terça-feira, 30 de junho de 2015

Despolitização da política

Tenho observado ultimamente alguns fenômenos ou acontecimentos seguidas vezes repetidos que aponta para outros fenômenos já implantados mas em aprofundamento. Dentre estes fenômenos, chama muito a atenção o processo de "descartabilização" de tudo, inclusive das pessoas. As culturas são descartáveis, os povos são descartáveis, os deuses são descartáveis... tudo é descartável!!! no rastro de destruição e do aumento dos descartados, segue se aprofundando a financeirização da natureza e das poucas consciências ainda resistentes.

Se somos descartáveis, temos que nos consumir e consumir coisas, ideias, produtos, sistemas, sempre de forma efêmera e que não nos deixa criar raízes e nem condições de reflexões mais amplas. Por exemplo: até um dia desses todos fomos levados a criar uma conta no Orkut, passou. Depois todos fomos levados para o Facebook, tá passando. Muitos já não encontram aí a sua "realização" e já partiram para o Whatsapp. Mesmo que ainda mantenha os dois aplicativos ou mais, está claro o enfraquecimento do Facebook. Enfim, para descartáveis, experiências efêmeras e vazias.

Outro fenômeno que desperta igual preocupação, pelo menos naquilo que penso que devemos compreender antes de nos posicionarmos seja como for nosso posicionamento, é o fenômeno do fundamentalismo. E aqui falo do fundamentalismo nas mais diversas formas e manifestações, não só o fundamentalismo religioso mas também o fundamentalismo anti-religioso, o fundamentalismo político, o fundamentalismo sexual, o fundamentalismo ético, sempre seguidos de intolerância e com forte apelo prosélito. Também este proselitismo se assenta no fundamentalismo e intolerância.  

O proselitismo passou a ser uma espécie de intolerância para fundamentar e justificar a intolerância (muitas vezes) do próprio prosélito. Dai temos um crescimento do proselitismo religioso de basicamente todas as religiões universais e as de matriz cristã em suas subdivisões. Mas temos ainda o proselitismo ateu, quando cresce a ideia de quem não é ateu não respeita o diferente etc... Neste mesmo sentido crescem os prosélitos hétero e homossexuais, sempre um acusando o outro de desrespeito, intolerância e essas coisas próprias de fundamentalistas, prosélitos e intolerantes.

Entretanto, o que julgo de imensa preocupação é a despolitização da política. Tal despolitização está presente nos partidos, que optaram pela personificação e uma falsa polarização. A arma da corrupção que leva ao descrédito lhes serve  para que possam argumentar que todos são iguais e que não há o que se fazer para mudar essa realidade. Com esse argumento, o jovem e as pessoas boas não só desistem do caminho da política partidária mas também, e isso é muito mais dramático, do caminho da política mesma. Falo aqui da política maior.

Há uma despolitização programada nos grêmios, nas universidades, nas ONGs, nas organizações, nas igrejas, nos sindicatos, em fim, em todas as expressões que deveriam ser genuinamente crivadas pela análise e debate político. Sem o crivo político as pessoas, nós mesmos, somos ainda mais vulneráveis.

Para superarmos alguns desses fenômenos um caminho muito importante é repolitizar a política porque essas manifestações fundamentalistas e intolerantes são próprias de setores despolitizados, mas que julgam que suas ações são fundamentadas ideologicamente, historicamente, moralmente... politicamente. A arte de enganar é sofística, mas a arte de "se" enganar e ainda tentar arrastar outros para o mesmo engano é outra coisa.

Um comentário:

  1. Uma excelente análise da realidade concreta em que nos encontramos. Como mudar essa situação? É o desafio de todos e cada um de nós....

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