos povos indígenas. O coordenador não
recebeu as lideranças e se recusou até mesmo a dar uma explicação para tal
recusa. Mas, o fato ainda mais grave foi que, após a fala do Sr. Francisco
Saldanha, cacique do povo Jaminawa da Terra Indígena São Paolino, e como o
cacique se dirigia a um banheiro externo à Funai, o coordenador percebeu sua passagem e dirigiu-se
a ele nos seguintes termos: “É Francisco
você fala mal da Funai né? Portanto, não vou receber mais nenhum documento
vindo de vocês. Se quiser procure o Ministério Público”. Segundo depoimento
do cacique, a intenção era clara: no mínimo intimidar.
Diante da postura
intransigente e desrespeitosa, para dizer o mínimo, todas as lideranças que
tomaram a palavra repudiaram o comportamento do coordenador afirmando que o
mesmo não pode trabalhar com os povos indígenas e se tornou unânime o pedido de
demissão. Segundo as lideranças, o coordenador terá uma representação formal
contra ele e um pedido urgente de exoneração. Aliás, aproveitaram a parada no
MPF e OAB/AC para denunciá-lo e pedir que providências sejam tomadas.
Na Polícia Federal foram
recebidos em comissão e ouviu da PF um compromisso de acolher todas as demandas
que lhe forem apresentadas. No MPF o próprio procurador saiu de seu gabinete e
foi ao encontro das lideranças em um ato muito bonito. Também foi recebido com
muito afeto e sob gritos e falas de agradecimento pela atuação na defesa dos
direitos dos povos e no cumprimento de suas atribuições constitucionais.
Após todo o dia de
caminhada e visita aos órgãos, todos montaram acampamento em frente ao Palácio
do governo do estado e em frente a Assembleia Legislativa. Até o dia 14
permanecerão acampados e cumprindo uma extensa pauta marcada principalmente
pelo sucateamento da Funai, ICMBio e Ibama, propostas e projetos que atingem
diretamente os povos seus direitos e territórios, que segundo dados do Cimi são
33 propostas, reunindo mais de 100 projetos, ameaçam direitos indígenas. Outro
ponto a ser debatido trata das novas formas de violações de direitos
alimentadas pela chamada economia verde ou mercantilização e financeirização da
natureza por meio de projetos do tipo REDD+ e REM (Programa para Pioneiros em
REDD). Modelo que o Acre tem exportado como se estivesse dando certo, mas, na
verdade é parte da grande farsa das falsas soluções. Neste contexto, foi feito
também hoje, dia 12, pela manhã o lançamento da revista GOLPE VERDE: Falsas Soluções para o Desastre Climático (https://cimi.org.br/wp-content/uploads/2022/02/golpe-verde-cimi-ao.pdf).
O acampamento segue com
muita animação e com a promessa de grandes debates. Ao final, serão
apresentados encaminhamentos e um documento final que expressará todas as
demandas apontando para um outro futuro possível.
Criança Huni Kui em frente à Funai Foto Lindomar Padilha - Cimi |
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