quinta-feira, 20 de junho de 2024

Reflexões sobre a farsa e as fraudes nas Falsas Soluções

 

A SERVIÇO DE QUEM E DE QUÊ?

Reflexões sobre a farsa e as fraudes nas Falsas Soluções

 

Lindomar Dias Padilha[1]

 

O propósito aqui não é condenar nenhuma empresa ou país antecipadamente, mas mostrar que empresas e países que mais poluem o planeta, são os mesmos que se valem de investimentos de fundos ambientais para lavar o dinheiro e limpar de maneira falsa a sua imagem. O fundo Amazônia é abastecido justamente por investimentos dessas empresas. Portanto, não se pode falar em “doações” ao Fundo, mas de investimentos. É o caso da mega mineradora Hydro.

A Hydro é alvo de denúncias do Ministério Público Federal (MPF) do Pará e de quase dois mil processos judiciais por contaminação de rios e comunidades em Barcarena, no estado do Pará. E tem mais, segundo matéria da BBC News, além de enfrentar ações na Justiça, a empresa até hoje não pagou multas estipuladas pelo Ibama em R$ 17 milhões, após um transbordamento de lama tóxica em rios por uma de suas subsidiárias na região amazônica, em 2009. Segundo o Ibama, o vazamento colocou a população local em risco e gerou "mortandade de peixes e destruição significativa da biodiversidade".

Está ruim, pois, pode piorar ainda mais. A Noruega, país que mais investe no fundo Amazônia é também o maior acionista da empresa Hydro, megaprodutora mundial de alumínio.  Cerca de 94% dos recursos do fundo, são investimentos daquele país. A Noruega, o maior produtor de petróleo e gás da Europa ocidental, segue, sem demonstrar nenhum interesse em diminuir, explorando o petróleo e gás, ignorando as advertências sobre a emergência climática.

Então, dizer que os países e empresas que investem no Fundo Amazônia o fazem por amos e para defender a natureza, ou a Amazônia, e seus povos, é mais que mentira, é uma farsa. Farsa que o governo brasileiro segue alimentando, independente de quem esteja governando. Além de alimentar a farsa, o governo brasileiro, os investidores e até mesmo quem acessa esses recursos, alimentam ainda uma verdadeira máquina de lavar esse dinheiro que é sujo principalmente por ser advindo justamente da destruição da natureza. Tomemos o caso dos territórios indígenas:

Segundo a Constituição federal, Art. 231, a demarcação dos territórios indígenas bem como sua proteção, é dever da União. A União, por sua vez, para descumprir esta determinação constitucional, faz um zoneamento Ecológico Econômico a partir dos Estados e na sequência o etnozoneamento, este quase sempre feito por ONGs. Com base nesses dois mapeamentos, o poder econômico e o governo, decidem quais os territórios podem ser demarcados e quais povos devem ser descartados ou mesmo eliminados. Estamos falando de povos descartáveis!

Digamos que de fato o governo realmente viesse a se preocupar com esses povos e, para que possa cumprir o que determina a Constituição o governo precisasse de investimentos do Fundo Amazônia, por exemplo. Não seria muito mais razoável que o próprio governo, através de suas instituições administrasse diretamente os recursos do Fundo? Por que esse recurso tem que ser pulverizado e administrado em forma de projetos por ONGs que não possuem o poder que só é atribuído ao Estado? Uma das possíveis razões é que o governo não quer resolver o problema porque está comprometido e empenhado em manter a farsa construída na relação promíscua, para dizer o mínimo, com os interesses de empresas e países investidores no fundo. Por outro lado, o governo e os investidores temem que essas ONGs venham a se manifestar e denunciar essa farsa. O melhor jeito para manter essas organizações em silêncio é comprando esse silencia através de repasse de parte desses recursos. Assim, investidores, governo e ONGs seguem com sua cumplicidade.

Em 2021/2022, o IBAMA realizou concurso, por determinação do STF. O concurso caducou no último dia 05/ de junho, dia do Meio ambiente, sem que o Instituto tenha efetivado nem mesmo a metade dos aprovados. Mesmo assim, naquela mesma ocasião, a Ministra do Meio Ambiente confirmou a realização de um novo concurso. Isso, além de representar uma fraude, demonstra claramente que o MMA e o governo como um todo não tem nenhum interesse em coibir efetivamente os crimes ambientais, talvez pelo fato de os setores que mais cometem esses crimes são justamente os que mais investem no Fundo.

Como disse, não se trata de condenar quem acessa recurso desses fundos, mas trata-se de uma chamada de atenção. Ao acessar estes fundos, você e sua instituição podem estar contribuindo com a farsa e, assim, financiando a destruição da Amazônia e da vida no planeta como um todo.

Para naiores informações sobre o Fundo Amazônia, projetos e quem acessa o fundo acesse: A PAGINA



[1] Filósofo, doutorando em Antropologia, Mestre em Direito, Especialista em Desenvolvimento no Campo, Povos Indígenas, Quilombolas e comunidades tradicionais, Pesquisador sobre Economia Verde e Mercado de Carbono, indigenista com atuação na Amazônia há 33 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário