sexta-feira, 8 de junho de 2012

O jardim e o jardineiro

Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Adital


A Amazônia ressurge das águas da pior inundação dos últimos tempos. O sertão do Nordeste, ao contrário, há tempos, não via seca tão extrema. Em outras paisagens do mundo, a cada dia, notícias de um novo terremoto se fazem ouvir. Cientistas concluem: a terra sempre tremeu e o clima sempre alternou enchentes e estiagens, mas nunca em ritmo tão frequente e de forma tão intensa. Atualmente, o ecossistema reage como pode às agressões humanas. A novidade é que se certas profecias indígenas se cumprem e o mundo parece se acabar, dessa vez, a sentença não vem de alguma divindade magoada com os desmandos da humanidade, mas do próprio ser humano que transforma tudo em mercadoria e destrói a natureza apenas em função do lucro. Graças a Deus, uma parte sadia da sociedade civil internacional se mobiliza e toma consciência: a sustentabilidade do planeta é assunto tão urgente e importante que não pode mais ser deixado ao arbítrio de governos que promovem o sistema econômico que destrói a terra. São as comunidades indígenas, grupos afrodescendentes, movimentos sociais organizados e a parte mais consciente da sociedade civil que se articulam e se unem para pensar o futuro e propor uma nova forma de relação do ser humano com a terra e a natureza. Nesta semana, especificamente no dia 05 de junho, a ONU celebra mais uma vez o dia internacional do meio ambiente. Neste ano, essa comemoração ocorre poucos dias antes da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável que se reunirá no Rio de Janeiro de 20 a 22 desse mês. Exatamente por não querer deixar assunto tão determinante para toda a humanidade apenas em mãos de governos e técnicos, a sociedade civil internacional resolveu se mobilizar. No mesmo tempo e lugar, enquanto a ONU se reúne para estudar novas medidas paliativas para aliviar os impactos do Capitalismo sobre a terra, os movimentos sociais se reúnem na Cúpula dos Povos, para um grande mutirão de cura e salvação do planeta Terra, assim como da busca da sustentabilidade que nos envolve a todos. A Conferência oficial da ONU proporá como solução o que está sendo chamado de "economia verde”. Trata-se de taxar um preço para cada elemento da natureza. Pensam que, ao ter de pagar pelas consequências dos seus desmandos, os responsáveis pela destruição evitarão o pior. Ao contrário, as comunidades populares sabem que a terra, a água e o ar não se salvarão por uma cotação de preços à natureza. Qual o preço de uma árvore frondosa? E quanto paga uma empresa para poluir um rio e matar a vida que nele habita? Quanto custará um pouco de ar puro? A Cúpula dos Povos deixará claro que se a sociedade não mudar esse modo de organizar a sociedade não haverá esperança para a terra e a comunidade da vida no planeta.


Nessa mesma semana em que a ONU celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, coincidentemente, na próxima quinta feira, ( foi ontem) a Igreja Católica celebra a festa do Corpo e Sangue de Cristo. Em muitas cidades, se fazem procissões e em outras concentrações coletivas para honrar a eucaristia. Ainda são poucos os católicos que percebem: ao manifestar sua presença no convívio afetuoso em uma ceia e especificamente nos elementos do pão e do vinho, símbolos de todo o universo, este se torna assim um imenso corpo cósmico do Cristo. É preciso que todas as tradições religiosas fortaleçam a dimensão ecológica da sua espiritualidade. É na comunhão com a terra, a água e todos os seres do universo que encontramos a Deus e, podemos testemunhar o que escreveu Paulo: "quando todas as coisas estiverem sob o projeto e como o Cristo quer, então também esse estará plenamente em Deus e, então, Deus será tudo em todos os seres” (1 Cor 15, 28).

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