Chegamos à conclusão que estes projetos da economia verde, ao invés de solucionar, agravam as ameaças sobre nossos territórios e a própria crise climática e ambiental. Trata-se na verdade de esquemas de pagar para poluir, de gerar pretextos para viabilizar a continuada queima de combustíveis fósseis e o continuado crescimento econômico capitalista.
Nos, integrantes dos
povos Manchineri, Apurinã, Katukina Noke Kuí, Jamamadí, Jaminawa, Sharanawa,
Huni Kuim, Shanenawa, Ashaninka, Madiha,
Kuntanawa, Jaminawa-Arara, Jaminawa do Igarapé Preto, Marubo, Arara, Apolima-Arara,
Kanoé Rondonia, Oro Wari Rondonia, Bororo, Nukini, Nawa, agricultores/as,
trabalhadores/as rurais extrativistas, representantes das organizações Conselho
Indigenista Missionário (CIMI), Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
(WRM), Amigos da Terra Brasil, Sempre Viva organização Feminista (SoF), Marcha
Mundial das Mulheres (MMM), Movimento dos Trabalhadores/as Sem Terra (MST-RO),
Movimento dos Pequenos Agricultores/as (MPA – RO), reunidos nos dias 11 e 12 de
junho no Centro de Treinamento Diocesano, na cidade de Cruzeiro do Sul no Acre,
no evento Golpe Verde na Amazônia, identificamos as diversas ameaças que afetam
nossos territórios e nossa sobrevivência cultural, social e física:
- A não
demarcação de muitos de nossos territórios, incluindo aqueles dos povos em
situação de isolamento voluntário, assim como a ameaça dos já demarcados
pelo marco temporal e outras proposituras legislativas;
- Os projetos
de construção de estradas e hidroelétricas, exploração de petróleo e gás,
minérios e de madeira e a expansão do agronegócio, sem que haja sequer
processos de Consulta
Livre Prévia Informada e de Boa Fé,
conforme previsto na Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT);
- O aumento
das invasões, inclusive armadas, nos territórios, das perseguições e assassinatos
durante o Governo Bolsonaro, por garimpeiros, pescadores e caçadores
ilegais, madeireiros e traficantes, a exemplo do ocorrido com o
indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips;
- O
desequilíbrio social, a violência interna, os suicídios e o êxodo rural que estes projetos e invasões
provocam em nossas comunidades ao, entre outros, introduzir uso de álcool, drogas e abusos sexuais, incluindo
desaparecimentos e
a violência
contra criancas;
- O
acelerado avanço dos projetos do tipo REDD, REDD+, PSA ou, como chamam ultimamente,
Soluções baseadas na Natureza
(SbN), que vem sendo apresentados como soluções para o desastre climático
e ambiental em curso, assediando nossas lideranças e organizações, cooptando algumas delas e causando
graves conflitos internos.
Chegamos à conclusão
que estes projetos da economia verde, ao invés de solucionar, agravam as
ameaças sobre nossos territórios e a própria crise climática e ambiental.
Trata-se na verdade de esquemas de pagar para poluir, de gerar pretextos para
viabilizar a continuada queima de combustíveis fósseis e o continuado
crescimento econômico capitalista. Os esquemas de compensação climática e
ambiental, de fato, andam de mãos dadas com a destruição exercida pelos
megaprojetos e invasões diretas em nossos territórios. As falsas soluções,
assim como os mercados de carbono, prosperam na medida em que ameaças e
violência aumentam.
Diante estas
constatações, seguiremos denunciando todos os projetos que atentam contra a
autonomia dos povos da floresta, seus territórios e a própria vida.
Nos
reconhecemos como parte do grande organismo vivo que é a terra. Os diversos
ataques que o capitalismo lança em ritmo acelerado sobre as florestas e seus
povos agem como um vírus que ataca este organismo. Na medida em que este vírus
se espalha, se transforma, assume novas formas e se camufla. Porém, a nossa
luta, nossas rezas, rituais e cantos de cura, também se tornam cada vez mais
fortes a medida em que nos unimos para enfrentar esses projetos de morte.
Como povos da floresta,
somos a voz que cura e se levanta para defender a Mae Terra.
Cruzeiro
do Sul, Acre , 12 de Junho de 2022.
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