Tudo aquilo que temos dito há mais de dez anos, no Estado do Acre, cuja expressão mais forte e corajosa se mostrou, ainda que parcialmente, no DO$$IÊ ACRE, encontra eco e é referendado neste estudo. Agradecemos bastante a publicação deste estudo que se soma aos nossos para corroborar nossa certeza. Precisamos ficar por mais de dez anos sendo perseguidos e renegados aos ultimos lugares para que, na roda da história, os donos dos dólraes, verdes manchados de sangue, não colocassem ali suas mãos.
O professor e pesquisador Elder Andrade de Paula, veja mostras aqui , aqui , por exemplo, tem sido quase que como uma voz no deserto clamando por bom senso, razão e menos, muito menos ambição do capital. Vozes destoantes como as do professor Elder têm se elevado cada vez mais, como o que ocorreu na cúpula dos povos, durante a Rio + 20, onde um grupo, não só lançou o Do$$iê Acre mas participou ativamente de inúmeras mesas e eventos.
Manifestantes levantam faixas, cartazes, mentes e corações |
O principal evento proposto pelas madereiras e levado a cabo pelo Governo do Estado do Acre, durante a cúpula dos povos, Rio + 20, foi "O Dia do Acre" com o sugestivo tema: "Faça do Acre a sua Floresta". Lá estivemos presentes denunciando justamente a ação das madereiras travestidas de "sustentáveis" por meio de seus planos de manejo, REDD, PSA e outras formas de iludir e enganar, mentir para roubar.
Aproveitamos a publicação desta reportagem e deste estudo para conclamar a todas e todos, sensatos, verdadeiros e comprometidos, a se juntarem a nós para, em uma só voz, dizermos firmemente um NÃO ao manejo insustentável e a todas as formas de apropriação e expoliação daquilo que é coletivo e nos foi dado como fonte, forma e força para nossa vida. Mercantilizar a natureza é mercantilizar a própria vida. Aquilo que fazem à terra, o fazem aos filhos e filhas da terra.
Reportagem e artigo:
Uma extração industrial de madeira em florestas tropicais primárias que seja sustentável e rentável é impossível, argumenta um novo estudo na Bioscience,
que detalha como as características das madeiras tropicais tornam uma
extração com práticas realmente sustentáveis impraticável.
A reportagem é de Jeremy Hance e publicado pelo sítio Mongabay e reproduzido pelo Instituto Carbono Brasil, 23-07-2012.
O estudo, que adiciona dados ao crescente debate sobre o papel da extração em florestas tropicais, contraria pesquisas feitas recentemente que defendem que uma extração bem administrada em florestas tropicais antigas poderia fornecer um “meio termo” entre a conservação e a conversão de florestas em monoculturas ou pasto.
“Estamos enfrentando crises globais de biodiversidade e de mudanças climáticas e não podemos nos dar ao luxo de continuar perdendo florestas tropicais primárias – elas têm um papel central para resolver ambas as crises” disseram os autores, Barbara Zimmerman, do Fundo de Conservação Internacional para o Canadá, e Cyril Kormos, vice-presidente de política da Fundação WILD, ao mongabay.com.
“Apesar de décadas tentando extrair sustentavelmente, a taxa de desmatamento mal caiu nos últimos 20 anos de 15 milhões de hectares por ano para 13 milhões de hectares por ano – e essas são estimativas baixas. A extração industrial não mostrou capacidade de manter as florestas em pé. Pelo contrário, a extração é normalmente o primeiro passo da retirada total para abrir caminho para o uso agrícola.”
O estudo descobriu que apenas três 'fases' de extração em florestas tropicais levaram à quase extinção de árvores importantes em todas as principais zonas florestais – América do Sul e Central, África Central e sudeste da Ásia –, resultando não apenas em um distúrbio ecológico, mas em consequências econômicas.
Barreiras ecológicas e econômicas
As características das florestas tropicais – sua rica biodiversidade, variedade inigualável e interconexões extremamente complexas entre espécies – as tornam particularmente suscetível a distúrbios.
Mesmo retirando apenas umas poucas espécies chave de árvores, os madeireiros rapidamente prejudicam essas espécies, deixando o resto em pé e mudando drasticamente a estrutura geral do ecossistema. Dessa forma, os madeireiros prejudicam o sistema ecológico, que permite que certas árvores cresçam novamente.
“Praticamente todas as espécies que têm madeira de alto valor têm uma vida excepcionalmente longa e com crescimento lento, têm poucos exemplares na vida adulta, têm altas taxas de mortalidade de sementes e mudas, têm uma regeneração muito esparsa e dependem da diversidade animal para reprodução. Tudo isso aponta para a conclusão de que árvores tropicais provavelmente precisam de áreas contínuas de florestas ecologicamente intactas muito grandes para manterem tamanhos viáveis de população”, escreveram Zimmerman e Kormos em seu trabalho.
As características particulares dessas árvores fizeram com que muitas companhias de extração simplesmente entrassem em florestas primárias, cortando todas as espécies de alto valor e deixando então a floresta para colonizadores ou cortando tudo para o pasto de gado ou plantações de monocultura (como celulose e papel, borracha ou óleo de palma).
“A extração nos trópicos segue o mesmo modelo econômico que é evidente na maioria das áreas de pesca do mundo”, escreveram Zimmerman e Kormos. “As espécies mais valiosas são seletivamente retiradas antes, e quando elas são exterminadas, as próximas mais valiosas são retiradas, até que as florestas sejam completamente exploradas.”
Embora a extração inicial possa ser muito rentável, as retiradas posteriores trazem cada vez menos dinheiro: menos árvores importantes podem ser achadas e o processo de regeneração de tais espécies é em geral comprometido.
No final, a extração industrial se aniquila, deixado um vácuo econômico que em áreas acessíveis é frequentemente preenchido com a conversão de terras para pasto, fazendas de óleo de palma, agricultura industrial e plantações de madeira para corte.
Alguns cientistas argumentaram que a solução para esse problema é implantar práticas de gestão florestal sustentáveis em madeireiras nos trópicos. De acordo com esses defensores da sustentabilidade, isso garantiria extrações em longo prazo e a proteção da saúde florestal em geral.
Mas segundo o novo estudo, mesmo a chamada extração de impacto reduzido – que é atualmente a exceção em vez da norma nos trópicos – muda consideravelmente a estrutura de uma floresta.
Com muitas sementes vitais e árvores retiradas, Kormos e Zimmerman apontam que a extração de “baixo impacto” deixa 20-50% da cobertura florestal aberta, quando “mesmo pequenas aberturas na cobertura (5-10%) podem ter impactos significativos no teor da umidade da floresta e aumentar o risco de incêndio”.
Detritos deixados no solo da floresta secam rapidamente, criando uma forragem perfeita para o fogo. Ao contrário das florestas temperadas, incêndios em florestas tropicais primárias são pouco vistos, mas a extração de baixo impacto cria um novo conjunto de condições ecológicas que deixam a floresta vulnerável ao calor, vento e fogo.
“Agora sabemos que sob as atuais orientações de gestão florestal sustentável, as florestas tropicais deixadas para se regenerarem naturalmente serão compostas em grande parte por espécies de baixa densidade e de baixo ou nenhum valor comercial, enquanto as espécies densas e de alto valor madeireiro experimentarão grandes reduções na população”, escreveram Kormos e Zimmerman, observando que as orientações atuais estão muito longe de manter as florestas intactas.
A sustentabilidade verdadeira não é impossível de ser alcançada, escreveram Zimmerman e Kormos, mas as orientações precisariam ser consideravelmente fortalecidas. As madeireiras precisariam cortar apenas a cada 60 anos ou mais, retirando menos do que cinco árvores por hectare, deixando espaços de extração menores na cobertura, evitando cortar árvores jovens e usando técnicas de silvicultura para plantar novas sementes, entre outras considerações.
“A chave para a capacidade de uma floresta de recuperar a maior parte de seus atributos originais depois da retirada seletiva é a extração de baixa intensidade”, escreveram eles. Mas há uma razão pela qual não há madeireiros industriais nos trópicos colocando tais regras rigorosas em prática. “O problema em implementar esse tipo de protocolo é que isso diminuiria substancialmente o volume de madeira retirável e aumentaria mais os custos de gestão e treinamento, o que tornaria a operação de extração economicamente inviável”, afirmaram Zimmerman e Kormos ao mongabay.com.
Não é de se estranhar então que as empresas geralmente cortem a madeira e saiam da região, uma prática que resulta na mudança dos madeireiros de uma floresta tropical intocada para outra, sempre procurando por ganhos em curto prazo.
Por exemplo, depois de extrair a maioria das florestas em Bornéu, os madeireiros se mudaram para lugares como a Sumatra. Agora que a Sumatra foi devastada – e muitas de suas florestas foram transformadas em plantações de monocultura – a extração industrial foi para Nova Guiné e as Ilhas Salomão. As florestas tropicais primárias estão desaparecendo no mundo todo. Extração não é um "meio termo"
O trabalho de Zimmerman e Kormos é um dentre muitos que debate, às vezes calorosamente, a papel da extração na proteção ou destruição das florestas tropicais. Por exemplo, uma pesquisa publicada no Conservation Letters recentemente chegou a uma conclusão diferente de Zimmerman e Kormos, descrevendo a extração bem administrada como um meio termo entre a conservação e a destruição total das florestas tropicais para agricultura ou pecuária.
“Florestas tropicais seletivamente extraídas, especialmente se são extraídas com cuidado, mantêm a maior parte de sua biodiversidade e continuam a fornecerem serviços ecossistêmicos como sequestro de carbono e funções hidrológicas”, declarou o principal autor desse estudo, Francis Putz, da Universidade da Flórida, ao mongabay.com em maio.
O trabalho de Putz não argumenta que a extração não teve impacto, mas que qualquer impacto da extração é preferível à derrubada total das florestas. Embora Kormos e Zimmerman concordem com esse ponto, eles veem uma solução diferente.
“Não há dúvida de que a extração industrial é melhor do que pastagens de gado ou óleo de palma ou outras plantações – mas o fato de que a extração industrial é melhor do que a conversão florestal total não significa que devemos subsidiá-la”, disseram Zimmerman e Kormos ao mongabay.com. “Os subsídios deveriam ser dirigidos a atividades que maximizem benefícios de carbono, de biodiversidade e sociais.”
Eles também afirmam que algumas descobertas do outro trabalho são problemáticas. “O artigo inclui espécies exóticas introduzidas na biodiversidade local, e as pesquisas de biodiversidade citadas foram todas feitas logo após a extração e antes de uma segunda retirada, então havia uma expectativa de que ainda haveria alguma biodiversidade em curto prazo – a questão é o que acontece à biodiversidade em médio prazo, em particular depois de uma segunda retirada?”
“Além disso, o artigo declara que as florestas com extração retêm 76% de seu carbono. Mas 24% do carbono de uma floresta é uma quantia muito substancial de emissões de carbono – levaria muitas décadas apenas para recapturar esse carbono, ao passo que precisamos maximizar a captura de carbono florestal agora.”
Mas talvez o mais importante é que os problemas econômicos se mantêm, condenando muitas florestas extraídas ao corte total.
“O ‘meio termo’ não torna a extração sustentável. A artigo de Putz et al claramente reconhece que o meio termo não atinge a sustentabilidade na produção madeireira. Como resultado, não faz nada para mudar a dinâmica fundamental, que é a que geralmente precede a conversão para o uso agrícola. Então o ‘meio termo’ poderia na verdade tornar as coisas piores – acelerando a conversão florestal”, disseram Zimmerman e Kormos.
Fora do REDD
Devido aos problemas para equilibrar a ecologia e a economia da extração em florestas tropicais, Zimmerman e Kormos argumentam que o programa da ONU, o REDD+, deveria interromper o fornecimento de dinheiro a companhias de extração industrial para administrarem as florestas tropicais em troca do carbono.
“O REDD não deveria ser usado para subsidiar a extração industrial. As crises de biodiversidade e mudanças climáticas estão se tornando rapidamente piores e manter as florestas primárias intactas é uma parte essencial da resposta para ambas as crises. O financiamento de REDD deveria ser reservado para atividades que mantêm as florestas primárias intactas, como a gestão e administração de áreas protegidas”, disseram Zimmerman e Kormos.
Eles observaram que o REDD+, que se destina a pagar países para preservarem florestas como reservatórios de carbono, perderia seu objetivo principal, já que mesmo concessões de extração bem administradas perdem uma quantia significativa de carbono quando as árvores caem, especialmente árvores grandes e antigas. Além disso, as florestas com extração correm riscos significativos de uma perda total de carbono como resultado de incêndio ou conversão para uso agrícola.
Ainda assim, Zimmerman e Kormos afirmam que a extração pode ocorrer em florestas tropicais, mas deveriam ser pequenas operações dirigidas por comunidades locais, e não a extração industrial que domina o comércio atualmente.
“A extração comunitária funciona quando é implementada em escala não industrial por comunidades que têm interesse em serem boas administradoras de sua terra”, declararam eles. A questão aqui é que as comunidade locais governem suas próprias florestas, o que acaba com o problema de corte e saída da região. Além disso, tais programas devem ser apoiados pelo governo nacional. É aí que o REDD+ realmente poderia fazer diferença.
“A razão mais importante pela qual esses modelos bem sucedidos de gestão florestal sustentável em escala local não foram ampliados garantindo os remanescentes florestais é a falta de financiamento – uma situação que um investimento de REDD+ poderia corrigir”, observaram os autores.
Zimmerman e Kormos disseram que apoiariam uma moratória global para a extração industrial em florestas primárias, uma ideia que foi lançada em alguns círculos ambientais. Moratórias em pequena escala não são novidade. A Indonésia está atualmente tentando implementar uma moratória nacional, ainda que o esquema esteja enfrentando muitas dificuldades e críticas dos ambientalistas e da indústria.
Além disso, em 2002, a República Democrática do Congo instituiu uma moratória para quaisquer novas concessões de extração concedidas ou renovadas, embora essa moratória também tenha sofrido violações generalizadas.
Mas para os madeireiros não entrarem nas últimas florestas tropicais primárias do mundo – ao menos nas que atualmente não são protegidas pelos parques – mudanças drásticas precisarão ser feitas na governança florestal. Atualmente, as políticas favorecem grandes conglomerados de extração industrial em vez de comunidades locais, que têm uma participação de longo prazo na saúde de suas florestas.
Citações
• Barbara Zimmerman and Cyril Kormos. Prospects for Sustainable Logging in Tropical Forests. BioScience 62: 479–487. doi:10.1525/bio.2012.62.5.9.
• Francis E. Putz, Pieter A. Zuidema, Timothy Synnott, Marielos Peña-Claros, Michelle A. Pinard, Douglas Sheil, Jerome K. Vanclay, PlinioSist, Sylvie Gourlet-Fleury, Bronson Griscom, John Palmer and Roderick Zagt. Sustaining conservation values in selectively logged tropical forests: The attained and the attainable. Conservation Letters. 2012. doi: 10.1111/j.1755-263X.2012.
Terça, 24 de julho de 2012
A Grande Extinção e o aquecimento
"O aumento da concentração de CO2 na atmosfera causa a acidificação dos oceanos, tendo severas consequências para a vida marinha", escreve Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita", em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 23-07-2012.
Segundo ele, diferente do passado, "agora, somos nós os culpados principais dessa transformação global. E somos nós, também, os únicos que têm a possibilidade de fazer algo para atenuar as mudanças que já ocorrem no nosso planeta. Ignorar as lições da história nos leva a repetir os erros do passado".
Eis o artigo.
Mas essa catástrofe mal se compara à Grande Extinção, que ocorreu cerca de 252 milhões de anos atrás, no final do Permiano.
Cientistas estimam que cerca de 95% de todas as espécies marinhas, e uma fração desconhecida -mas provavelmente comparável- das espécies terrestres encontraram o seu fim em alguns milhões de anos, o que não passa de um piscar de olhos em termos geológicos.
Embora outro impacto de um objeto vindo do espaço tenha sido proposto como causa, pesquisa recente sugere que a mortandade se deveu à falta de oxigênio na água, acoplada a um excesso de gás carbônico, que aumentou a acidez e a temperatura do oceano. (Só havia um oceano na época.) Uma amplificação não linear desses efeitos aumentou os danos; esponjas e corais foram devastados.
Em um artigo recente para a revista científica "Annual Reviews of Earth and Planetary Sciences", Jonathan Payne, da Universidade Stanford, e Matthew Clapham, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, propõem que a catástrofe coincidiu com uma das maiores erupções vulcânicas da história e consequente dilúvio de basalto, que formou grande parte da Sibéria. Essa erupção lançou quantidades enormes de gases na atmosfera, comprometendo a química oceânica e causando uma mudança climática global incluindo, possivelmente, a destruição da camada de ozônio, o que explicaria a extinção das espécies terrestres. No estudo das mudanças climáticas do passado ou na que ocorre atualmente, a ligação entre a dinâmica dos oceanos e a da atmosfera é essencial.
Essa extinção serve de laboratório para o que anda ocorrendo hoje, quando quantidades muito elevadas de gás carbônico vêm sendo lançadas na atmosfera, causando a rápida acidificação e aquecimento dos oceanos. Em 1996, Andrew Knoll, um geólogo da Universidade de Harvard, sugeriu que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera teve consequências severas para a vida marinha no período Permiano. "Hoje, nós humanos somos tão ou mais eficazes do que os vulcões permianos no ato de despejar gás carbônico na atmosfera", disse Knoll à repórter Alanna Mitchell, do "New York Times".
Obviamente, não estamos no período Permiano, quando a Terra era muito diferente do que é hoje. Por exemplo, existia apenas um continente, Pangeia, e a química oceânica era bem diferente. Porém, a lição é bastante clara, para aqueles que se dispõem a escutá-la: o aumento da concentração de CO2 na atmosfera causa a acidificação dos oceanos, tendo severas consequências para a vida marinha.
A grande diferença é que, agora, somos nós os culpados principais dessa transformação global. E somos nós, também, os únicos que têm a possibilidade de fazer algo para atenuar as mudanças que já ocorrem no nosso planeta. Ignorar as lições da história nos leva a repetir os erros do passado.
Segundo ele, diferente do passado, "agora, somos nós os culpados principais dessa transformação global. E somos nós, também, os únicos que têm a possibilidade de fazer algo para atenuar as mudanças que já ocorrem no nosso planeta. Ignorar as lições da história nos leva a repetir os erros do passado".
Eis o artigo.
Mas essa catástrofe mal se compara à Grande Extinção, que ocorreu cerca de 252 milhões de anos atrás, no final do Permiano.
Cientistas estimam que cerca de 95% de todas as espécies marinhas, e uma fração desconhecida -mas provavelmente comparável- das espécies terrestres encontraram o seu fim em alguns milhões de anos, o que não passa de um piscar de olhos em termos geológicos.
Embora outro impacto de um objeto vindo do espaço tenha sido proposto como causa, pesquisa recente sugere que a mortandade se deveu à falta de oxigênio na água, acoplada a um excesso de gás carbônico, que aumentou a acidez e a temperatura do oceano. (Só havia um oceano na época.) Uma amplificação não linear desses efeitos aumentou os danos; esponjas e corais foram devastados.
Em um artigo recente para a revista científica "Annual Reviews of Earth and Planetary Sciences", Jonathan Payne, da Universidade Stanford, e Matthew Clapham, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, propõem que a catástrofe coincidiu com uma das maiores erupções vulcânicas da história e consequente dilúvio de basalto, que formou grande parte da Sibéria. Essa erupção lançou quantidades enormes de gases na atmosfera, comprometendo a química oceânica e causando uma mudança climática global incluindo, possivelmente, a destruição da camada de ozônio, o que explicaria a extinção das espécies terrestres. No estudo das mudanças climáticas do passado ou na que ocorre atualmente, a ligação entre a dinâmica dos oceanos e a da atmosfera é essencial.
Essa extinção serve de laboratório para o que anda ocorrendo hoje, quando quantidades muito elevadas de gás carbônico vêm sendo lançadas na atmosfera, causando a rápida acidificação e aquecimento dos oceanos. Em 1996, Andrew Knoll, um geólogo da Universidade de Harvard, sugeriu que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera teve consequências severas para a vida marinha no período Permiano. "Hoje, nós humanos somos tão ou mais eficazes do que os vulcões permianos no ato de despejar gás carbônico na atmosfera", disse Knoll à repórter Alanna Mitchell, do "New York Times".
Obviamente, não estamos no período Permiano, quando a Terra era muito diferente do que é hoje. Por exemplo, existia apenas um continente, Pangeia, e a química oceânica era bem diferente. Porém, a lição é bastante clara, para aqueles que se dispõem a escutá-la: o aumento da concentração de CO2 na atmosfera causa a acidificação dos oceanos, tendo severas consequências para a vida marinha.
A grande diferença é que, agora, somos nós os culpados principais dessa transformação global. E somos nós, também, os únicos que têm a possibilidade de fazer algo para atenuar as mudanças que já ocorrem no nosso planeta. Ignorar as lições da história nos leva a repetir os erros do passado.
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