Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
Evento
internacional em Chiapas, no México, discutiu possíveis acordos
multilaterais para reduzir emissões de gases do efeito estufa do
desmatamento e uso da terra, mas povos locais reclamam de terem seus
direitos violados
Na
última semana, governadores do Brasil, Estados Unidos, Indonésia,
México, Nigéria e Peru se reuniram no estado mexicano de Chiapas para
trabalharem por acordos comuns entre esses países a fim de reduzirem as
emissões de carbono provenientes do desmatamento e da agricultura.
Os
países que participaram do 6º Encontro Anual da Força Tarefa dos
Governadores para Clima e Florestas (GCF) reúnem cerca de 20% das
florestas tropicais do mundo, e o atual estado de conservação de suas
florestas torna essencial que ajam de maneira rápida para desenvolver a
preservação dos ecossistemas e da biodiversidade tropical.
“Nossa
terra está nos pedindo por ação, pedindo-nos para mudar nossa
consciência. Devemos conservar e replantar nossas florestas”, comentou
Juan Sabines Guerrero, governador de Chiapas.
A
agenda do evento foi focada na implementação equitativa de iniciativas
climáticas e florestais como a redução de emissões por desmatamento e
degradação, através da conservação, do manejo sustentável e do aumento
dos estoques de carbono das florestas em países em desenvolvimento
(REDD+) e a mitigação de gases do efeito estufa (GEEs) provenientes do
desenvolvimento agrícola.
Foram
apresentados relatórios dos participantes da GCF sobre suas atividades,
e a reunião também enfatizou a relação entre iniciativas em níveis
estadual e nacional e a necessidade de conciliar regulamentações e
políticas para reduzir o desmatamento.
Os
interessados compartilharam ideias e preocupações para ajudar a
garantir um processo abrangente que integre todas as perspectivas, como
salvaguardas socioambientais, ferramentas e metodologias para monitorar,
reportar e verificar as emissões do desmatamento e uso da terra.
Além
disso, os 17 estados participantes acolheram um novo membro, o
Tocantins. Agora, o estado é o sexto brasileiro a participar da GCF,
juntamente com Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso e Pará.
Anteriormente,
o Tocantins já estava participando do GCF, procurando trocar
experiências com os estados participantes e avançar na implementação do
REDD no estado, mas apenas como observador.
“A
nossa entrada na GCF reforça a política do governo em buscar
oportunidades e alternativas para valorizar o meio ambiente e contribuir
para o desenvolvimento mundial”, observou Divaldo Rezende, secretário
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do estado, que
representou o governador tocantinense.
Mas
nem todos concordam que essas iniciativas sejam a melhor forma de
preservar as florestas tropicais e melhorar a vida das comunidades que
dependem delas. Durante o evento, moradores de Chiapas se manifestaram
contra o REDD e a chamada ‘economia verde’.
“Não
queremos REDD; aqui ou lá, a luta continuará. Parem a usurpação de
terras! O governo de Chiapas está mentindo para vocês. Eles não nos
informaram ou consultaram. Não queremos REDD”, protestaram.
Segundo
eles, esse tipo de ferramenta, além de ser muito questionável, não
ajuda na conservação, e só serve para firmar o atual modelo econômico
desigual e a posição de poluidores dos países desenvolvidos, além de
prejudicar os povos florestais.
Eles
produziram uma declaração, assinada também por ONGs e povos de outros
estados participantes da GCF, afirmando que o REDD+ é apenas um pretexto
para que países desenvolvidos e suas empresas avancem com seus novos
programas para privatizar as florestas tropicais, apropriando recursos e
serviços, elevando a produção insustentável de biocombustíveis,
destruindo muitas formas de vida e rompendo os obstáculos históricos ao
capital, tudo isso disfarçado sob o nome de ‘economia verde’.
Eles
afirmaram também que o REDD+, em vez de realmente resolver as causas
das emissões de gases do efeito estufa, apenas ‘compensa’ essas
emissões, permitindo a continuidade do modelo consumista e predatório.
Disseram
ainda que o programa não respeita os direitos dos povos indígenas, não
tem uma medida confiável da captura das emissões de CO2, cria um novo
ciclo para o capitalismo especulativo, contribui para o êxodo rural e já
foi inclusive responsável por casos de violência contra aqueles que se
mostraram contrários à sua implementação.
Assim,
os manifestantes pediram por medidas democráticas e tecnicamente
coerentes para fazer a transição para um sistema energético sustentável,
que os principais emissores implementem mecanismos para reduzirem seus
GEEs sem substituições e compensações e que os recursos para conservar
florestas sejam definidos democraticamente, e não baseados em imposições
ou compensações que permitam a continuação da contaminação.
“Alertamos
as pessoas e comunidades do mundo para esse programa cínico de
espoliação, na qual a destruição ou conservação de todos os tipos de
florestas tropicais, incluindo manguezais (como ocorreu recentemente na
Guatemala e México), ou seus opostos perversos, plantações e
monoculturas, são declaradas e impostas tanto como a causa como o
principal remédio para as mudanças climáticas”, concluíram.
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