O novo eldorado da família do senador
Por Marcelo Rocha
O
senador Romero Jucá. Sua filha quer explorar minério em Roraima, na fronteira com a Venezuela (Foto: Celso Junior/AE) |
Na tarde do dia 17 de maio, uma quinta-feira de
trabalho no Congresso, o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, subiu à
tribuna para, como de hábito, defender os mais caros interesses do país. Desta
vez, exortaria os parlamentares a legalizar a mineração em terras indígenas,
prevista num projeto de lei patrocinado por ele. Jucá se ajeitou na tribuna,
empertigando-se diante do microfone, e se pôs a falar: “Quero aqui registrar a
importância deste debate. Para o Brasil, é muito importante (a aprovação da
lei)”. Passou, então, a explicar os benefícios da proposta: “Haverá
pagamento de royalties ao Poder Público e também à população indígena. Ganhará
o direito à mineração aquele que pagar mais à comunidade indígena. Haverá uma
licitação. Haverá todo o cuidado ambiental, todo o cuidado antropológico da
Funai”. Jucá – talvez convencido de que comovera os colegas por ter, pela
primeira vez na carreira, empregado no mesmo discurso os termos “licitação”,
“cuidado ambiental” e “cuidado antropológico” – encerrou com um apelo para que
o projeto seja aprovado logo, ainda neste ano. Por que Jucá tem pressa?
Em 2 de abril – portanto, um mês antes do discurso
de Jucá –, a empresa Boa Vista Mineração pedira autorização ao governo para
explorar ouro em nove terras que contêm áreas indígenas. O pedido fora feito ao
Departamento Nacional de Produção Mineral, o DNPM, instância burocrática que
cuida do assunto. A quem pertence a Boa Vista Mineração, uma empresa com
capital de R$ 2 milhões? A sócia majoritária chama-se Marina Jucá, de 29 anos,
filha do senador Romero Jucá. Outros dois sócios dela no negócio também são ligados
ao senador. O tino empresarial de Marina Jucá é recente. Não faz muito tempo,
era empregada no gabinete do pai e fazia faculdade em Brasília.
Jucá
afirma que não há conflito de interesses em defender uma lei que beneficia sua
filha
O clã Jucá quer explorar ouro em reservas dos
índios macuxi e uapixana, em terras que somam 90.400 hectares (algo como a
extensão da cidade do Rio de Janeiro). O garimpo ficará próximo à fronteira com
a Venezuela, em Roraima. Em Brasília, está tudo preparado para a criação do
eldorado de Jucá. O relator na Câmara do projeto de Jucá é o deputado Édio
Lopes, também do PMDB de Roraima, e amigo do senador. Sérgio Dâmaso, que dirige
o DNPM e pode conceder as autorizações à empresa de Jucá, é bancado no cargo
pelo PMDB. Se a proposta for aprovada, é provável que a empresa de Jucá consiga
as autorizações de imediato, sem licitação, porque as havia pedido antes de a
nova lei passar a valer.
Procurado por ÉPOCA, Jucá limitou-se a dizer, por
e-mail, que não tem nada a ver com a empresa da filha. Disse ainda que a defesa
que faz no Congresso Nacional da aprovação do projeto de lei não representa
conflito de interesses com a atividade empresarial de Marina Jucá. “É de
interesse do país que esse assunto sejaregulamentado.”
Revista Época
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