Comunicado público do WRM a California Air Resources Board
Assunto: Proposta do governo da Califórnia para
incluir créditos de compensação de REDD+ do estado do Acre, Brasil, e de outros
estados e países com florestas tropicais
Tomamos
conhecimento de que o governo da Califórnia está dando continuidade ao processo
para incluir créditos de compensação de emissões oriundos de projetos
relacionados a florestas, como o REDD+, em seu esquema de comércio de carbono. Créditos
de REDD+ do Acre, Brasil, entre outros, poderiam se tornar elegíveis se o
esquema passasse a aceitar créditos internacionais de REDD+. Créditos de outros
países, como México, Nigéria e Indonésia, também poderiam se tornar elegíveis.
Queremos
lembrar que, em abril de 2013, sua instituição recebeu uma carta de um conjunto
de organizações do Acre e do Brasil, manifestando sua oposição a essa proposta.
A carta
contou com uma moção de solidariedade de organizações internacionais e
indivíduos de vários países.
O que nos
chama a atenção no processo atual é que as profundas críticas contidas nessa
carta de 2013 não aparecem na oficina pública realizada por sua instituição no
último dia 28 de outubro, na Califórnia, e tampouco nos documentos postados
on-line em relação a essa oficina. Em uma apresentação
em PowerPoint, mostrada durante a
oficina, apareceu no slide no. 34 um conjunto de organizações que assinaram uma
carta favorável à proposta do governo da Califórnia. Mas cartas que se opõem a
essa inclusão de créditos internacionais de REDD+ não foram reconhecidas da
mesma forma. O que aparece na apresentação são apenas referências gerais a comentários
que teriam sido feitos “no passado”. No entanto, elas não fazem justiça ao
conjunto das críticas fundamentadas e substantivas manifestadas na carta acima
citada, de 2013. Essas críticas destacam questões de fundo, como a injustiça
social e ambiental da proposta da “economia verde” do governo do Acre, a
criminalização das atividades tradicionais dos povos e comunidades da floresta,
e o caráter profundamente neocolonial da proposta. Já naquele momento, também foi
questionada a legitimidade do processo de “consulta” realizado pelo governo da
Califórnia sobre a proposta.
Pergunta-se:
como fazer um debate sério sobre um assunto tão polêmico se não há espaço nem
consideração sobre as posições de organizações e indivíduos que são críticas à
proposta, e inclusive já são conhecidas por sua instituição desde 2013? O
caráter polêmico da “consulta” fica ainda mais evidente pelo fato de que sua
instituição sabia dessas preocupações e expressões contrárias à proposta desde
2013. Isso pode ser visto na composição da representação na mesa de
apresentação das experiências indígenas durante a oficina pública que
organizaram no dia 28 de outubro. Esse espaço
foi dado exclusivamente a lideranças indígenas favoráveis à sua proposta. Vozes
críticas ou contrárias, como as que apoiaram a carta de 2013, foram excluídas
dessa mesa. Isso é lamentável e sugere uma inclinação clara de sua instituição
em favor da inclusão dos créditos internacionais de REDD+. Por quê, então, uma
“consulta” que finge que a decisão ainda não foi tomada?
Isso é ainda
mais grave porque as críticas contidas na carta de 2013 são graves e continuam tão
relevantes quanto naquele momento. Muitas delas foram aprofundadas no período de
2013 a 2015 por pesquisadores da Relatoria do Direito Humano ao Meio Ambiente
da Plataforma DHESCA, uma iniciativa de dezenas de organizações da Sociedade
Civil Brasileira. Seu relatório “Economia
Verde, povos das florestas e territórios: violações de direitos no estado do
Acre”, baseado em trabalho de campo no Acre, foi lançado no último dia 29
de setembro, em Rio Branco, capital do estado. (a versão em inglês do relatório
preliminar está disponível aqui,
e a versão final em português, aqui
). Nenhuma das preocupações e graves violações de direitos documentadas no
relatório e em outros espaços têm recebido consideração justa no processo, caso
contrário, estaria visível na Oficina Pública e nos documentos colocados à
disposição para essa Oficina.
Movimento
Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
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