quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Indios isolados: a existência que incomada

Publico a seguir parte do texto sobre a realidade dos povos indígenas em situação de isolamento na região de fronteira Brsil/Peru, onde está o Estado do Acre. O texto foi escrito por Rodrigo José Domingues e publicado pelo Cimi no livro: Povos Indígenas Isolados, a luta pela sobrevivência. Que teve seu lançamento ontem e já causa arrepios no poder público que quer esconder essa realidade porque esses povos ameaçam o "desenvolvimento" e a implantação de grandes projetos desenvolvimentistas na região. Ao texto:

Rodrigo José Domingues , indigenista e escritor co-autor do livro
Na faixa que se estende por toda a região de fronteira do estado do Acre com o Peru está uma das maiores áreas de ocorrência de povos indígenas em situação de isolamento voluntário do mundo. Estes povos conseguiram manter seu modo de vida peculiar refugiando-se nas áreas que passaram ao largo dos ciclos econômicos da borracha, do caucho e da castanha.


Ou seja, geograficamente, a área de ocorrência de povos isolados no Acre faz parte de um grande corredor regional que se formou entre as frentes de expansão econômica vindas do Brasil, Peru e Bolívia, notadamente por meio fluvial. Aos poucos os territórios destes povos foram se reduzindo às áreas de cabeceiras dos grandes rios e de seus afluentes da região do oeste amazônico, entre eles o Ucaiali, Juruá, Purus, Javari e Madre de Dios.

Apesar da relativa tranqüilidade que estes povos conquistaram ao se isolarem nas cabeceiras de rios e igarapés, o avanço das estradas e projetos de exploração madeireira, petróleo e gás natural em território peruano, nas últimas décadas, trouxeram de volta o fantasma do genocídio a estes povos. Impelidos a se deslocar para fora de suas áreas tradicionais, penetram em território de outros povos indígenas, contatados ou não. Já se registra, inclusive, a migração destes povos para o lado brasileiro da fronteira.

A pressão por grupos isolados saindo do Peru é resultado da falta de proteção das terras indígenas. Ao longo da fronteira com o estado do Acre, em áreas contíguas com Parques e Terras Indígenas, o governo peruano criou as Áreas de Conservação Regional Isconahua e Murunahua/Tamaya com o intuito de resguardar o território e a vida dos isolados, mas grandes projetos, principalmente petrolíferos, se sobrepõem às áreas protegidas e ameaçam a vida dos indígenas de toda a região, principalmente os isolados.

A ausência de um arcabouço jurídico peruano específico e efetivo sobre a proteção dos povos isolados, a falta de acordos que barrem a exploração madeireira e petrolífera na região de fronteira e o ingresso de pessoas nos territórios dos índios isolados poderão levar a sérios conflitos, epidemias e até mesmo à extinção desses povos.

Já é possível, segundo relatos de moradores do alto rio Envira, ver tambores vazios de combustível e pranchas de mogno descendo o rio, o que indica uma clara evidência do avanço das madeireiras na fronteira e por conseqüência sobre o território dos povos isolados. Outra evidência de que estes povos estão sob situação de pressão e fuga é o furto de mudas de banana e macaxeira na Frente de Proteção Etnoambiental do alto Envira, ou seja, estão tendo que sair às pressas de suas casas a ponto de não poderem garantir a subsistência.

Projetos de integração regional como a pavimentação da BR-364 e a conclusão da Rodovia do Pacífico ameaçam direta e indiretamente estes povos, já que as estradas facilitarão o acesso e exploração de áreas antes consideradas remotas. A concessão de grandes áreas para manejo florestal e a possível prospecção petrolífera nesta região da Amazônia farão do Acre um espelho do que já ocorre no Peru. Os últimos locais de refúgio desses povos serão invadidos e violados se não forem tomadas medidas que garantam a posse e segurança dessas terras tradicionalmente ocupadas por eles.

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