Posicionamento da 33ª Assembleia do Cimi Norte II
Celebrando a vida e a luta dos povos indígenas na Amazônia
Entre os dias 24 a 27 de setembro de 2012 o Cimi regional Norte II (Pará/Amapá) realizou sua 33ª assembleia, com o lema Celebrando a vida e a luta dos povos indígenas na Amazônia.
Avaliamos
nossa caminhada junto aos povos indígenas nos últimos 40 anos,
analisamos a conjuntura indigenista atual no país, refletimos sobre
nossas motivações e convicções e apontamos as perspectivas da atuação do
Cimi regional. Fazendo memória da caminhada, a partir dos relatos dos
missionários e dos indígenas convidados constatamos que, apesar das
grandes dificuldades e desafios, os povos indígenas conquistaram, neste
período, com o apoio do Cimi e outros aliados, muitos avanços na
consolidação de seus direitos e de reconhecimento junto a sociedade.
Lançando
um olhar sobre a realidade indígena e Amazônica verificamos um cenário
sombrio capaz, não só de retroceder em relação as importantes conquistas
indígenas das últimas décadas, mas de comprometer toda a vida na
região.
O
interior da Amazônia está sendo intencionalmente esvaziado para
satisfazer poderosos interesses econômicos externos. Ribeirinhos,
indígenas, comunidades tradicionais e pequenos agricultores, que
historicamente protegeram a região estão sendo obrigadas a migrar para
as cidades devido a ausência ou a precarização das políticas públicas,
tanto estaduais quanto federais, de promoção do bem estar das
comunidades do avanço do agronegócio e pelos impactos de mega projetos
de infraestrutura.
Os
grandes projetos de transporte, energia, comunicação que compõem a
IIRSA (Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul
Americana) e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estão sendo
implantados de forma autoritária, rápida, inconsequente e ao arrepio da
legislação que assegura os direitos dos povos e comunidades tradicionais
e da natureza.
Existe
muita pressa em criar as condições para que os saqueadores se apropriem
das riquezas da região e nenhuma preocupação ou cuidado com a vida. Com
estratégias de sedução ou de intimidação como a criminalização das
lutas populares, típica de governos autoritários, tenta-se quebrar toda e
qualquer resistência, venha ela dos povos indígenas, comunidades
tradicionais, de ambientalistas e mesmo do MPF.
As
terras indígenas, unidades de conservação e outras áreas protegidas
estão sendo consideradas estratégicas para a territorialização e
acumulação do Capital. Para o acesso, controle e exploração da terra e
dos recursos naturais nestes espaços está sendo modificado o Código
Florestal e está em curso um violento ataque aos direitos indígenas e
dos quilombolas, com a conivência e omissão do governo que tem a
responsabilidade de cuidar do bem comum e zelar o patrimônio público.
Insere-se também neste contexto a ameaça dos mercados de carbono e de
contratos de REDD que comprometem a soberania, a autonomia e o controle
do território dos povos indígenas.
Denunciamos
uma vez mais o absurdo da construção da hidrelétrica de Belo Monte, no
rio Xingu/PA. Compromete o ecossistema da região e a vida das
comunidades indígenas e ribeirinhas. Além do lago, secará uma extensão
de 100 km do rio Xingu. Afronta o direito a consulta prévia, livre e
informada dessas comunidades previsto na Constituição Federal e na
Convenção 169 da OIT. Baseia-se num Estudo de Impacto Ambiental
inconsistente e mesmo assim muitas condicionantes nele previstas para o
início das obras não foram cumpridas. Um projeto caríssimo, mesmo não
mensurando os prejuízos sociais, culturais e ambientais, sendo arcado em
grande medida com recursos públicos.
Os
projetos de construção de um conjunto de hidrelétricas na bacia do Rio
Tapajós seguem o mesmo caminho, projetando danos irreversíveis para os
povos indígenas, comunidades ribeirinhas e ao meio ambiente. Os estudos
de impacto ambiental para a construção da hidrelétrica de São Luiz no
médio Tapajós já estão em ritmo acelerado, desrespeitando o direito a
consulta prévia das comunidades locais e o estudo de bacia exigido pelo
Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Aumenta
o saque dos recursos naturais do povo da Amazônia, através da expansão
da mineração na região sul e sudeste do estado do Pará, promovendo a
concentração da riqueza na mão de poucos e socializando os prejuízos.
Grande parte da energia a ser produzida na Amazônia com as hidrelétricas
pagas com o dinheiro público vai ser destinada, a preços subsidiados,
para projetos de mineração, inclusive em terras indígenas, caso seja
aprovado o PL 1610 que tramita no Congresso Nacional em regime de
urgência.
Paradoxalmente
aos grandes investimentos que estão sendo feitos no Pará para
viabilizar a super exploração dos recursos naturais e a fortuna das
grandes empresas, encontra-se lamentável a situação da educação escolar
indígena no estado do Pará, que se configura como uma das piores de todo
o país.
Situação
caótica também encontra-se a situação da saúde indígena que reflete a
falta de prioridade do governo e a sua política autoritária de
implantação de políticas públicas de saúde sem considerar a realidade
dos povos.
Diante
dessa realidade convocamos todas as pessoas e organizações da sociedade
civil preocupadas com o futuro para criar uma força política capaz de
inviabilizar o projeto dos saqueadores e a pensar a Amazônia para além
das fronteiras dos países, a partir da sabedoria milenar dos povos
indígenas, da experiência das comunidades tradicionais, em benefício da
coletividade.
Javé
disse: eu vi muito bem a miséria do meu povo. Ouvi o seu clamor contra
os seus opressores e seus sofrimentos. Por isso desci para libertá-lo,
(Êxodo 3,7)
Belém, 27 de Setembro de 2012
Conselho Indigenista Missionário – Regional Norte II
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