segunda-feira, 23 de março de 2015

Quem financia os deputados contra áreas protegidas no Brasil

Não surpreende que, dos quase 50 deputados listados na Comissão Especial que analisará a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, pelo menos 20 tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por grandes empresas do agronegócio, mineração, energia, madeireiras e bancos. A PEC transfere do governo federal para o Congresso o poder de demarcar Terras Indígenas, titular áreas quilombolas e criar Unidades de Conservação (UCs). Na prática, se aprovado, o projeto deverá significar a paralisação definitiva da oficialização dessas áreas protegidas.
Alguns parlamentares, sozinhos, receberam mais de R$ 1 milhão de empresas ligadas a esses segmentos. Somente a JBS financiou sete deputados que estão nesta Comissão Especial, totalizando mais de R$ 2 milhões em doações. Os dados citados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), organizados pelo jornal Estado de S. Paulo.
Parlamentar e agropecuarista, Dilceu Sperafico (PP-PR) embolsou R$ 900 mil da JBS e mais R$ 792 mil da Galvão Engenharia, empreiteira investigada na Lava Jato. Empresas como Odebrech, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, também investigadas pela Operação Lava Jato, fizeram polpudas doações aos parlamentares que vêm atacando as áreas protegidas brasileiras. Estamos falando de mais de R$ 10 milhões doados oficialmente e declarados ao TSE.
O presidente da Comissão Especial da PEC 215, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), teve 60% de sua campanha de 2014 paga com recursos da Galvão Engenharia e 30% por empresas da família Maggi. Ele assumiu a liderança da comissão na última terça-feira (17) e destacou que dará um prazo de 2 meses para votação da matéria (leia mais), “em nome da democracia”. Após a reunião, Leitão confessou que “poderia ter acabado com isso (a discussão da PEC) na mesma hora”, colocando para aprovação o relatório que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) apresentou na legislatura passada.
Serraglio, financiado também com recursos da JBS, foi reconduzido à relatoria da PEC 215. Na legislatura anterior, a proposta foi arquivada e o relatório não foi votado por pressão do movimento indígena e socioambientalista. O projeto foi desarquivado por solicitação dos ruralistas em fevereiro deste ano.  
Ruralistas Lava Jato - Os deputados Luis Carlos Heinze (PP/RS), Jerônimo Goergen (PP-RS) e Dilceu Sperafico (PP-PR) foram citados e serão investigados na Operação Lava Jato. Heinze é um dos principais líderes ruralistas no Congresso, já foi presidente Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que reúne a bancada ruralista no Congresso Nacional. Ano passado, foi alvo de uma queixa-crime apresentada por organizações indígenas no Superior Tribunal Federal (STF) e de representação na Procuradoria Geral da República (PGR), por ele ter estimulado agricultores a usar segurança armada para expulsar indígenas das terras.
Já o deputado Goergen, atual coordenador da FPA, recebeu cerca de R$ 1,6 milhão de patrocínio de empresas ligadas ao agronegócio. Mais de 50% (R$ 850 mil) veio da JBS e uma pequena parte (R$ 100 mil) da Andrade Gutierrez, uma das empreiteiras citadas na Operação Lava Jato. Goergen destaca-se pelo discurso agressivo contra os direitos indígenas. Em 2013, foi acusado por quatro colegas de partido – inclusive Heinze – de “tráfico de influência” por divulgar como sendo de sua responsabilidade a liberação de recursos do Ministério das Cidades para municípios gaúchos.
Conforme o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), um congressista pode ser considerado ruralista quando, “mesmo não sendo proprietário rural ou atuando na área de agronegócio, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e em outras manifestações públicas”. De forma geral, tais interesses são a contraposição à reforma agrária, questões ambientais e direitos dos indígenas”.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Em tempos difíceis como o atual, temos que fazer memória: O RELÓGIO A BOMBA e os outros 500

Faço memória daqueles dias terríveis, mas profundamente formativos, para que nos tempos atuais, de marcha contra os povos indígenas, tenhamos a força necessária para seguir em frente e combater o bom combate enfrentando as caravelas ruralistas, neopetencostais, economia verde, financeirização da natureza e da vida, novos projetos de saques aos territórios como Pagamentos por Serviços Ambientais e REDD, mudanças na legislação, assassinatos e genocídios.

Tive o prazer de participar dos eventos que culminaram na conferência e Marcha Indígena dos Outros 500, acompanhando uma delegação de indígenas do Acre. Fui agredido e detido pelas forças  de repressão. Mas nada machucou mais meu coração que ver os povos indígenas humilhados, maltratados e afrontados em sua dignidade. Hoje, como àquela época, vivemos tempos de deboche por parte dos governantes. Também hoje vivemos sob a manipulação da grande mídia com seus novos 'relógios' a marcar os dias que faltam para o fim dos povos indígenas.

O momento exige de todos nós serenidade revolta e paz irrequieta. Sigamos firmes enfrentando esta fria noite na certeza de que o raiar do dia não tarda. Faremos ao amanhecer uma grande festa, a festa da vitória, a revolução da alegria e da liberdade. 

Viva a autodeterminação dos povos indígenas!


Yawanawa exigem transparência da empresa AVEDA e dizem não estar informados sobre o projeto de REDD

"AVEDA" Mencionada pelos Yawanawa é uma empresa que pretende aplicar o Projeto de REDD+ nas terras do povo Yawanawa,  sob alegação de que os apoiará no que estão chamando de "plano de vida do povo Yawanawa. Entretanto, os Yawanawa suspeitam da verdadeira intenção da empresa e alegam que não estão sendo devidamente informados sobre o projeto de REDD e denunciam que apenas algumas pessoas da comunidade se beneficiariam. (observação do blog)

INSTITUTO YAWA
INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E CULTURAL YAWA
Aldeia Yawarany, Terra Indígena Rio Gregório, S/N Zona Rural, CEP: 69.970-970 Tarauacá-Ac,
Tel: (68) 9988.7423/ 9906.5924
Email – TinstitutoYawa@bol.com.br
Dia 17/03/2015
Nós Povo indígena Yawanawa habitantes da aldeia Yawarany, Terra indígena Rio Gregório, município de Tarauacá-Ac, vimos através do Instituto Yawa – Instituto Sócio Ambiental e Cultural Yawa, organização indígena representativa do povo Yawanawa da aldeia Yawarany, no exercício de cidadania, em defesa dos direitos constitucionais dos povos indígenas, em consonância ao Art. 232 da constituição Federal, (que diz, os índios suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo), vem por meio deste, comunicar a empresa AVEDA e parceiros pretensos financiadores do Projeto PLANO DE VIDA DO POVO YAWANAWA, entendendo o assunto ser muito serio, o qual precisa ser discutido de maneira sincero, claras e transparente com o povo Yawanawa, o qual deve ser explicando sobre os riscos e benefícios, vantagens e desvantagens, bem como a repartição dos benefícios forma de acesso aos recursos, e por quem será feito a gestão e execução dos recursos do Plano de Vida. 
Nós temos uma grande preocupações a exemplo do que aconteceu com nós povo yawanawa, principalmente as famílias que foram atingida pela alagação do Rio Gregório, ocorrida no período do dia 19/11/2014. Nosso nome foi usado para realização de duas (02) campanha de arrecadação financeiros, materiais e sextas básicas em beneficio das famílias alagadas. Porem as famílias yawanawa atingidas diretamente estes não foram beneficiadas de maneira correta como deveria ser feito. 
Não sabemos quanto foi arrecadados e como foi gastos os recursos financeiro da campanha, o que precisa ser investigados. 
Até hoje as famílias yawanawa que foram atingidas pela alagação, encontram-se na aldeia em situações precárias com bastantes dificuldades para ressarcir os prejuízo, onde tanto dinheiro foi arrecadados em seus nomes. 
É de conhecimento de todo o povo yawanawa, que pessoas se beneficiaram tiraram proveito encima das desgraça e sofrimento das famílias atingidas pela alagação. 
Diante do expostos, nós povo Yawanawa da aldeia Yawarany, através do instituto Yawa, propomos ou sugerimos que sejam feito de maneira claras e transparente a prestação de conta dos recursos financeiros arrecadados em prol dos povos indígenas yawanawa atingidas pela alagação. Somente após a prestação de contas a nós povo yawanawa pelas pessoas responsáveis da campanha de arrecadação financeira que daremos a continuidade da discussão sobre o Projeto Plano de Vida do povo Yawa.

Instituto Yawa - A voz da queixada
Diretor Presidente do Instituto Yawa


Para ajudar a entender o que está acontecendo, publico a seguir um texto da Sra. Alice Korngold sobre a relação da Aveda com os Yawanawa. Leia a versão original, em inglês AQUI

Tradução Google

Aveda e os Yawanawá: CHEFE CSR PARA CHEFE

POR ALICE Korngold


"Aveda eo povo Yawanawa têm trabalhado juntos durante 17 anos. Apesar de ter havido desafios em se comunicar e compreender o outro, com um sendo uma grande empresa eo outro uma comunidade de base nas profundezas da Amazônia, estamos a trabalhar para o mesmo objetivo , que é a de proteger o meio ambiente para o mundo. " Isto é o que Chief Tashka Yawanawa me explicou esta tarde por telefone via satélite. Chief Tashka lidera o Yawanawa, os indígenas que vivem no Acre, na parte ocidental longe do Brasil.

Segundo Tashka, Aveda tem ajudado a mais do que o dobro do tamanho dos direitos à terra do Yawanawa para 178 mil hectares (687 milhas quadradas), e tem prestado um apoio para proteger a terra. Sem os esforços da Aveda, Tashka explicou, "nós não teríamos um futuro." Juntamente com a Aveda, "nós trabalhamos em harmonia, nós temos a nossa saúde, a nossa terra, a nossa identidade e nosso futuro."

A aldeia global também se beneficia. Com a terra Yawanawa na floresta amazônica que agora está protegido com a ajuda de Aveda, 30 milhões de toneladas de carbono não será liberado. Além de seu trabalho no Acre, e que reflecte a sua abordagem global mais amplo, Aveda é a primeira empresa a endossar e assinar os Princípios Ceres (Coalizão para Economias Ambientalmente Responsáveis), um código de conduta corporativa ambiental.

Qual é o valor a Aveda? Em uma entrevista privada com Dominique Conseil, o presidente, durante a Conferência Economist em Cidadania Corporativa 2010, Conseil me explicou que Aveda vê o mundo natural como fonte para as matérias-primas para a saúde e produtos de beleza Aveda que produz e utiliza ", como Desde que somos mordomos responsáveis ​​dos nossos recursos naturais limitados. " Na Amazônia, por exemplo, o pigmento urukum colhida pelo Yawanawa de urukum árvores fornece a cor rica e ressonante que Aveda usa para make-up, shampoos, condicionadores e produtos de styling. Além disso, a embalagem para a Aveda Yuruku Bronzer é adornada com símbolos usados ​​na Yawanawan cerimônias pintura de rosto. Os símbolos representam sabedoria e cura (o diamante), coragem e força (a seta) e sustento da vida (o peixe).

A fim de cumprir os seus compromissos para outras comunidades globais a partir do qual Aveda Fontes ingredientes, os sócios da empresa com uma variedade de ONGs que têm conhecimento, bem como as relações de base. Uma tal parceria é com o Fundo Global de Greengrants. "Com os recursos da venda da Aveda de acender as velas Way durante o mês da Terra (mais de um milhão de dólares em 2009), nós conceder subvenções a grupos de justiça social e econômica em todo o mundo em desenvolvimento através de uma rede de consultores de ativistas", explicou Terry Odendahl, Presidente, em uma entrevista particular comigo. Além disso, Odendahl disse: "Aveda estabelecido um doador aconselhou fundo para dar a volta à comunidades onde a empresa Fontes seus ingredientes."

No processo de obtenção de direitos de terra para a Yawanawa, Conseil e seu conselheiro especial sobre os recursos naturais, David Hircock, também ajudou a fornecer Tashka com uma plataforma na ONU e uma introdução para o príncipe Charles. O desejo de Tashka é que a parceria com a Aveda será um modelo para outras empresas.

Imaginando que esta parceria teve seus desafios e as "lições aprendidas", perguntei Tashka e Hircock sobre isso. Eles apontaram que o processo é lento e exige paciência. Por exemplo, o Yawanawa tomar todas as decisões por consenso, de modo que quando se encontra com Tashka Conseil para planejar, ele deve sempre verificar novamente com o Yawanawa para a sua entrada. Além disso, o Yawanawa pode levar dias para tratar de uma questão e chegar a uma decisão antes Tashka possa voltar ao Conseil. Hircock disse: "Estamos a aprender uns com os outros", e Tashka concordou.

Faça o Yawanawa as pessoas confiam Aveda, perguntei. Tashka respondeu que seu povo entender que essa relação acaba por beneficiar deles e da comunidade. Mais importante Tashka explicou que Aveda respeite que esta é uma comunidade tribal, e reconhece quando certas decisões devem ser tomadas pelo Yawanawa entre si. "Nós não interferir", disse Hircock. "Nós deixamos a comunidade decidir. Este é um relacionamento de longo prazo."


E o que acontece se há desafios no futuro, eu perguntei Tashka. "Então vamos falar, Chefe de Chief", respondeu Tashka, referindo-se Conseil.

terça-feira, 10 de março de 2015

Nota de Esclarecimento sobre acusações do GTA

"Denunciamos e desautorizamos o uso indevido que a Rede GTA tem feito do nome do Conselho Indigenista Missionário na lista de parceiros em seu site institucional"


* Uma nota devida e necessária já que a tal Rede GTA nada faz em defesa dos territórios indígenas, quilombolas e tradicionais. Em pleno debate e esforço contra a PEC 2015 o presidente do GTA, euforicamente ovacionado quando de sua eleição, pelo diretor executivo do Ipam - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia VEJA AQUI, nada disse, ou disseram ambos, sobre os saques a estes territórios perpetrados por ruralistas, políticos e empresas ligadas também à "economia verde". Se estes senhores nada fazem na defesa dos territórios, logo, nada podem dizer ou dirão em contrário. Portanto, quem é mesmo que está contribuindo para a espoliação dos territórios, os que estão na luta diária, sem financiamento de bancos, fundos, governos e empresas ou estes outros que, além de serem financiados por estas fontes, atacam de forma realmente repugnante, entidades como o Conselho Indigenista Missionário - Cimi?

A nota do presidente do GTA (Aqui) é extremamente preconceituosa e merece repúdio por parte dos povos e lideranças indígenas e de todas as trabalhadoras e trabalhadores em marcha na defesa de seus territórios, seus projetos de vida e da vida e do direito da mãe terra. (Lindomar Padilha Editor do Blog)

Eis a nota de esclarecimento do Cimi:


Perante as mentiras, calúnias e preconceitos expressos em nota publicada e assinada pelo presidente da Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), informamos que:
1-     O jornal Porantim é um instrumento de comunicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que está a serviço dos povos indígenas do Brasil desde o ano de 1978, sendo usado permanentemente para dar voz aos povos, às comunidades e lideranças indígenas de todas as regiões do país.
2-     O Jornal “Nortão” não pertence ao Cimi e a entidade não tem qualquer responsabilidade relativamente ao que é publicado no mesmo.
3-  Os povos indígenas têm sido recorrentemente assediados e atacados por distintos grupos econômicos interessados na exploração de seus territórios. Temos dado apoio incondicional aos povos na luta que realizam contra o ataque sistemático e violento de grupos ligados ao ruralismo, às mineradoras, às empreiteiras e aos madeireiros, dentre outros, que pretendem mudar a Constituição a fim de impedir novas demarcações e legalizar a invasão e a exploração das terras indígenas no Brasil. O empenho do presidente da Rede GTA em atacar o Cimi não é percebido quando se trata de apoiar os povos na defesa de seus direitos territoriais.
4-     Recentemente, apoiamos uma delegação de aproximadamente 40 lideranças, representantes de 10 povos indígenas dos estados de Rondônia e Mato Grosso, que estiveram em Brasília entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2015, onde realizaram uma série de ações de incidência política junto a órgãos públicos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em defesa do direito à demarcação de suas terras; por melhoria no atendimento à saúde das comunidades na região; contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00; contra decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou portarias declaratórias de terras tradicionais dos povos indígenas Guarani-Kaiowá e Terena, no estado do Mato Grosso do Sul, e Canela, no Maranhão. A denúncia em veículos de imprensa, inclusive na Rádio Nacional da Amazônia, da ocorrência de invasão e exploração de seus territórios por fazendeiros e madeireiros, bem como a cobrança, junto a órgãos públicos, de ações efetivas de proteção aos territórios e para a suspensão do Projeto Carbono Suruí também fizeram parte das demandas apresentadas pelas lideranças dos 10 povos indígenas.
5-     Uma das denúncias apresentadas pelas lideranças indígenas no período foi que o Projeto Carbono Suruí tem potencializado sobremaneira a divisão e o conflito interno entre os Suruí. Isso porque, segundo as lideranças em questão, o “Projeto” estaria enriquecendo um pequeno grupo de indígenas que, na sua maioria, vivem no meio urbano, fora da terra indígena, além de muitos consultores não indígenas de organizações não governamentais e deixando o povo abandonado. Portanto, diferentemente do que o presidente da Rede GTA sugere, as informações divulgadas pelo Cimi não geraram, mas explicitaram um conflito já instalado e fortalecido pelo Projeto Carbono Suruí.
6-     Defendemos o direito dos povos ao usufruto exclusivo de seus territórios e os apoiamos nas ações que realizam para combater a invasão, a mercantilização e exploração dos mesmos por grupos não indígenas, sejam eles quais forem.
7-     Repudiamos a tentativa, por parte do presidente da Rede GTA, de associar o Cimi a práticas ilegais, como a exploração madeireira em terras indígenas. Trata-se de uma iniciativa repugnante. Os povos indígenas e a sociedade brasileira sabem do empenho do Cimi e de seus agentes nas denúncias realizadas contra a prática da invasão possessória, inclusive a exploração madeireira, como uma das faces mais visíveis da estratégia anti-indígena em curso no país. O jornal Porantimé um dos instrumentos recorrentemente usados neste sentido.
8-     Embora as terras indígenas sejam as áreas melhor protegidas ambientalmente, como apontam pesquisas recentes, a avareza dos madeireiros associada à omissão do governo brasileiro fez com que a exploração madeireira em terras indígenas se expandisse em 2014. Sempre defendemos que essa prática deva ser combatida pelos órgãos responsáveis e que os envolvidos sejam devida e legalmente responsabilizados.
9-     Entendemos que o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal, mais conhecido pela sua sigla Redd, é também um mecanismo de invasão e exploração dos territórios indígenas. Isso porque, como consta no próprio site da Rede GTA “já existem casos documentados de que a busca pelo lucro com os créditos de carbono, que são gerados pelos projetos de Redd +, acabam resultando em conflitos e na expulsão de pessoas de suas terras”. Entendemos e respeitamos a opção política dos povos que estabelecem, por meio de seus mecanismos e relações próprias de poder, contratos dessa natureza. No entanto, como entidade indigenista, consideramos legítima a possibilidade de manifestarmos posição política institucional sobre o tema, bem como, abrirmos espaços em nossos veículos de comunicação a fim de que a questão seja abordada e problematizada e que perspectivas críticas sejam conhecidas e socializadas pelos povos.
10- Consideramos legítimos os diferentes posicionamentos existentes relativamente ao tema entre organizações da sociedade brasileira e é um direito de todos manifestar e defender essas posições sejam elas contrárias ou favoráveis à Economia “Verde” e mecanismos como o Redd. Porém, esconder posições político-ideológicas atrás de acusações fajutas a quem tem entendimento divergente é irresponsabilidade e covardia.
11- É lastimável e vergonhosa a manifestação do presidente da Rede GTA que se refere a “um grupo de indígenas que possivelmente não tem total consciência de suas ações”. Trata-se de uma afirmação preconceituosa que desconhece o fato dos povos e lideranças indígenas serem plenamente capazes. A plena capacidade dos povos indígenas foi devidamente reconhecida pela Constituição Brasileira de 1988.
12- Por último, denunciamos e desautorizamos o uso indevido que a Rede GTA tem feito do nome do Conselho Indigenista Missionário na lista de parceiros em seu site institucional.

Conselho Indigenista Missionário (Cimi), 10 de março de 2015

segunda-feira, 9 de março de 2015

AMYRA EL KHALILI:a população brasileira precisa compreender sobre educação financeira para depois discutir finanças ambientais

“....Para a professora de cursos de extensão e MBAs em diversas universidades, Amyra defende a economia socioambiental, que é construída com o tempo e inclui diferentes atores sociais. “A economia verde está atrelada à agenda política, transitória e depende da agenda de governo”. 

Autora do e-book gratuito Commodities Ambientais em missão de paz - novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe, da editora Nova Consciência, Amyra fala com Setor3 sobre importância de unir finanças com cultura de paz, a atuação da Aliança RECOs, a avaliação do impacto de serviços ambientais e sua avaliação sobre o debate de práticas de economia verde...” (Aliança RECOs)

Amyra fala com Setor3 sobre importância de unir finanças com cultura de paz, a atuação da Aliança RECOs, a avaliação do impacto de serviços ambientais e sua avaliação sobre o debate de práticas de economia verde.  Confira.

Portal Setor3- Como é possível alinhar nos projetos da Aliança a área financeira e a cultura de paz?

Amyra El Khalili- É importante esclarecer que a Aliança RECOs reúne diferentes organizações e movimentos. Não somos uma ONG, mas uma rede de estudos e pesquisas ancorada no tripé informação, educação e comunicação. Compartilhamos conteúdos de diversas fontes e regiões para mídia nacional e internacional.


Nesse caso, é necessário alinhar esses dois temas, pois o setor financeiro é responsável pelo financiamento do mercado de armas e todo aparato gerador de guerras e misérias. Atualmente, há três principais mercados mundiais ilícitos: o de armas, o do narcotráfico, e o da biopirataria. Esse dinheiro passa pelo sistema financeiro. Se os bancos e as corretoras  estivessem dispostos a combater crimes e corrupções, o primeiro aliado para alcançar a paz seria o próprio sistema financeiro, que poderia perfeitamente identificar, rastrear e confiscar as contas com provas criminais mas,  infelizmente, são protegidas pelo sigilo bancário e fiscal. Dessa forma, a Aliança RECOs nasceu em 1996, justamente para combater a corrupção no mercado financeiro, denunciando seus impactos nas questões sociais e ambientais e cobrando a sua responsabilidade socioambiental, quando deveriam financiar projetos alternativos que exigem muito menos recursos. Defendemos projetos socioambientais que contribuem com a segurança pública, combate às drogas, a violência contra a mulher, a redução da criminalidade, que gerem emprego, ocupação e renda, e a preservação e conservação ambiental. 



Portal Setor3 - De que forma vocês dialogam economia, sustentabilidade, meio ambiente, cultura de paz em suas ações?



AEK- Atuamos na construção de um novo modelo econômico e do empoderamento dos movimentos sociais e ambientais com a nossa experiência profissional no mercado de capitais. Antes de idealizar um projeto socioambiental, é necessário disponibilizar a sociedade informações técnico-científicas de fácil compreensão. Então, muitas vezes as comunidades não sabem lidar com captação de recursos. Quando estas ONGs e entidades recebem recursos de uma empresa estatal como a Petrobras, pergunto: será que estão preparadas para mexer com dinheiro? será que sabem prestar contas? como se dá essa relação entre agir e gastar dinheiro? Muitas ONGs e instituições conseguem fazer bons trabalhos justamente por não terem dinheiro, o que move seus associados e membros é a causa. Em muitos casos, quando entra o recurso financeiro ao invés de ajudar, atrapalha. A nossa função é questionar esse modelo para que os atores sociais se informem melhor sobre as alternativas e riscos para tomar decisões. Afinal, recusar dinheiro também é um direito que eles têm, como é o caso dos projetos oriundos mercado de carbono.



Portal Setor3- Quais casos você observa que a informação fez diferença sim para melhorar a qualidade de vida daquela comunidade?



AEK- Não há como indicar uma comunidade específica já que atuamos no Brasil e exterior. Há vários casos que poderiam ser citados, de acordo com a emergência e credibilidade das fontes. Por exemplo: demos visibilidade para as denúncias feitas com projetos do mercado de carbono e pagamentos por serviços ambientais no Acre. Aparecia na mídia e nos relatórios institucionais com uma única visão: a do governo, das ONGs e consultores que estão advogando a favor da economia verde nessa região.  Demos vozes para ativistas, pesquisadores, lideranças indígenas e sindicais do Acre que tem muitas críticas ao mercado de carbono, com o REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), pagamentos por serviços ambientais, Bolsa Verde, entre outros instrumentos.



Para avaliar a qualidade de vida, como é possível assinar um projeto que compromete o uso da terra e coloca em risco essa comunidade ao endividá-los? Ou seja, não é apenas ter recursos e melhorar a qualidade de vida, sobretudo evitar os conflitos, confrontos e violências com abusos contra os direitos humanos e o ambiente, bem como fiscalizar e monitorar a origem e aplicação dessas verbas, sejam públicas, ou privadas. Agimos em duas frentes: primeiro orientar para produção de um projeto econômico financeiro e jurídico com a mudança de paradigma; e a outra é divulgar e publicar os relatórios de dezenas de cidades elaborados pelos meus alunos, formadores de opinião e lideranças que participaram dos cursos e oficinas que ministrei, bem como os relatórios de outras frentes. Tenho certeza que em todos os lugares que aplicamos essa metodologia educacional formando multiplicadores com troca de experiências e debates sobre a cadeia produtiva de bens e serviços,  discutindo problemas e soluções. Alguma coisa naquele local mudou. 



No Acre, a convite do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), disse em uma palestra na Universidade Federal do Acre sobre o mercado de carbono e pagamentos de serviços ambientais. Fiz uma crítica sobre a lei Sisa, que repercutiu em mídia nacional e internacional. Sugiro assistir a palestra: http://goo.gl/9us5JT. E ler os artigos, em português: http://goo.gl/v8rGP7. Também há versão em inglês: http://goo.gl/RmYedz



Apoiamos e divulgamos o Dossiê Acre - Documento Especial para a Cúpula dos Povos - O Acre que os mercadores da natureza escondem. Publicado pelo Cimi, da regional Amazônia Ocidental, o documento foi feito em 2012 e não tinha ainda conseguido o merecido espaço na mídia e nos mais diversos fóruns de debate. A posição do Dossiê Acre era vista com negligência, descaso e criminalização. Na mídia, não abordavam o ponto de vista técnico, operacional e jurídico-socioeconômico que aponta esse estudo e de como essas políticas de cima para baixo interferem no modo de vida das comunidades indígenas, tradicionais e campesinas naquela região. 



Portal Setor3- Em sua avaliação, como a população em geral pode acompanhar esses dados e entender melhor desses serviços ambientais?



AEK- Podem acompanhar os conteúdos assinando nossos boletins pelo e-mail: becerecos-subscribe@yahoogrupos.com.br. Para acessar os boletins: https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/becerecos/info



Sou professora de diferentes cursos de extensão, de pós-graduação e MBAs aplicando metodologia da Aliança RECOs. Os participantes das oficinas e cursos produzem relatórios, que indicam o mapa da região, o perfil da população, características do bioma, identificam as potencialidades alternativas da biodiversidade. Dessa forma, podem apresentar os problemas, como água contaminada e enfrentamento de violência, de drogas, degradação ambiental por exemplo e proporem soluções. É daí que idealizam seus projetos socioambientais e buscam encontrar formas de viabilizá-los.



Atualmente, na Aliança, temos mais de cinco mil distribuidores, multiplicadores e parceiros na produção e disseminação de informação. Como parceiros temos os sites do Jornal Pravda.ru (russo, italiano, português e inglês), com quatro milhões de acessos por mês, o AgoraVox (Francofono - Bruxelas), a revista Diálogos do Sul (português e espanhol) , a Rede Brasileira de Informação Ambiental (Portal do Meio Ambiente), o Jornal O Nortão, a EcoAgência de Notícias, o Portal Biodiversidad en América Latina y El Caribe, e tantos outros, além das redes temáticas que reproduzem e publicam nosso material (REMA, blogs SOS Rios do Brasil, Rede Global da Sociedade Civil e outros), que possuem outra quantidade enorme de acessos e membros. Temos ainda parceria com redes de radialistas, como a Rádio Mundo Real (ONG Amigos da Terra), do Programa Planeta Lilás (Rádio MEC-RJ, da EBC), entre outras. 



Sou membro do conselho editorial e colaboradora da Revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental (FDUA), parceira na publicação dos relatórios e diversos artigos. São essas parcerias e “nós de comunicação”, que formam a “aliança” que fará 20 anos no próximo ano com trabalho voluntário, sem recursos de empresas e de governo. Não somos a mídia. Somos a fonte para a imprensa ter contraponto. Apoiamos a mídia alternativa para que também possa ser financiada, já que nos presta um serviço de utilidade pública da maior relevância.



Portal Setor3 - Como você avalia a situação dos serviços ambientais, como mercado de carbono, REDD e outras práticas, aqui no Brasil? Como ampliar o debate sobre o impacto desses serviços para toda população?



AEK- Participamos do movimento internacional contra a mercantilização e financeirização dos bens comuns, que são contra o modelo econômico financeiro dos pagamentos por serviços ambientais, o mercado de carbono, o REDD, créditos de compensação e títulos ambientais negociados em Bolsas de Valores e de Commodities, já são propostas que foram transformadas em leis em outros países, inclusive aqui no Brasil estão sendo implementadas (Lei Sisa, do Acre). Foi um desastre, conforme denuncia a edição especial do Jornal Porantim e relatórios da Plataforma Dhesca, que podem ser acessados aqui.



Quando uma proposta vira legislação, ela não é mais um debate público, passa a ser uma norma. Para legislar com eficiência, de forma que a lei pegue e seja bom para toda a sociedade, é necessário ter antes um amplo debate público. Em muitos países isso não aconteceu. Sugiro conhecer aqui o REDD Monitor e WRM, respectivamente: http://www.redd-monitor.org/ ewww.wrm.org.uy



Foi por forças de interesses dos governos locais, políticos e forte lobby de corporações transnacionais. Aqui, no Brasil, não está sendo diferente. Apesar de muitas organizações e comunidades serem contra todos esses mecanismos, para que suas vozes sejam ouvidas desde a base da sociedade, ainda falta longa estrada. Também a transversalidade da questão ambiental ainda é muito recente para ser assimilada pelo interesse público e obter a consciência da sociedade como um todo. Como legislar sobre um tema tão complexo e recente como finanças ambientais? Como falar das interfaces multidisciplinar do tema e traduzir essa linguagem para a população?

Portal Setor3- Qual ator está mais avançado nesse debate, de democratizar mais essa informação?


AEK- Nessa discussão de finanças ambientais, não estamos avançando pois há ainda muita confusão conceitual, o que torna-se um perigo nos desenhos dos contratos financeiros e mercantis. A linguagem de finanças é restrita para quem entende e atua no ramo. Há um retrocesso nos instrumentos de financiamento (fomentam) e um avanço nos instrumentos que financeirizam (endividam). Nem o mercado acionário no Brasil é popular, muito menos o mercado de commodities e derivativos, relativamente novo nesse continente, é compreendido. A própria palavra commodities dá confusão. Ela nem é traduzida ao português e espanhol por tratar-se de uma expressão de comércio exterior e de produção em escala industrial, além de ser um jogo financeiro. 



Antes de fazer legislação para finanças ambientais, por que a população não briga para reduzir a taxa de juros do cartão de crédito e limite do cheque especial? Como entra o cartão de crédito na vida de cidadãos que não sabem nem usar o crédito, depois pagam o mínimo e entra no sistema rotativo e necessita pagar taxa de juros de 19% ao mês. E se replicamos esse “modus operandi” no mercado financeiro ambiental, que envolve terra, território, água, é muito complicado. Entendo que a nova economia é viável por meio de projetos pequenos e pontuais. Porém, o interesse dos consultores, de empresas e dos governantes é por grandes projetos, pelo alto recurso envolvido. Portanto, é necessário quebrar a acumulação e distribuir melhor a renda, evitando projetos com infraestruturas inalcançáveis.  É necessário ampliar a quantidade de pessoas beneficiadas com inclusão socioambiental. Não é à toa que tem tanta corrupção pela concentração de muito dinheiro nas mãos de poucos. 



Portal Setor3 - Quais são suas perspectivas no debate de economia verde? Qual segmento está mais avançado e está considerando as necessidades de populações tradicionais? 



AEK- O problema é que a economia verde vem de cima para baixo e de fora para dentro. É um projeto decidido pela ONU, com governantes e corporações conforme denunciamos na COP 19. Interessante ler esse artigo, em português: http://goo.gl/tRiaI7. Também há versão em espanhol: http://goo.gl/sVgPkG



Por esses motivos, construímos coletivamente a economia socioambiental, diferentemente da economia verde. A economia socioambiental passa por um processo de consulta aos povos e é lento. É de baixo para cima e de dentro para fora. Não acompanha a agenda da próxima eleição, de quatro em quatro anos. Todo trabalho de consulta e construção coletiva demora anos, dada as dificuldades de chegar onde poucos conseguem em regiões afastadas e sem acesso à comunicação. Locais onde a população mais necessita de assistência e orientação e com mais impactos sociais e ambientais. A economia socioambiental não pode depender da agenda governamental. Muitas vezes contraria fortes interesses políticos e econômicos. Ela tem que seguir seu caminho natural com adesão dos atores sociais, sem imposição goela abaixo por normas e regras, respeitando-se os direitos constitucionais duramente conquistados. Há quase 20 anos trabalhamos nesse projeto de envergadura geopolítica pela cultura de paz, cujo o resultado se dará a longo prazo. Não buscamos resultados imediatos, mas duradouros e verdadeiramente sustentáveis formando “alianças” inquebrantáveis.

Meus parabéns à Amyra e ao setor 3 (Lindomar Padilha - editor do blog)