quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Luta e dor dos Haitianos. Por Israel Souza

Menos que gente: a condição de abandono dos haitianos no Acre


Israel Souza[1]

            Após o grande terremoto que atingiu seu país em 2010, muitos haitianos, fugindo da miséria e do cólera, abandonaram sua terra natal e se aventuraram em terras outras. Atraídos pela esperança de prosperidade, proclamada aos quatro ventos pelo governo brasileiro, muitos deles aportaram por aqui.

            Estado de fronteira, o Acre tornou-se uma das portas de entrada para muitos desses sujeitos. Chegando aqui, porém, o que encontraram foi muita miséria e abandono. A situação em que se encontram na terra de Chico Mendes é degradante, subumana.

            No momento, a dona da casa em que residem ameaça deixar-lhes sem teto. É que já faz mais de 8 meses o governo estadual acreano deixou de pagar o aluguel. Também já somam alguns meses que o mesmo governo deixou de pagar a conta de energia.

            Entregues à própria sorte. Assim os haitianos nestas paragens. São mais de 300 numa casa com apenas 1 banheiro. Entre eles, há recém-nascidos.  As condições de higiene são precárias, quase inexistentes. Alguns deles estão cozinhando improvisadamente nos quartos - quando há o que cozinhar. É comum uns tantos passarem fome ali, ficando mais de 1 dia sem comer. Vez em quando se viram comendo manga, fruta da estação.
 
 
 
 
 
 

           
          Forçados pelas condições, alguns estão usando de criatividade e coragem para dormir. Sem quartos para todos, uns têm feito sua “cama” do lado de fora da casa. Como se pode vê nas fotos, trata-se de uma pequena “cobertura”, pouco menos de um metro, feita com faixas, que cobre o chão coberto de papelão. Mas se vier chover e no Acre estamos em período de chuva...
 
 

            Um dos haitianos nos dizia que o que muitos querem ali não é tanto a caridade dos outros ou do governo. Eles anseiam mesmo é pelo CPF. Dizia que muitos têm parentes aqui no Brasil. Que se tirarem o CPF poderão ir para a casa de seus parentes e procurar trabalho. É patente a falta de vontade política de resolver ou minorar a situação destes homens e mulheres.

O governo estadual acreano e o federal, em regra, têm lhes dispensado a mais pura indiferença. Em tom ufanista, tais governos não se cansam de falar em crescimento econômico, redução da pobreza e da miséria, desenvolvimento sustentável, integração etc. Aqui em nossa terra, porém, os haitianos não foram acolhidos senão pelo abandono. Aviltados, encontram-se reduzidos a menos que gente. 



[1] Cientista Político e Membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO). Email: israelpolitica@gmail.com

Um comentário:

  1. Comentário de Patrícia

    Patira Guarani Kaiowá comentou seu link.

    Patira escreveu: "Perpétua Almeida recebe Embaixador do Haiti e defende combate a imigração ilegal Gerais Durante encontro com o Embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre Jean, nesta quinta-feira (11), a deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC), que preside a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, defendeu a criação de campanha de combate à entrada clandestina de haitianos no país. A parlamentar acreana afirmou que vai reiterar pedido ao Ministério das Relações Exteriores e conversar com Ministério da Justiça para que a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) intervenha e ajude a combater o tráfico de pessoas e a imigração ilegal no Brasil. Após visitar em “in loco” a situação de 216 haitianos que vivem na cidade de Brasiléia/Acre, fronteira com a Bolívia, no último dia 14, Perpétua Almeida verificou que a maior parte dos haitianos entra ilegalmente no país. “Precisamos melhorar o diálogo com a sociedade haitiana. Temos que concentrar em demonstrar que existe a via legal e impedir que as redes de trafico façam publicidade enganosa sobre o Brasil”. No encontro, o Embaixador do Haiti, Idalbert Jean, pediu apoio do parlamento brasileiro no sentido de votar legislação que estimule empresas brasileiras a investir no Haiti, para estimular a capacitação de mão de obra haitiana e o desenvolvimento do país. Perpétua Almeida assumiu o compromisso de ouvir empresas brasileiras para entender que legislação pode ser criada para facilitar a abertura de negócios brasileiros no Haiti e para colaborar com a geração de empregos. fonte: Blog Perpetua Almeida."

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