Caros leitores,
Vocês sabem que não sou dado a publicar matérias que possam conter excessivo apelo pulítico eleitoral. Entretanto, dado a gravidade do "mensalão" para a história do Brasil, não posso deixar de repercutir esta matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo e repercutida pela Contilnet. O mensalão vai entrar para a história como a maior organização criminosa, que operava dentro do governo, da história deste país. è a face mais podre do coronelismo feudal que até hoje domina a política brasileira, da qual o Acre ainda não conseguiu se livrar. Os grifos são meus.
Foi importantes nesse processo o
governador do Acre, Jorge Viana, que conhecia o meio publicitário de
Minas (a agência que fazia a propaganda de seu governo era a mineira
ASA). Sua missão era acalmar o setor e evitar que mais pessoas dessem
entrevistas
Senador Jorge Viana, do PT do Acre
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - O mês de agosto será marcado por uma guerra de versões entre os 38 réus durante o julgamento do mensalão.
Essas divergências se
acentuaram ao longo dos anos, mas, quando o escândalo eclodiu, em 2005,
muitos dos envolvidos formularam uma tese unificada sobre o dinheiro do
esquema.
Tudo virou “caixa dois”. É o jargão usado para o uso de dinheiro não declarado pelas campanhas.
A história é longa. Remonta
ao início de 2003, primeiro ano de Lula na Presidência. Na época, o
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza frequentava as sedes do PT.
Loquaz, dizia aos dirigentes da sigla: “O PT me deve uns R$ 120
milhões”.
Em meados de 2004 o então
ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi procurado por Silvio Pereira,
secretário-geral do PT, que relatou o que ouvira. Dirceu retrucou: “Mas
não eram só R$ 40 milhões?”.
Dirceu nega a existência do
diálogo. Já Silvinho, como é conhecido, relatou a conversa a mais de
uma pessoa. Vistos em retrospecto, os indícios do início do governo Lula
iam todos na direção de um esquema em formação.
O escândalo do mensalão se
materializou em 6 de junho de 2005. Nessa data a Folha publicou uma
entrevista com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmando que
congressistas aliados recebiam o que ele chamava de “mensalão” de R$ 30
mil do PT.
Os petistas ficaram
aturdidos. Não sabiam como reagir. Aí ocorreu algo inusitado. O discurso
de defesa foi arquitetado pela mesma pessoa que forneceu recursos para o
esquema: Marcos Valério.
Tudo seria apenas caixa
dois. Dívidas de campanha que precisavam ser pagas. Algo que todos os
políticos acabam praticando. Um achado. O caixa dois passou a ser a
versão oficial da defesa.
O ESCÂNDALO
Após a entrevista de
Jefferson, a pressão aumentava a cada dia sobre o Planalto. Valério
estava prestes a dar depoimento à Procuradoria.
O empresário mineiro deixou
vazar numa sexta-feira (dia 8 de julho) que teria marcado sua ida à
Procuradoria para a semana seguinte. Vários políticos entraram em
contato com ele.
Delúbio Soares foi um
deles. O tesoureiro do PT e das campanhas de Lula falou com Valério no
sábado. Conversa tensa, com ameaças diversas.
Valério se dizia
abandonado. Queria proteção. Falou em negócios de seu interesse que o
governo não poderia deixar de tocar, como a liquidação do Banco
Econômico.
Delúbio comprometeu-se a
tratar desses pleitos com a cúpula do PT e do governo. Mas a comunicação
era difícil naqueles dias. Na segunda-feira, 11 de julho, Delúbio foi a
Belo Horizonte conversar com Valério. Poucos na direção do PT foram
avisados. Era uma operação de alto risco, mas imprescindível para montar
uma versão aceitável.
Enquanto Delúbio se mexia, o
governo enviava bombeiros para conversas reservadas. Foi importantes
nesse processo o governador do Acre, Jorge Viana, que conhecia o meio
publicitário de Minas (a agência que fazia a propaganda de seu governo
era a mineira ASA). Sua missão era acalmar o setor e evitar que mais
pessoas começassem a dar entrevistas.
Ao mesmo tempo, o prefeito
de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (hoje ministro), procurou políticos
locais para colocar água na fervura.
Em Brasília, Lula se
aconselhava com um antigo tesoureiro do PT, Paulo Okamotto. O ministro
Antonio Palocci (Fazenda) acalmou os credores dos bancos Rural e BMG,
usados no valerioduto. Preocupados com a eventual quebra das
instituições, os credores ameaçavam acioná-las na Justiça. Ouviram de
Palocci que deveriam aguardar, pois o governo não deixaria a situação
sair do controle.
Em 12 de julho, dia
seguinte à visita de Delúbio a Valério, fez-se uma reunião secreta em
São Paulo em um escritório do advogado Arnaldo Malheiros Filho,
responsável pelos casos de Delúbio e Silvio Pereira. Além de Delúbio,
Silvio e dos advogados, estava no local José Genoino, presidente do PT
quando o escândalo surgira. A reunião começou por volta de 9h.
No meio do encontro Delúbio
disse: “Vocês não se espantem não, mas o Marcos Valério está chegando”.
Um jatinho com o publicitário e o advogado Marcelo Leonardo aterrissara
por volta das 10h no Campo de Marte.
Por volta das 10h30,
Valério e Marcelo Leonardo entraram e se isolaram por alguns minutos em
uma das salas do escritório. Quando entraram na sala maior, onde estavam
os outros, o empresário pediu a palavra. “Temos três hipóteses. A
primeira é derrubar a República. Vamos falar tudo de todos. PT, PSDB,
PFL, todos. Não sobra ninguém. A segunda hipótese é a tática PC Farias: ficar calado. Só que ele ficou calado e morreu. A terceira hipótese é um acordo negociado, de caixa dois.”
Todos ficam calados.
Segundo um presente, “era como se estivéssemos todos congelados”. Várias
conversas paralelas começaram, até que cada um apresentou seu ponto de
vista.
Genoino defendeu o governo Lula e a escolha da hipótese número 3. Essa foi a saída consensual.
Antes de a decisão ser
aceita por todos, Delúbio, Valério e Genoino se reuniram separadamente
numa sala. Depois da conversa reservada, o encontro maior não se
instalou mais. Não houve anúncio formal, mas ficou subentendido que a
saída era vender a versão do caixa dois ao público.
Já passava das 13h. A fome
dos presentes foi saciada com sanduíches da padaria Barcelona, na praça
Vilaboim, reduto tucano em São Paulo.
O primeiro a sair foi
Valério. Ficaram no local os demais. Decidiu-se que no dia seguinte eles
iriam a Brasília consultar o governo e as cúpulas dos partidos aliados.
Malheiros providenciou o aluguel de um jatinho. Embarcaram cedo na
quarta. Genoino preferiu não ir.
Ao chegar à capital
federal, Malheiros e Delúbio se dividiram. O advogado foi ao encontro do
então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, hoje advogado de um
ex-diretor do Banco Rural, que é réu. O petista se deslocou para a casa
de um amigo.
Na conversa entre Thomaz
Bastos e Malheiros, o governo teve pela primeira vez detalhes da versão
do caixa dois. Bastos ouviu e falou da necessidade de todos afinarem o
discurso.
Aprovou a estratégia, mas antes precisava submeter o acordo a Lula.
Nessa mesma quarta, Thomaz
Bastos chamou Antonio Palocci e ambos foram até o presidente. Lula
concordou com a versão. O ministro deu sinal verde a Malheiros.
CENTRAL
O endereço em que Delúbio
se instalou em Brasília foi transformado em central da versão do caixa
dois. Foram chamados ao local todos os políticos que precisavam ter o
discurso ajustado. Em romaria, eles chegavam, tomavam conhecimento e
concordavam com a estratégia.
Estiveram ali, pelo menos,
Arlindo Chinaglia, José Janene, José Borba, Valdemar Costa Neto, Aloizio
Mercadante, Ricardo Berzoini, Paulo Okamotto e Renato Rabelo. Entre os
que foram consultados estão Dirceu e um representante do PTB.
No dia seguinte,
quinta-feira (14 de julho), já com tudo acertado, Delúbio passou por
Belo Horizonte para finalizar os detalhes do depoimento de Valério à
Procuradoria, que acabou sendo feito nessa mesma data. Antes de prestar
seu depoimento, o ex-tesoureiro tomou conhecimento do teor do que fora
dito por Valério. O depoimento de Delúbio à Procuradoria ocorreu na
sexta-feira, dia 15.
Na véspera desse
depoimento, com o discurso afinado, os protagonistas da montagem da
versão do caixa dois voltaram a São Paulo. Havia um clima mais relaxado.
No dia 14, à noite, houve ainda duas reuniões para preparar o
depoimento de Delúbio.
A primeira teve como
protagonistas Genoino, Delúbio, Silvio Pereira, Ricardo Berzoini e José
Dirceu. O advogado Arnaldo Malheiros chegou na metade do encontro. Nessa
reunião o objetivo era checar de maneira pontual os detalhes que
Delúbio abordaria.
Um exemplo de que o clima
estava melhor foi o prazer a que se deu Delúbio, torcedor do São Paulo:
ele assistiu ao final da partida em que seu time disputava a finalíssima
da Libertadores –e foi campeão pela terceira vez. Após a partida, todos
saíram para um segundo encontro, já na madrugada de sexta. Coube a
Malheiros ligar para o procurador-geral da República, Antonio Fernando
Souza, para acertar o depoimento de Delúbio. Estava montada a versão do
caixa dois.
Ato contínuo, em viagem a
Paris, o presidente Lula deu entrevista na qual falou sobre a operação. O
“Fantástico”, da TV Globo, transmitiu o vídeo em 17 de julho: “O que o
PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil
sistematicamente”. E mais: “Não é por causa do erro de um dirigente ou
de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção”.
O escândalo começava a
ficar domado. No discurso oficial, circunscrevia-se o mensalão a mero
uso de dinheiro não contabilizado em campanha. Lula não virou réu.
Agora, sete anos depois, o
STF julgará se é verossímil a versão do caixa dois, tão bem arquitetada
naquele conturbado julho de 2005.
Folha de São Paulo
Ilusionismo governamental
"O julgamento do mensalão está em todos os lugares, só não estaria no governo. Dilma avalia, corretamente, que não tem para onde fugir e qualquer que seja o resultado a notícia será ruim, muito ruim para o seu governo. Bem por isso, colocou todo mundo para trabalhar... longe do Tribunal. O plano é ocupar agosto e setembro com uma "agenda do desenvolvimento", pacote de estímulo aos investimentos cheio de medidas populares. E o pedido de presença da Guarda Nacional para fazer a segurança do STF no mês de agosto por ora está negado. Dilma não quer chegar nem perto do escândalo, o problema é que o escândalo mora com Dilma, no PT. "
Postado por Roberto Jefferson
Ilusionismo governamental
"O julgamento do mensalão está em todos os lugares, só não estaria no governo. Dilma avalia, corretamente, que não tem para onde fugir e qualquer que seja o resultado a notícia será ruim, muito ruim para o seu governo. Bem por isso, colocou todo mundo para trabalhar... longe do Tribunal. O plano é ocupar agosto e setembro com uma "agenda do desenvolvimento", pacote de estímulo aos investimentos cheio de medidas populares. E o pedido de presença da Guarda Nacional para fazer a segurança do STF no mês de agosto por ora está negado. Dilma não quer chegar nem perto do escândalo, o problema é que o escândalo mora com Dilma, no PT. "
Postado por Roberto Jefferson
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