Em audiência pública ocorrida nos dias 11 e 12 de
julho, na sede da Justiça Federal no Acre, convocada pelo Ministério Público
Federal, a representante do MEC Srª Susana Grilo, já iniciou sua fala dizendo: “li na imprensa nacional uma matéria que
dizia que a educação escolar indígena do Acre é uma das piores do Brasil
juntamente com a do Maranhão. Dizer isso,
é irresponsável!”, disse a douta
professora. A matéria a que ela se referia era um post publicado aqui mesmo
neste blog e que retratava a realidade da educação escolar indígena no Brasil a
partir de levantamento feito e apresentado durante uma oficina realizada em
Brasília.
Profª Susana Grilo do MEC |
Naturalmente a professora cometeu tal equívoco
porque preferiu ouvir apenas as informações da Secretaria Estadual de Educação.
Caso tivesse se prestado a ouvir os povos indígenas, o Ministério Público e
outras entidades que atuam junto aos povos indígenas, saberia, por exemplo, que
desde 2009 o Ministério Público Federal, motivado por constantes denúncias de
abandono da educação escolar indígena, instaurou processo no sentido de apurar
as denúncias e encontrar soluções que obrigassem o Estado do Acre a cumprir com
suas obrigações. Precisa ser dito que desde 2000 a educação escolar indígena é
de responsabilidade do Estado do Acre e cuja formação dos professores indígenas
se dá por meio de convênios, firmados basicamente entre MEC/Estado do Acre e a Comissão Pró-Índio do Acre -
CPI/AC.
O mais interessante é que a professora leu apenas
este modesto blog, já que não viu, ou não quis ver, que todos os dias os
jornais do Acre plantam propagandas como se fossem notícias dando conta de que
a educação escolar indígena é a “melhor do Brasil”, “de primeiro mundo”, “exemplo
a ser seguido”. Aliás, no primeiro dia da audiência pública os jornais do Acre
amanheceram, todos, com a seguinte matéria de capa: “FNDE aprova construção de
escolas indígenas no Acre”. Engraçado, apesar de trágico, é que a
professora recebeu todas as informações sobre a educação indígena no Acre,
menos os documentos que os povos indígenas levaram até Brasília e protocolaram
no MEC. Ela foi capaz de dizer quantas escolas foram (ou teriam sido)
construídas, mas não recebeu nenhum documento protocolado lá pelos povos
indígenas dando conta da péssima situação e do abandono da educação escolar indígena no Acre.
Ainda em sua fala, a representante do MEC disse
que reclamar da qualidade da educação escolar indígena é ter posição
preconceituosa em relação aos professores indígenas. O que ela esqueceu de
dizer é que os professores não se auto-formam. Eles recebem, ou deveriam
receber, a formação do próprio Estado. Se não estão recebendo a formação
adequada a culpa é de quem? Não venham se esconder atrás dessa cortina de
fumaça! A educação escolar indígena no Acre é ruim porque os professores não
estão recebendo a formação adequada. Pior, fazem mais de três anos que não
recebem nenhuma formação.
Não existe ainda oficialmente a categoria de “professor
indígena” e nem mesmo de “escola indígena”. Os professores tem contratos
provisórios e ficam a mercê de políticos além de receberem menos que o piso
nacional. Não bastasse isso, em muitas escolas o professor é, além de
professor, merendeira, transportador escolar, faxineiro, diretor e tudo mais
que uma escola precisa e ainda fica por cerca de quatro meses sem receber
porque o contrato provisório expira.
Vamos
entender porque a professora chama o post de irresponsável
Este post data de 11 de junho de 2012. A CPI/AC trouxe em sua página na internet,
no dia 12 do mesmo mês, carta supostamente escrita pela OPIAC e que teria sido
endereçada ao Cimi, Regional Acre, e a mim. A carta teria sido escrita durante
reunião que os indígenas realizaram em Cruzeiro do Sul. Estranha já de início a
agilidade dos indígenas em lerem o meu post, se reunirem ainda no dia 11 e elaborarem a carta e
publicar na página da CPI na manhã do dia seguinte. Ocorre que jamais recebemos
tal carta e a mesma só foi publicada na página da CPI e nenhum professor
indígena, até o momento, assumiu a autoria de tal carta. Como posso ser o destinatário
de uma carta e não a receber e mesmo assim ter o seu conteúdo estampado em uma
página da internet?
Na tal carta são tecidas acusações gravíssimas ao
Cimi e a mim pessoalmente. Em um dos trechos, último parágrafo, lê-se: “Nós
aconselhamos o senhor Padilha a ir trabalhar, ou então que fique aí latindo,
que nós trabalhamos”. Ora, latir é uma atribuição própria dos cães,
donde facilmente se deduz que sou tratado como cachorro, adjetivo que viola
minha dignidade como pessoa humana e ainda denigre minha imagem e a imagem da
instituição a qual represento. Mesmo que a suposta carta tenha sido realmente escrita pelos professores indígenas (ou por algum deles), causa-me estranhamento que professores se valham de uma linguagem tão baixa, quase chula, para se referir a um representante de uma instituição devotada à causa indígena, como o Cimi.
Não reagi imediatamente porque preferi esperar a
audiência pública convocada pelo Ministério Público, a que ocorreu nos dias 11
e 12 de julho, justamente um mês após meu post e a publicação da suposta carta
que visava, e visa, denegrir minha imagem, pela CPI/AC.
No dia 16 de julho, apresentei Notícia de fato ao
Ministério Público, Promotoria Especializada em Direitos Humanos, que foi
registrada sob o nº 01.2012.00001620-5, posteriormente encaminhada cópia à
Corregedoria-Geral de Polícia Civil para providências, já que se trata de crime contra a honra. Ví-me obrigado a tomar
tal medida para que cessem as agressões, calúnias e difamações, já que não é a
primeira vez que a CPI/AC publica material ofensivo a mim e ao Cimi sem a
devida cautela quanto à autoria, já que sempre atribui a autoria a indígenas.
Exigirei, judicialmente se preciso for, que a
CPI/AC explique como teve acesso a uma carta destinada a mim sem que nem mesmo
eu tivesse acesso oficialmente a ela, como não tive até hoje. Como conseguiu
que, em menos de 24 horas os indígenas se reunissem, estudassem o meu post, redigissem
a carta e a encaminhasse para publicação na página da web da CPI? Qual é o real
interesse em denegrir minha imagem e da instituição a qual atualmente
represento?
Claro ficou na audiência pública que a educação
escolar indígena realmente enfrenta problemas gravíssimos e se encontra em
estado de abandono. Então, e depois de tudo, quem é mesmo irresponsável?
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