Leia na página da CPT
Cosme Capistano da Silva, agente da CPT de Boca do Acre (AM), vem sendo ameaçado de morte desde 2009. Dessa vez a ameaça foi direta. Confira o depoimento do agente da CPT:
“Eu COSME CAPISTANO da SILVA, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Boca do Acre -AM, venho esclarecer o que está acontecendo no município em relação à violência no campo. Desde 2009 venho sendo ameaçado de morte por grandes fazendeiros e concentradores de terras. Boca do Acre é um município do sul do Amazonas onde ocorrem as maiores grilagens de terras públicas. Por isso é um local de intensos conflitos agrários resultantes do avanço da pecuária, da exploração madeireira e do desmatamento.
A CPT é uma entidade que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e aos pobres de DEUS, está sempre ouvindo os clamores que vêm dos campos e florestas e defendendo os direitos das famílias que vivem da terra. Mas em Boca do Acre a defesa da classe pobre afeta diretamente o interesse de grandes latifundiários edo modelo capitalista de concentração da terra.
Em 2015 as ameaças voltaram com mais frequência. No dia 8 de julho o Senhor JOSÉ HONÓRIO CARDOSO, conhecido por “Zé Baiano”, acompanhado de dois funcionários seus, foi até a sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Boca do Acre (STTR-BA) onde eu estava trabalhando. Ao entrar no recinto o mesmo senhor disse em tom intimidatório que só estava ali para me conhecer e que daquele dia em diante ele e seus homens iriam agir à sua maneira.
No dia 22 de julho houve uma nova ameaça quando o senhor Valdomiro, conhecido por “Baixinho”, foi até o mesmo local e disse em voz alta pra mim e para outras pessoas que estavam presentes que eu tinha que morrer, e que já deveria estar morto. Estavam presentes no local as senhoras Luzia Santos da Silva, Maristela Lopes da Silva, Catilene Peron, Edivânia e também o senhor Genival Lacerda. Essas pessoas testemunharam o ocorrido.
Já sofri muitas outras ameaças, mas nunca de forma tão direta e concreta como nessas duas situações. Se me matarem serei mais um que tomba na luta e deixo aqui registrado o nome das pessoas que me fizeram essas ameaças e que são facilmente localizadas na cidade de Boca do Acre.
Temo pela minha vida e por isso estou pedindo a ajuda das autoridades competentes para evitar mais uma tragédia no campo”.
COSME CAPISTANO DA SILVA
Meu comentário:
Desde 2009 que o Sr. Cosme Capistano vem sofrendo ameaças de morte. Neste mesmo período, a sede da CPT no Acre foi invadida por sete vezes e a coordenação ameaçada e intimidade. Neste mesmo período também, agentes do Cimi - Conselho Indigenista Missionário, também sofreram ameaças de morte e a sede da entidade foi invadida por quatro vezes entre 2014 e 2015.
Estranhamos porque nada, rigorosamente nada, foi feito e, se foi, ainda não nos foi dado conhecimento. Estranhamos ainda mais que o IMC - Instituto de Mudanças Climáticas do Acre, teve acesso integral ao processo uma vez que confirmou isso em carta enviada às autoridades alemãs onde afirma que as invasões à sede do Cimi foram "caso isolado".
Se as autoridades não tomarem providências, Cosme e outros agentes tombarão enquanto os algozes continuam recebendo condecorações.
Sobre o assunto leia:
Carta À Secretaria de Segurança Pública do estado do Acre
Montevideo, 30 de setembro de 2014
À Secretaria de Segurança Pública do estado do Acre
A/C Sr. Ildor Reni Graebner
Avenida Getulio Vargas, nº. 232 – Subsolo do Palácio das Secretarias
Rio Branco
E-mails: gabinete.seguranca@ac.gov.br / reni.graebner@ac.gov.br
A/C Sr. Ildor Reni Graebner
Avenida Getulio Vargas, nº. 232 – Subsolo do Palácio das Secretarias
Rio Branco
E-mails: gabinete.seguranca@ac.gov.br / reni.graebner@ac.gov.br
Prezado Sr. Secretário,
Através desta, queremos expressar nossa profunda preocupação com a invasão da sede do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – regional Amazônia Ocidental, ocorrida no último dia 22 de setembro de 2014 na cidade de Rio Branco.
Preocupa-nos este fato porque os relatos indicam que não se tratou de um roubo comum, senão um ato planejado para ter acesso a informações privilegiadas da organização.
Enquanto movimento mundial de organizações e grupos locais em defesa dos direitos humanos dos povos e populações que dependem das florestas tropicais, sabemos do papel e trabalho importante do CIMI – regional Amazônia Ocidental, em defesa dos direitos dos povos indígenas no estado do Acre e regiões vizinhas.
O trabalho do CIMI é especialmente importante no caso do Acre pelo aumento da violência que constatamos nestes últimos anos contra os povos da floresta e até mesmo contra as organizações de apoio que defendem seus direitos. É por isso que ficamos muito preocupados ao tomar conhecimento de mais este ato de violência que busca atingir diretamente o CIMI, e também com os rumos que a onda de violência contra os indígenas e seus apoiadores possa tomar daqui para frente.
Por tudo isso, pedimos sua atenção para este caso e, especialmente, celeridade na investigação, esperando que os responsáveis deste ato lamentável sejam identificados e denunciados à Justiça.
Atenciosamente,
Winfridus Overbeek – Coordenador Internacional do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
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