Elder Andrade de Paula (Prof. UFAC)
Lindomar Padilha (Coord. do CIMI)
Dado
que o estado do Acre tem sido vendido mundo afora como modelo de “economia
verde” a ser replicado em outros lugares (ver
Dossiê: o Acre que os mercadores da natureza escondem - Leia aqui),
é provável que até o crime do colarinho branco seja convertido em colarinho
verde. Assim como transmutaram a
destruição em conservação (“boi ecológico”, “álcool verde”, exploração
madeireira “sustentável”, até o petróleo e gás em vias de exploração no Parque
Nacional da Serra do Divisor deverão receber a denominação “verde”) podem
transformar os réus em vitimas.
Idéia
absurda? De maneira alguma, as manifestações de solidariedade ao governo do
Acre emanadas dos podres poderes da sociedade política e civil visam esse
objetivo: transformar os réus em vitimas. O passo seguinte se concentrará numa
monumental operação marketeira destinada a abafar a crise política desencadeada
pela prisão da “quadrilha G7”. Simultaneamente a essa “tempestade de propaganda
governamental” se buscará, longe dos holofotes, recompor os laços de lealdade
nos diferentes níveis ao poder oligárquico convalescente.
A
julgar pelas manifestações ativas de solidariedade entre os que “mandam” e a
abominável passividade de um grande contingente dos que “obedecem” é possível
que esses objetivos sejam atingidos. Todavia, é bom que fique bem claro que o
desfecho dessa crise não depende somente desse arranjo interno ao bloco de
poder. Será fortemente influenciado e quiçá determinado pelas disputas entre
forças políticas em nível nacional sob o calor das disputas eleitorais do
próximo ano. No plano internacional também não será muito fácil recompor a
“confiança” e isso pode resultar na retração de financiamentos externos, como o
do BID.
É
preciso salientar também que a possibilidade de contornar provisoriamente a
crise não é suficiente para a manutenção do poder oligárquico chefiado pelos
irmãos Viana. São crescentes os descontentamentos entre os “de baixo” e a perda
de legitimidade e credibilidade de antigos “companheiros” que dirigem e ou
dirigiam organizações representativas dos trabalhadores urbanos, camponeses e
povos indígenas. O Abril Indígena 2012-13 e a recente eleição para o STTR de
Xapuri ilustram com clareza a ruptura com o poder de mando entre os “de baixo”.
No
caso do STTR de Xapuri, sob a liderança de Dercy Teles de Carvalho a base
sindical impôs a terceira derrota consecutiva (2005;2009;2013) aos “companheiros
do governo”. Reiteraram nesta ultima eleição o seu rechaço a política de
espoliação de seus territórios travestida de “desenvolvimento sustentável”.
Cientes de que seriam derrotados, os “companheiros do governo” recorreram à
trapaça para tentar tomar de assalto o Sindicato. Primeiro, entraram com ação
judicial pedindo a suspensão das eleições, perderam. Depois participaram do
processo eleitoral fazendo campanha pelo voto em branco, perderam. Agora tentam
novamente conseguir na esfera judicial o que não foram capazes de conquistar junto
a base sindical: a direção da entidade.
Dizem
os “companheiros do governo”, conforme as palavras de Julio Barbosa no Jornal
“Pagina 20” que “o PSOL, o PSDB e o PMDB estão juntos manobrando para desacreditar os
projetos do PT no Acre” (Aberração do Pagina 20 aqui). Barbaridade!!!!! Efetivamente o PT
tem demonstrado também no Acre que dispensa tal ajuda para “desacreditar o seu
projeto”, ele tem sido suficientemente competente para fazê-lo com suas
próprias mãos. Ademais, não
poder-se-ia fazer desacreditar naquilo que não existe: o “projeto” gerenciado
pelo PT no Acre também não é dele, é a expressão mais acabada do capitalismo
verde na Amazônia, tal como a matriz instituída via Banco Interamericano de Desenvolvimento
–BID e Banco Mundial-BIRD.
Conhecemos Dercy há muito tempo, ela tem o “D” de Dignidade. Tal como
ela, acreditamos que existam em terras acreanas milhares de mulheres e homens dignos
que haverão de combater sem tréguas os trapaceiros e quadrilheiros do “colarinho
verde”...
Superando
a noite fria da dor e da morte e vendo nascer um novo dia, assim como queria o
revolucionário Chico Mendes
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