A quarta cópia, por Ricardo Noblat
Dá-se a prudência como característica marcante dos mineiros.
Teria
a ver, segundo os estudiosos, com a paisagem das cidadezinhas de
horizonte limitado, os depósitos de ouro e de pedras preciosas
explorados no passado até se esgotarem, e a cultura do segredo e da
desconfiança daí decorrente.
Não foi a imprudência que afundou a vida de Marcos Valério. Foi Roberto Jefferson mesmo ao detonar o mensalão.
Uma vez convencido de que o futuro escapara definivamente ao seu controle, Valério cuidou de evitar que ele se tornasse trágico.
Pensou no risco de ser morto. Não foi morto outro arrecadador de recursos para o PT, o ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André?
Pensou
na situação de desamparo em que ficariam a mulher e dois filhos caso
fosse obrigado a passar uma larga temporada na cadeia. E aí teve uma
ideia.
Ainda
no segundo semestre de 2005, quando Lula até então insistia com a
lorota de que mensalão era Caixa 2, Valério contratou um experiente
profissional de televisão para gravar um vídeo.
Poderia, ele mesmo, ter produzido um vídeo caseiro. De princípio, o que importava era o conteúdo. Mas não quis nada amador.
Os
publicitários de primeira linha detestam improvisar. Valério pagou caro
pelo vídeo do qual fez quatro cópias, e apenas quatro.
Guardou
três em cofres de bancos. A quarta mandou para uma das estrelas do
esquema do mensalão, réu do processo agora julgado pelo Supremo Tribunal
Federal.
Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três
cópias. Se Valério for encontrado morto em circunstâncias suspeitas ou
se ele desaparecer sem dar notícias durante 24 horas, Renilda sacará dos
bancos as três cópias do vídeo e as remeterá aos jornais O Estado de
São Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo. (Sorry, VEJA!)
O que
Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele
ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia.
Na
ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações
aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que
petrifica rapidinho.
A fina astúcia de Valério está no fato de
ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria
por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava.
Daí para
frente, sempre que precisou de ajuda ou consolo, foi socorrido por um
emissário do PT. Na edição mais recente da VEJA, Valério identifica o
emissário: Paulo Okamotto.
Uma espécie de tesoureiro informal da família Lula da Silva, Okamotto é ligado ao ex-presidente há mais de 30 anos.
No
fim de 2005, um senador do PT foi recebido por Lula em seu gabinete no
Palácio do Planalto. Estivera com Valério antes. E Valério, endividado,
queria dinheiro. Ameaçava espalhar o que sabia.
Lula observou em
silêncio a paisagem recortada por uma das paredes envidraçadas do seu
gabinete. Depois perguntou: "Você falou sobre isso com Okamotto?"
O
senador respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi
perguntado. Acionado, Okamotto cumpriu com o seu dever. Pulou-se outra
fogueira. Foram muitas as fogueiras.
Uma delas foi particularmente dramática.
Preso
duas vezes, Valério sofreu certo tipo de violência física que o fez
confidenciar a amigos que nunca, nunca mais voltará à prisão. Prefere a
morte.
Valério acreditou que o prestígio de Lula seria suficiente
para postergar ao máximo o julgamento do processo do mensalão,
garantindo com isso a prescrição de alguns crimes denunciados pela
Procuradoria Geral da República.
Uma eventual condenação dele seria mais do que plausível. Mas cadeia? E por muito tempo?
Impensável!
Pois bem: o impensável está se materializando. E Valério está no limiar do desespero.
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