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Fica
cada vez mais evidente que os esforços de governos, ONGs, instituições e
empresas, de fazer do REDD a principal estratégia para reduzir o
desmatamento, não estão dando certo nos países com florestas tropicais. O
desmatamento continua a todo vapor, puxado por diferentes “projetos de
desenvolvimento”, como a mineração, as plantações em larga escala do
dendezeiro, da soja e de outros cultivos, as hidrelétricas e obras
infraestruturais para facilitar o escoamento das matérias-primas. Até
mesmo o chamado “manejo florestal sustentável” acaba contribuindo com
mais destruição.
Aumentam
também as evidências de que os projetos de REDD promovidos em
diferentes países com florestas tropicais estão causando muitos
problemas para as comunidades locais, como mostram vários artigos neste
boletim. Isso inclusive motivou o WRM a escrever uma cartilha para
comunidades, baseada nessas experiências e chamada “10 alertas sobre
REDD para comunidades”, também citada nesta edição. Um dos principais
problemas apontados pelas comunidades é o das restrições que sofrem no
uso que tradicionalmente fazem das florestas e no controle dos seus
territórios.
É
bom lembrar que muito antes de o REDD aparecer, muitas pessoas que
conhecem minimamente a problemática das florestas tropicais já sabiam
que a melhor forma de combater sua destruição era garantir a povos e
populações que vivem nas florestas e tradicionalmente dependem delas os
direitos sobre seu território e o uso da floresta. Há vários exemplos no
mundo comprovando que, onde se garantem esses direitos, as florestas
estão sendo mais bem conservadas.
Talvez
um dos poucos aspectos positivos das negociações recentes sobre REDD em
nível da Convenção de Mudança Climática da ONU – que organiza uma nova
rodada este mês em Doha, Qatar -, seja o fato de que novamente há alguma
discussão sobre as causas do desmatamento. Desde que se começou a falar
de REDD, uma das questões que têm mais incomodado aos povos da floresta
é que países, em seus esforços para ficarem “prontos para REDD”, têm
insistido em apontar esses povos como sendo os principais responsáveis
do desmatamento, que seria resultado de “práticas” como a agricultura
itinerante. Da mesma forma, o que têm incomodado também é que os
“grandes projetos de desenvolvimento” citados acima não receberam esse
mesmo tratamento, ao contrário, continuam sendo promovidos como ações
importantes para o “desenvolvimento”, apesar da destruição que causam.
E
mais, com REDD e as crescentes tentativas de comercializar também
outros “serviços ambientais”, as grandes empresas por trás dessa
destruição das florestas tropicais estão analisando a nova oportunidade
de poder “compensar” suas ações destrutivas com projetos de REDD ou com
outros que busquem comercializar esses “serviços ambientais”.
Mesmo
que o REDD em nível internacional possa ter seus dias contados por
falta de financiamento, a ansiedade das grandes empresas de “compensar”
suas ações destrutivas com ações “verdes”, ou seja, de justificar o
injustificável, não está com seus dias contados, ao contrário. Para
essas empresas, cada vez maiores, este tipo de mecanismo é de suma
importância no momento atual, em que as contradições do modelo
destrutivo de exploração dos recursos naturais começam a ficar cada vez
mais explícitas, por exemplo, nos efeitos das mudanças climáticas, da
degradação ambiental e do desmatamento, e são mais sentidas pelas
populações rurais em todo o mundo, inclusive os povos da floresta.
Acreditamos
que, só com muita luta e mobilização das comunidades afetadas pelos
projetos em larga escala de “desenvolvimento” e com muita solidariedade
nacional e internacional, é possível garantir força suficiente para que
os governos tomem finalmente medidas efetivas para reduzir o
desmatamento, olhando de fato para quem está causando a destruição.
E
mais do que isso, é preciso urgentemente tomar medidas contra as causas
subjacentes do desmatamento, em especial, mudando estruturalmente o
padrão de produção e consumo totalmente insustentável nos países mais
industrializados. Isso não será alcançado apenas com atitudes
individuais responsáveis, mas requer ações energéticas dos governos para
reduzir o poder corporativo e o poder do grande capital em geral,
inclusive e, sobretudo, do capital financeiro. Além do reconhecimento
dos direitos dos povos da floresta, esse é um caminho fundamental se
queremos realmente reduzir o desmatamento
Movimento Mundial Pelas Florestas Tropicais
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