Exatamente ontem, quarta-feira, dia 11,
estava prevista uma sessão especial da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara Federal (aquela presidida por Marcos Feliciano) sobre
a ação das instituições religiosas entre as tribos indígenas. Embora
representantes do CIMI e da Funai tivessem sido convidados, a intenção
óbvia era abrir espaço para a ação cada vez mais agressiva de
instituições evangélicas fundamentalistas junto aos ‘gentios
silvícolas’.
Antes que a sessão fosse suspensa e,
teoricamente, adiada por não haver clima para sua realização, Felipe
Milanez escreveu um ótimo texto publicado ontem em seu blog na Carta Capital e por nós reproduzido: Em defesa das almas indígenas. Nele, Milanez menciona as principais instituições envolvidas na questão e, entre elas, a New Tribes (Novas Tribos),
presidida por Edward Luz, filho de um antropólogo do mesmo nome, que a
Assossiação Brasileira de Antropologia expulsou há poucos meses.
O artigo de Felipe Milanez vale por si
só. Hoje, entretanto, uma nova luz (sem querer fazer trocadilho) foi
jogada sobre ele e sobre o cancelamento da reunião, quando Elaíze Farias
denunciou, a partir de informações colhidas junto à Polícia Federal do
Amazonas, a prisão de um integrante da New Tribes: Missionário
da organização Novas Tribos do Brasil é preso durante operação da PF do
Amazonas sob suspeita de molestar meninas indígenas. Segundo as
informações obtidas por Elaíze, a prisão teria ocorrido quando o
missionário chegava em Orlando, Estados Unidos, em junho.
A partir daí, foi possível chegar a
notícias publicadas nos EUA, principalmente nos saites WFTV.com e MK
Forum, de Orlando, ambas do dia 5 de junho de 2013. As informações que
seguem são baseadas nelas, apenas rearrumadas a partir de uma tradução
livre, no que poderíamos chamar de uma primeira aproximação da questão.
Insisto, entretanto, que é fundamental ler os dois textos linkados acima. E, a partir de amanhã, ver como o Presidente da New Tribes/Novas Tribos,
seu filho antropólogo e seus companheiros fundamentalistas, inclusive
os que invadiram a CDHM, agirão, não só em relação aos povos indígenas,
como no que concerne aos direitos humanos num sentido mais amplo. Fora
isso, óbvio!, temos que ver igualmente como as pessoas que têm
compromisso com a luta pelos direitos – dos povos indígenas e de outros
também – reagirão a tudo isso.
O missionário Warren Scott Kennell, da New Tribes, de
45 anos, foi preso no aeroporto internacional de Orlando quando chegava
do Brasil, no dia 4 de junho. De acordo com informações, Kennell
começou a ser investigado a partir de uma dica envolvendo troca de
pornografia infantil pela internet.
Inicialmente, Kennel tentou negar a
acusação, mas os agentes abriram sua mala e nela encontraram um HD com
diversas imagens de pornografia com crianças. Segundo os investigadores,
Kennell acabou por admitir ser ele o adulto que aparece nelas cometendo
abusos contra meninas, mas confessou ter molestado apenas quatro
crianças enquanto estava no Brasil (Kennell estava aqui desde 1994, ou
seja, há quase 20 anos!). A notícia do WFTV.com diz ainda que em algumas
das fotos, ele posa com as meninas à frente do logo da New Tribes.
Um porta-voz da Novas Tribos
disse que um comunicado interno foi distribuído sobre a prisão de
Kennell, afirmando que “seus corações sofrem pelo fato de crianças terem
sido vitimizadas”, e que, enquanto tentam “confirmar se há uma conexão
entre os atos pessoais do acusado e a organização”, ele foi afastado.
Kennell está detido na penitenciária do condado de Seminole, mas este não é o primeiro caso deste tipo envolvendo a New Tribes. Segundo a MK Forum,
- Em 2006, um instrutor, George Goolde, foi acusado de molestar dois meninos;
- Em 2008, um jovem pastor enfrentou acusações por posse de pornografia infantil;
- Dois anos mais tarde, a vítima Kari Mikiton denunciou abusos sofridos por parte de funcionários da New Tribes;
- Em 2011, uma mulher processou a New Tribes, afirmando ter sido estuprada diversas vezes por um funcionário chamado Leslie Emory. Numa entrevista para a WESH 2, Emory confessou também ter cometido abusos contra meninas nas Filipinas, nas décadas de 1980 and 1990.
Ao pé da matéria havia ainda o endereço da página de Kennell na internet ( http://www.aroskot.com/), mas ela está fora do ar.
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