O livro do CIMI tem o propósito de reunir e qualificar as informações sobre a existência dos povos indígenas isolados, para dar visibilidade a essa realidade e cobrar do poder público sua responsabilidade na proteção à vida e aos territórios desses povos. O livro, com 366 páginas, trás ainda três mapas, em anexo, com a localização destes povos (90 ao todo) e as principais ameaças a eles.
O Cimi lançou hoje, dia 17 de agosto, em uma das salas do bloco de mestrado da UFAC, o livro: Povos Indígenas Isolados na Amazônia, a luta pela sobrevivência. O lançamento teve na abertura uma apresentação de cantorias dos indígenas Hui Nukui, que cantaram em agradecimento ao Cimi pelo seu trabalho em defesa dos povos indígenas.
Rodrigo Domingues, um dos autores |
De forma didática, mas contundente, o expositor e um dos colaboradores do livro, Rodrigo José Domingues, que escreve sobre a realidade dos povos isolados na região do Estado do Acre, pôs à prova o discurso da proteção via conceito de soberania Nacional. Mostrou que os territórios dos povos indígenas devem ser vistos e entendidos como necessários à sua sobrevivência e reprodução física e cultural e que é um erro tratar a questão de forma militarizada ou pessoal, como tem acontecido nos últimos dias a respeito da suposta (até aqui suposta porque a Funai não garantiu) "invasão" do território brasileiro por narcotraficantes.
Embora reconhecendo os danos possíveis de serem causados por narcotraficantes, o livro nos chama a atenção pelos riscos ainda mais reais, já postos em prática, do modelo de desenvolvimento proposto para a região. Sobre a realidade ameaçadora desses projetos e falando sobre nossa região, a mesma que teria sido atacada por peruanos, lemos:
“Projetos de integração regional como a pavimentação da BR 364 e a conclusão da rodovia do Pacífico ameaçam direta e indiretamente esses povos já que as estradas facilitarão o acesso e a exploração de áreas antes consideradas remotas. A concessão de grandes áreas para manejo florestal e a possível prospecção de petrolífera nessa região da Amazônia farão do Acre um espelho do que já ocorre no Peru. Os últimos locais de refúgio desses povos serão invadidos e violados se não forem tomadas medidas que garantam a posse e a segurança dessas terras tradicionalmente ocupadas por eles...”
O expositor seguiu apresentando mapas de localisação desses povos e, ponto por ponto, foi apresentando os principais problemas e ameaças. Ficou bastante claro que o grande perigo e a grande ameaça a estes povos, infelizmente parece nascer de uma nefasta comunhão entre: Narcotrafico, projetos desenvolvimentistas e políticos, em medidas e momentos diferentes, mas sempre um se benificiando com o outro. Para esses atores, e alguns se julgam donos, os povos indígenas, contactados ou não, são apenas um empecílio.
O público, principalmente jovens, participou efetivamente |
Os presentes acompanharam estarrecidos as narrativas de extermínios ocorridos ao longo desses últimos dez anos e que, muitas vezes, tiveram transmissão quase ao vivo pelos meios de comunicação social, principalmente TV, como foi o conhecido caso do índio do Buraco, em Rondônia, onde todo o massacre foi acompanhado sem que nenhuma altoridade fisesse nada. Até que se chegou a apenas um sobrevivente que já nem existe mais. A sensibilidade para o problema parece ser muito efêmera ou alheia à realidade. Algo como que uma utopia bonita de se falar.
O livro em questão é um documento valiosíssimo e, cujo teor, vai ainda causar muita discussão pela forma verdadeira e sem as máscaras do politicamente correto. O foco é a defesa dos povos indígenas isolados e de seus territórios. Daí a presença formidável de professores, alunos, indigenistas e pesquisadores no lançamento. Quem se dispõe a superar o egoísmo e o egocentrismo dos dias atuais, merece um ato de aplauso e representa, no mínimo, um empate moral e ético, há muito necessário.
Professores, pesquisadores e indigenistas tiveram presença |
Pelo mesmo motivo se explica a ausência de políticos e dos meios de comunicação social de massa, a imprensa. De fato, o governador reinaugurar uma privada pela terceira vez vira notícia; lançar um livro sobre povos indígenas isolados, vira uma ameaça.
A força da palavra, tradição para os povos indígenas, ainda hoje continua sendo para muitas pessoas o elo entre todos nós, seres vivos, dentre eles o ser humano. Se nós, que temos a palavra, nos calarmos, o mundo estará entregue aos inescrupulosos.
como faço pra comprar este livro, gostaria muito de ler-lo, obrigada.
ResponderExcluirO livro está disponível da sede do Cimi, em Rio Branco mas pode ser adquirido por outros meios. Se você me fornecer o endereço posso fazer chegar até você.
ResponderExcluirOlá, Padilha. Gostaria de obter esse livro, estou em Brasília, será que encontro por aqui? Se não, pode me passar um contato para conversarmos? Grato!
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