segunda-feira, 3 de agosto de 2015

DENÚNCIA – Agente da CPT Acre é ameaçado de morte mais uma vez

Leia na página da CPT
Cosme Capistano da Silva, agente da CPT de Boca do Acre (AM), vem sendo ameaçado de morte desde 2009. Dessa vez a ameaça foi direta. Confira o depoimento do agente da CPT:

“Eu COSME CAPISTANO da SILVA, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Boca do Acre -AM, venho esclarecer o que está acontecendo no município em relação à violência no campo. Desde 2009 venho sendo ameaçado de morte por grandes fazendeiros e concentradores de terras. Boca do Acre é um município do sul do Amazonas onde ocorrem as maiores grilagens de terras públicas. Por isso é um local de intensos conflitos agrários resultantes do avanço da pecuária, da exploração madeireira e do desmatamento.
A CPT é uma entidade que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e aos pobres de DEUS, está sempre ouvindo os clamores que vêm dos campos e florestas e defendendo os direitos das famílias que vivem da terra. Mas em Boca do Acre a defesa da classe pobre afeta diretamente o interesse de grandes latifundiários edo  modelo capitalista de concentração da terra.
Em 2015 as ameaças voltaram com mais frequência. No dia 8 de julho o Senhor JOSÉ HONÓRIO CARDOSO, conhecido por “Zé Baiano”, acompanhado de dois funcionários seus, foi até a sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Boca do Acre (STTR-BA) onde eu estava trabalhando. Ao entrar no recinto o mesmo senhor disse em tom intimidatório que só estava ali para me conhecer e que daquele dia em diante ele e seus homens iriam agir à sua maneira.
No dia 22 de julho houve uma nova ameaça quando o senhor Valdomiro, conhecido por “Baixinho”, foi até o mesmo local e disse em voz alta pra mim e para outras pessoas que estavam presentes que eu tinha que morrer, e que já deveria estar morto. Estavam presentes no local as senhoras Luzia Santos da Silva, Maristela Lopes da Silva, Catilene Peron, Edivânia e também o senhor Genival Lacerda. Essas pessoas testemunharam o ocorrido.
Já sofri muitas outras ameaças, mas nunca de forma tão direta e concreta como nessas duas situações. Se me matarem serei mais um que tomba na luta e deixo aqui registrado o nome das pessoas que me fizeram essas ameaças e que são facilmente localizadas na cidade de Boca do Acre.
Temo pela minha vida e por isso estou pedindo a ajuda das autoridades competentes para evitar mais uma tragédia no campo”.

COSME CAPISTANO DA SILVA

Meu comentário: 

Desde 2009 que o Sr. Cosme Capistano vem sofrendo ameaças de morte. Neste mesmo período, a sede da CPT no Acre foi invadida por sete vezes e a coordenação ameaçada e intimidade. Neste mesmo período também, agentes do Cimi - Conselho Indigenista Missionário, também sofreram ameaças de morte e a sede da entidade foi invadida por quatro vezes entre 2014 e 2015.

Estranhamos porque nada, rigorosamente nada, foi feito e, se foi, ainda não nos foi dado conhecimento. Estranhamos ainda mais que o IMC - Instituto de Mudanças Climáticas do Acre, teve acesso integral ao processo uma vez que confirmou isso em carta enviada às autoridades alemãs onde afirma que as invasões à sede do Cimi foram "caso isolado".

Se as autoridades não tomarem providências, Cosme e outros agentes tombarão enquanto os algozes continuam recebendo condecorações.

Sobre o assunto leia:




Carta À Secretaria de Segurança Pública do estado do Acre

Montevideo, 30 de setembro de 2014
À Secretaria de Segurança Pública do estado do Acre
A/C  Sr. Ildor Reni Graebner
Avenida Getulio Vargas, nº. 232 – Subsolo do Palácio das Secretarias
Rio Branco
E-mails: gabinete.seguranca@ac.gov.br / reni.graebner@ac.gov.br
Prezado Sr. Secretário,
Através desta, queremos expressar nossa profunda preocupação com a invasão da sede do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – regional Amazônia Ocidental, ocorrida no último dia 22 de setembro de 2014 na cidade de Rio Branco.
Preocupa-nos este fato porque os relatos indicam que não se tratou de um roubo comum, senão um ato planejado para ter acesso a informações privilegiadas da organização.
Enquanto movimento mundial de organizações e grupos locais em defesa dos direitos humanos dos povos e populações que dependem das florestas tropicais, sabemos do papel e trabalho importante do CIMI – regional Amazônia Ocidental, em defesa dos direitos dos povos indígenas no estado do Acre e regiões vizinhas.
O trabalho do CIMI é especialmente importante no caso do Acre pelo aumento da violência que constatamos nestes últimos anos contra os povos da floresta e até mesmo contra as organizações de apoio que defendem seus direitos. É por isso que ficamos muito preocupados ao tomar conhecimento de mais este ato de violência que busca atingir diretamente o CIMI, e também com os rumos que a onda de violência contra os indígenas e seus apoiadores possa tomar daqui para frente.
Por tudo isso, pedimos sua atenção para este caso e, especialmente,  celeridade na investigação, esperando que os responsáveis deste ato lamentável sejam identificados e denunciados à Justiça.
Atenciosamente,
Winfridus Overbeek – Coordenador Internacional do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)

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