Já são douze crianças indígenas mortas, provavelmente por contaminação de algum virus (rota virus). Todas das etnias Hui Nukui (Kaxinawa) e Madjá (Kulina) do Alto Rio Purús, nos municípios de Santa Rosa do Purus e Manoel Urbano. Isso em apenas um Mês.
Muitos se dizem surpresos e a imprensa local fala até em "mortes misteriosas". Nós porém, sabemos que o nome deste "mistério" é DESASSISTÊNCIA e abandono. A saúde indígena no Estado do Acre está um caos. Para que tenhamos uma idéia, lideranças indígenas representantes de todos os povos do Acre estiveramacampados por nove meses na sede da Funasa em Rio Branco reivindicando melhorias no atendimento à saúde. Nada conseguiram com isso além de um encontro com um assessor todo poderoso do Governo do Estado, conhecido como Carioca, que apenas os enrolou mais uma vez.
Portanto, as denúncias não são de agora. MPF investiga aplicação de verbas na saúde indígena no Acre . O grave é que ninguém faz nada e fica um jogo de empurra empurra entre as instituições que deveriam estar cuidando da saúde dos povos indígenas.
O chefe do distrito Sanitário Indígena do Purus, Raimundo Costa, por exemplo, afirma não ter conhecimento das mortes das crianças. Isso significa, para mim, que nenhuma equipe tem feito visitas às aldeias. Ou não tem informado aochefe do distrito, o que seria um outro absurdo.
De outro lado, a CASAI - Casa do Índio, afirma que não recebeu nenhuma criança com estes sintomas. O que significa que não houve remoção para tratamento em Rio Branco. Mais um absurdo que demonstra que as crianças estão morrendo sem receberem tratamento adequado. Estão morrendo abandonadas enquanto o governo faz propagandas mentirosas sobre o "estado de felicidade" ou "ditadura da felicidade" como costumam dizer.
Para piorar a situação, não contamos com nenhuma forma de controle social ou de pressão sobre estes órgãos. Os indígenas e supostas ONGs foram "sequestrados" pelo governo e são obrigados a ficar de boca calada. Enquanto as ONGs e algumas "lideranças" indígenas abastecem seus cofres com dinheiro do contribuinte, os povos indígenas continuam morrendo.
A situação é tão grave que até a Funai funciona como que uma secretaria do governo do Estado. É inoperante e quando se manifesta, se esquece que é o órgão oficial de apoio aos povos indígenas. Para encurtar a conversa: parece que tudo gira entorno de interesses do governo do Estado. Funai, a Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Funasa, os Distritos, a Assessoria Indígena e as ONGs não estão cumprindo com suas funções e estão submissas ou silenciosas. Quando as instutuições deixam de cumprir seu papel, a democracia está correndo sério risco.
Os casos das mortes de crianças indígenas apontam para uma reflexão sobre o abandono dos povos indígenas no Estado do Acre em suas várias dimensões e devem servir de ponto de partida para uma reflexão sobre os riscos que corre a democracia em nosso Estado quando tudo se transforma em nutrientes de uma política pobre que beira a politicagem.
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