sábado, 1 de outubro de 2011

CPT denuncia manejo florestal no Riozinho do Rôla

Alerta vem sendo feito desde agosto, quando famílias do seringal São Bernardo procuraram a comissão
 
A bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla, com 7.637 quilômetros quadrados e mais de 1.400 famílias morando na área, está ameaçada de extinção. O alerta vem sendo feito pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) desde agosto, quando famílias do seringal São Bernardo procuraram a comissão para denunciar a exploração ilegal de madeira e a destruição de igarapés na região. 

De acordo com a coordenadora da CPT, Darlene Braga, faz tempo que São Bernardo deixou de ser uma área de seringal, mas uma grande área de fazendas que supostamente pertencem ao madeireiro e pecuarista Mozart Marcondes Filho. Na região do São Bernardo residem aproximadamente 20 famílias de extrativistas que vivem da caça, pesca e da extração dos produtos da floresta. 

Pelos relatos das famílias, o fazendeiro Mozart Marcondes chegou a propor um acordo com os moradores da área, “oferecendo” 75 hectares de terra, uma colocação e R$ 25 mil em dinheiro para quem fosse trabalhar com o manejo nas terras que diz serem dele. Sem medir as consequências, seis famílias chegaram a assinar um acordo, sendo que alguns se arrependeram em seguida, de acordo com relato de Antônio Evangelista da Silva feito à CPT. 

Darlene Braga lembrou que o promotor especializado de Conflitos Agrários, Vinícius Menandro Evangelista, assegurou que o acordo não chegou a ser oficializado e que a intenção do MPE é pôr um fim à problemática social em questão e proporcionar o bem-estar às famílias daquela região. O acordo só será firmado, informou o promotor à coordenadora da CPT, após o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) ser assinado. 

O promotor Vinícius Evangelista chegou a propor a realização de uma audiência pública para discutir a situação agrária da área em conflito, mas Darlene Braga ponderou que numa audiência dessa natureza o debate não poderia se restringir à questão agrária, mas a uma discussão mais ampla sobre o campo ambiental. “Afinal, a problemática central não é só o seringal São Bernardo, mas toda a bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla, uma área de grande interesse econômico por ser região de mata contínua”, observou a ativista.

DEPOIMENTOS

Darlene Braga lembrou que após a visita de um grupo de moradores à CPT, os agentes da comissão foram ao seringal ver e ouvir o que as famílias tinham a dizer sobre o que está ocorrendo após o manejo promovido pela empresa Laminados Triunfo Ltda. Na colocação de Claudino dos Santos Lima, por exemplo, o que viram foram ramais abertos pela madeireira sem autorização dos posseiros, igarapés aterrados com troncos de madeira que impedem o transporte de pequenas embarcações, animais sem água para beber, milhares de peixes mortos e as estradas de seringa e os piques de castanha destruídos. 

Pelo relato de Jorgenilson Nogueira da Costa, posseiro da colocação Alto Alegre 2, no seringal Cachoeira, o manejo não está sendo corretamente seguido pela madeireira, pois estão tirando madeira no mesmo local por vários anos seguidos, com a visível e crescente derrubada de madeira de lei como seringueira e castanheira, além de aterrarem o igarapé São Raimundo com troncos e terra. Em outro ponto do mesmo igarapé o aterro deixou os animais sem água para beber e causou a morte dos peixes. 

Quem também fez um relato aos agentes da CPT foi Antônio Evangelistas da Silva, posseiro na colocação Centrinho 1, no seringal São Bernardo. Segundo ele, lá também aterraram o igarapé, mataram animais e destruíram as nascentes de outros igarapés, além de desviar o curso das águas do Riozinho do Rôla. 

A coordenadora da CPT fez questão de observar que a situação na bacia hidrográfica do Riozinho do Rôla não está controlada. Até quinta-feira da semana passada, segundo ela, a empresa continuava explorando a área, tendo sido aplicada a ela uma multa de R$ 1 mil confirmada por Marcela Fidélis, do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), identificada por Marcela. “É vergonhoso saber que uma madeireira explora uma área sem qualquer critério, causa dano ambiental de proporções animalescas e ao final é premiada com uma multa de R$ 1 mil. E o mais grave: depois disso tudo foi liberada para continuar o manejo florestal”, reagiu indignada a coordenadora da CPT..

Fonte: Pagina 20

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