A CRISE DE REPRESENTATIVIDADE E OS POVOS NO ACRE

"A diretora-presidente do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC), Magaly Medeiros, acompanhada de membros da Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) representam o estado no evento."

(publicado em Notícias do Acre, 24/08/2017

O evento em questão é o Grupo de Trabalho "Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais" da força-tarefa de governadores para o Clima e floresta (GCF). No caso, um evento realizado  na Califórnia, EUA.

Em 28 de maio deste ano de 2017, um grupo de lideranças indígenas, ribeirinhos, seringueiros, extrativistas e entidades de apoio, publicaram um documento chamado DECLARAÇÃO DE XAPURI, denunciando as inverdades propagandeadas pelo governo e seus aliados, bem como as graves violações de direitos decorrentes deste modelo da chamada Economia Verde. 

Entre os dias 28 a 31 de julho, também deste ano, reuniram-se na sede da CPI/AC- Comissão Pró-Índio do Acre, no Centro de Formação dos Povos da Floresta a OPIAC - Organização dos professores Indígenas do Acre, AMAAIAC - Assossiação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre. Deste encontro, saiu um documento chamado "Carta Aberta em Resposta as Declarações sobre o SISA, REDD+ e Povos indígenas no Acre" referindo-se  a DECLARAÇÃO DE XAPURI e, segundo essas organizações, desautorizando as lideranças indígenas a falarem em nome delas mesmas e de seus povos.

Para além do conteúdo  falso, arrogante, divisionista e agressivo aos povos e lideranças, chama a atenção a inversão do poder de mando e representatividade dos povos e comunidades. Para favorecer a implantação de um modelo de política a gosto do capital, além da compra  e criação de ONGs, valem-se também da usurpação do poder de se auto-representar, garantido aos povos e comunidades pela Constituição Federal em seus Artigos 231 e 232 . As lideranças tradicionais já não são mais legítimas, segundo querem nos fazer crer os defensores dessas políticas ligadas ao Capitalismo Verde. Tratam as lideranças tradicionais como ignorantes, despreparadas, desqualificadas, as desdenham e expressam isso claramente na tal "Carta Aberta" quando dizem: 

"(...) este grupo apresentou assinaturas de vários indígenas, sendo covarde o suficiente para enganar a quem estava assinando, uma vez que a discussão sobre REDD+ e serviços ambientais é uma discussão de alta complexidade, que levamos 6 anos, de 2007 a 2012, para entender."

Esses que arrogam que conseguiram entender tudo sobre REDD+ e Serviços Ambientais em apenas seis anos,  nunca tiveram a preocupação de repassar esse conhecimento ao povo que fica nas aldeias e comunidades, abandonados na perspectiva das políticas públicas e sem a devida assistência. Entretanto, viajam o mundo desenvolvido, pagos com recursos públicos, ou não, como funcionários do governo e de ONGs a ele alinhadas e, o pior, falam em nome desses povos e comunidades. Isso é mais uma forma de violência e desrespeito sobre a qual quase ninguém fala nada. Como pode funcionários do governo representar os povos e comunidades, falar em nome deles, sem nunca irem às comunidades explicar o que e para quê estão viajando o mundo desenvolvido?

É para que se mantenha essa realidade de ignorância nas comunidades e privilégios para alguns que o movimento indígena foi extinto e proibido de ressurgir. Entretanto, a força viva da verdade e da transformação, está como sempre esteve: no coração dos povos e não tardará o amanhecer que lhes trará vida em abundância. Enquanto o amanhecer se prepara para vir, esses povos seguem em luta na defesa de seus direitos, apesar dos usurpadores.

Comentário da Amyra Ell Khalili:

"Foi necessário 6 anos para entenderem o REDD e o PSA? 

Se uma proposta dessas necessita de, pelo menos, 6 anos para ser entendida, é por que não foi feita para ser “entendida”.

Tentem convencer investidores a aplicar dinheiro em propostas que demorariam 6 anos para serem “entendidas”.

No mercado financeiro  temos que convencê-los em alguns segundos....por esse motivo criaram-se os INDICES."

Amyra