segunda-feira, 7 de maio de 2012

Da selva profunda, o grito no asfalto


 
“Saímos de casa há um mês e dois dias”, revelam algumas das lideranças dos seis povos indígenas do Acre há uma semana em Brasília. Reuniram com dezenas de órgãos públicos, elaboraram e protocolaram ou entregaraminúmeros documentos às autoridades, expuseram a dramática situação por que passam a maioria das comunidades indígenas no Estado do Acre, fizeram emergir do fundo da floresta ao coração do poder, o grito “Estamos morrendo. Que o mundo saiba. Façam alguma ação urgente. Não aguentamos mais. A saúde indígena nunca esteve tão pior..”

Os quarenta caciques , dos quais alguns viajaram por mais de duas semanas a pé, de canoa e ônibus, para chegar até Brasília, foram unanimes e enfáticos em seu clamor, no relato de suas dores, na exigência de providências imediatas. “Estamos aqui numa voz só. Viemos mostrar e falar a realidade, a verdade sobre o que se passa com nossas comunidades.Hoje expressamos nossas palavras até o mais profundo dos vossos corações parar desabafar todos esses anos de dores, doenças, desespero, genocídio, perseguição, que já não pode mais ser silenciado...” escreveram os Jaminawa em documento à presidente da República, parentes e autoridades.

Das mais distantes aldeias dos povos indígenas do Acre a voz insurgente da gente primeira, denunciando o sistema de morte, dor, ameaças, abandono aque estão submetidas. Parece até um filme. A maioria das pessoas que por horas ouviram atentamente os caciques, ficam embasbacadas “Nunca pensei que isso pudesse ser assim no Acre. As informações que tínhamos eram de uma beleza e tranquilidade paradisíaca.” Essa perplexidade de muitos membros dos órgãos públicos e entidades,surgem como riscos no cartão postal propalado pelo Brasil e mundo afora por muito anos.
Durante uma semana os caciques e lideranças fizeram uma maratona de audiências, depoimentos contundentes, debates acalorados mas sempre respeitosos e conscientes, entrega de documentos e denúncias...Apesar do cansaço , da estranheza e dureza de salva de pedras do poder, em nenhum momento perderam a alegria, a esperança e a certeza de que essa é umadura luta que está apenas começando.

Vistosos cocares, corpos pintados, flechas e bordunas,armas da indignação, revolta e paz, os caciques deram visibilidade ao grito de vida e morte ecoado das aldeias mais distantes desse grande Brasil, em acres tempos.

Egon Heck

Cimi 40 anos, 5 de maio de 2012

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