Remover
a terra, numa guerra desigual e insaciável, em busca do vil metal! Eis a
nova batalha anunciada. As vítimas serão mais uma vez os povos
indígenas, que verão enormes máquinas adentrarem seus territórios,
rasgarem o ventre da mãe terra e dela extraírem riquezas para saciar a
voracidade de acumulação de capital e poder. Mineradoras do mundo
inteiro estão com suas máquinas a postos, aguardando apenas o sinal
verde da aprovação do projeto que regulamente a exploração mineral em
terras indígenas. O relator da Comissão Especial criada na Câmara dos
Deputados, deputado Edio Lopes, já anunciou que seu relatório está
pronto e estará sendo colocado em votação logo depois das eleições.
"Pelas contas do relator, há quase 10 mil requerimentos de pesquisa de
lavra, 150 pedidos de lavra e 10 títulos de lavra que incidem sobre
terras indígenas". O autor do projeto de Lei é o senador Romero Jucá, de
Roraima, que tem enormes expectativas na aprovação, pois parentes seus
tem mineradoras naquele estado. O projeto 1610/96 tramita no Congresso
Nacional há mais de 15 anos. Os povos indígenas e seus aliados já se
pronunciaram inúmeras vezes contrários à aprovação entendendo que essa
questão deve ser apensada ao Estatuto dos Povos Indígenas.
Em vários encontros, os indígenas tem se posicionado contrários à mineração em seus territórios. Eles exigem que não apenas sejam consultados a respeito, mas que tenham poder de veto.
Os povos indígenas no Brasil sabem o que significa, em termos de impacto e destruição, a mineração nas terras indígenas. Por
ocasião do processo Constituinte, na década de oitenta, os interesses
minerais nacionais e mundiais tentaram inviabilizar os direitos
indígenas na nova Constituição. Montaram uma campanha midiática contra
os povos indígenas e seus aliados, como o Cimi, jamais vista na recente
história do país.
Os
povos indígenas na América Latina sustentam uma luta secular contra o
saque e destruição que a mineração vem promovendo em seus territórios.
Na Bolívia, no Peru e no Equador, existe uma luta ferrenha contra a
predatória e genocida exploração mineral em territórios indígenas, desde
os Antes até a Amazônia.
A
voracidade e truculência do poder mineral no mundo, nunca se conformou
com o dispositivo constitucional que exige uma regulamentação especial
para a exploração mineral em terras indígenas. Em vários momentos
tentaram a aprovação no Congresso desse projeto de lei. Se aprovado, aos
sobreviventes caberá contar a desgraça anunciada.
Eleições e primavera
Para
os povos indígenas as eleições são apenas mais um momento de tapas nas
costas, promessas de benefícios imediatas, sorrisos e rostos
farisaicamente simpáticos. Para alguns, dos mais de 200 candidatos
indígenas a vereador, é também o momento de levar a reflexão política
para dentro das aldeias, para mostrar as possibilidades e limites de
participar desse ritual da democracia formal, representativa. Tão
diferente da democracia comunitária participativa das aldeias! É
provável que mais de 30 lideranças indígenas sejam aprovados no ritual
das urnas e tenham quatro anos de mandato, no estranho e complicado
ninho das câmaras dos vereadores. Boa sorte aos que, como Otoniel Kaiowá
Guarani, buscam a reeleição, na estreita margem de luta pelos direitos
de seu povo, especialmente à terra e os recursos naturais nelas
existentes.
A
primavera explode em beleza rara, no serrado em flor. Cagaita com suas
minúsculas flores e folhas de cores variadas são de encher os olhos e
regar o coração, numa infinita série maravilhosa de imagens gravadas em
nossos atentos olhares. As flores do pequizeiro recebem inúmeras abelhas
entre seus brancos filetes com bolinhas nas pontas. As árvores que há
poucos dias espetavam o céu desnudas, agora colocam suas novas vestes
para engalanar a primavera com seus verdes tons, e sons dos pássaros,
das cigarras e inúmeros viventes encantados.
No
embalo da primavera a vida é mais vida, a esperança galopa na beleza
abundante da natureza que renasce em cada olhar atento e desabrocha em
gratidão à mãe terra.
No dia da "pacificação"
Convite
irrecusável. Colegas do Cimi em Florianópolis convidaram para falar da
"Vivência contra os Povos Indígenas", e juntamente com o Kaiowá Guarani
Elizeu Lopes, debater a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do
Sul. Não poderia deixar de falar sobre a trajetória de luta e
compromisso com os povos indígenas, uma vez que foi com os Kaingang,
Guarani e Xokleng que iniciei a trajetória de 40 anos de aprendizado e
luta com os habitantes primeiros desta terra. Eram quase 100 alunos
indígenas de um curso de licenciatura na Universidade Federal de Santa
Catarina.
Ao
final da conversa, os Xokleng pediram um tempo para apresentar algo
sobre a data de 22 de setembro, que além do início da primavera, para
eles tinha um significado especial. Fazia exatos 98 anos em que eles
decidiram fazer contato pacífico com os brancos. É considerado o dia da
"pacificação", ou seja, quando eles decidiram manter contato com a
equipe de atração do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Assim como os
Kaingang, os Xokleng se mantiveram isolados e resistentes ao contato até
o início do século 20. E a resistência deles foi a razão da criação do
SPI, em 1910.
Egon Heck
Cimi 40 anos, início de primavera de 2012.
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