Por Jorge Natal
Capitaneada pelo PT, que projetou ficar no poder por 20 anos, a Frente Popular do Acre (FPA) já está no quarto mandato. A sua longevidade acontece por vários fatores. Comecemos ao analisar como ela chegou ao governo do Estado. Fora as habilidades individuais do principal líder, o então candidato a governador Jorge Viana, o grupo se aproveitou da seguinte conjuntura favorável: os desgovernos de seus antecessores e a apropriação de um discurso político-ideológico, que encontrou ressonância na sociedade.
No exercício do cargo, Jorge Viana se desvencilhou de aliados incômodos (“os problemáticos”), formou alianças com políticos e empresários inescrupulosos e controlou/cooptou os partidos, inclusive o PT. Ele também amordaçou a imprensa e perseguiu os seus profissionais, investindo maciçamente em propaganda para promover a sua imagem. Tudo isso com as condescendências de membros do Ministério Público Estadual (MPE) e setores do Poder Judiciário.
Se o ex-governador institucionalizou novamente o estado, o fez para servir aos seus próprios interesses, criando um regime autoritário jamais visto. Senão, vejamos: instituiu insígnias; criou e articulou uma rede de agentes políticos em todos os seguimentos socais; traficou influência; grampeou adversários; usou o aparato do Estado para perseguir quem não submetia aos seus ditames, lavou dinheiro de corrupção; enriqueceu ilicitamente, perseguiu o funcionalismo público. Em síntese, implantou o “estado do medo”, no qual quem não se enquadrasse era acusado de não gostar do Acre, numa alusão ao ufanista Ame-o ou Deixe-o, de triste memória, legado pelo Regime Militar.
Não obstante à lavagem de dinheiro operada pelas agências de publicidade, toda a propaganda do governo de Jorge Viana era para cultuar a sua imagem e difundir um engodo que responde pela alcunha de florestania. Apropriado indevidamente, o termo é uma metáfora alusiva à história bonita do povo acreano, que começou com os nossos ancestrais povos indígenas, passando pelos revolucionários nordestinos, e terminando com resistência dos seringueiros (empates) nas décadas de 70 e 80.
A tal florestania sentenciou os acreanos a quase duas décadas de atraso econômico e social. A chamada economia sustentável, principalmente o extrativismo nas reservas, impediu as populações tradicionais de melhorar de vida, obrigando-as a viver de programas sociais como o Bolsa Família e o Bolsa Verde , dentre outros. Sem escolas e assistência em saúde de qualidade, todo o futuro de uma geração ficou comprometido.
Enquanto o Imac e o Ibama davam autorização aos poderosos, os pequenos produtores rurais eram perseguidos com multas confiscatórias. Portanto, além de ser um retumbante fracasso enquanto alternativa econômica, incapaz de gerar riquezas e distribuí-las, a florestania só beneficiou os grandes proprietários. Que o digam os pecuaristas e madeireiros.
E nas cidades? A miséria e a violência campeiam. De acordo com recentes estatísticas do IBGE, quase 135 mil pessoas vivem abaixo da linha de pobreza. Em recente pesquisa sobre IDH do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dois municípios acreanos estão entre os piores para se viver. Sem emprego e sem perspectivas, a juventude está sendo tragada pelo consumo e tráfico de drogas. Não é por acaso que temos, proporcionalmente, a maior e mais jovem população carcerária do país.
Enquanto o abismo entre ricos e pobres aumenta, o grupo do PT, aliado a uma elite predatória, desvia tanto dinheiro que criou uma casta de novos milionários. Para se ter uma ideia apenas na construção da BR 364, já existe uma condenação na Justiça Federal e sete inquérito sendo investigados pelos órgãos de controle e Polícia Federal.
Benito Mussolini, Adolfo Hitler e Josef Stalin fizeram escola por estas paragens. O saudoso jornalista e escritor José Chalub Leite, num momento feliz, disse que o Acre era terra onde todo artista se acaba. Longe de ser uma ameaça, estamos prestes a ver a derrocada de um projeto de poder que oprime o nosso peito, perturba a nossa consciência democrática e tentar subtrair aquilo que existe de mais sagrado- a nossa dignidade.
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