Lindomar Dias Padilha[1]
I.
Introdução
A proposta
deste trabalho é inicialmente apresentar ao leitor parte do tema sobre o qual
me propus a discorrer em minha tese de doutorado que versará sobre a relação
entre as conquistas territoriais do povo Apolima-Arara e a importância de suas
manifestações míticas e espirituais neste processo. Para isso entendo, e este é
o centro do atual trabalho, ser necessário narrar um pouco de como se deu o
primeiro contato meu com este povo. Procurarei descrever o principal fato, o
encontro, a partir da canoa e, em seguida, a vida vivida naqueles primeiros
anos onde a escassez era a regra e os conflitos eram intensos, mas a história
se fazia. A partir da visualização da canoa, posteriormente, pudemos visualizar
o povo. Essa passagem da canoa ao povo é muito importante para que possamos
compreender como isso resultou no, digamos, reencontro de um povo com seu
território na busca por direitos. O trabalho está dividido em três momentos que
se entrelaçam na construção do evento como todo. A canoa, que nos permitiu
acessar o povo, quem são os Apolima-Arara e finalmente, a reconquista do
território, sendo esta terceira parte um fechar como considerações. Pelo certo,
dado que farei uma recuperação histórica, devo considerar que segundo BOAS
(1896, p. 37) investigação histórica deve ser o teste crítico demandado pela
ciência antes que ela admita os fatos como evidências, tomarei por base
histórica as próprias pesquisas e conclusões apresentadas no relatório de
identificação e delimitação do território.
Além de
dados históricos, por certo farei uso de minhas próprias observações sempre
considerando o que diz MALINOWSK (1978, p. 22) que um trabalho etnográfico só
terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente de um
lado, os resultados da observação direta e das declarações e interpretações
nativas e, de outro, as inferências do autor. Pelo fato de eu me fazer presente
no processo desde o primeiro contato com o Povo Apolima-Arara, se torna
impossível não recorrer às minhas memórias e outros registros pessoais.
Considero
a escrita deste trabalho um revisitar os anos compreendidos entre 1998 e 2023,
ano em que a terra dos Apolima-Arara foi finalmente homologada, mesmo que por
lá ainda estejam algumas famílias de nawá, não indígena na língua Apolima-Arara.
Porém, farei um recorte temporal menor, de 1999 a 2009 por ser o tempo em que
ocorreram os principais acontecimentos. Tomarei por base os princípios da
observação participativa nos termos de Malinowsk
Os princípios metodológicos podem ser agrupados em três unidades: em
primeiro lugar. é lógico, o pesquisador deve possuir objetivos genuinamente
científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. Em segundo
lugar, deve o pesquisador assegurar boas condições de trabalho, o que
significa, basicamente, viver mesmo catre os nativos, sem depender de outros
brancos. Finalmente, deve ele aplicar certos métodos especiais de coleta,
manipulação e registro da evidência. (MALINOWSK, 1978, p.24).
Na
atualidade, apresentarei apenas entrevistas realizadas com o cacique, via rede
social, quando este se encontrava na cidade. Saliento que, como tratarei de
fatos pretéritos, há uma dificuldade adicional que é aplicar e relacionar
teoria sobre fados dados. Mas, aqui trago uma outra perspectiva: “o lugar da
militância”. O lugar de minha formação militante foi que me possibilitou
realizar tais observações e construir essas narrativas, sobretudo porque a base
teórica só a estou podendo vislumbrar agora. Ao final retornarei a esta ideia.
II A canoa
O ano era 1999. No dia 09 de setembro daquele
ano, iniciamos a histórica viagem e expedição rumo ao Alto Rio Juruá e seus
afluentes, a partir da cidade de Cruzeiro do sul, estado do Acre até a
fronteira com o Peru. Digo que foi histórica porque foi nesta viagem que
encontramos o povo Apolima-Arara. Nossa modesta expedição contava comigo, Rose,
Rosildo que era indígena pertencente ao povo Jaminawa Arara e Sr. Raimundo,
barqueiro e comandante do batelão[2] de
nome ajurí[3] de
posse da equipe do Cimi. Também levávamos uma pequena canoa para ser utilizada
nos igarapés onde o batelão não conseguisse entrar.
A viagem, em seus primeiros dias
principalmente, apresentou inúmeras dificuldade decorrentes sobretudo de nosso
desconhecimento da região e, como arigós[4] que
éramos, não imaginávamos encontrar tais obstáculos. O pior deles, porém, foi a
severa seca do Rio Juruá naquele mês de setembro.
Era 23 de setembro, uma quinta
feira. Após quatorze dias de viagem, nos encontrávamos já próximo à sede do
município de Marechal Thaumaturgo, cerca de oito praias, quando Rose avistou
uma canoa que lhe pareceu diferenciar das que os ribeirinhos normalmente
utilizam e me convidou para também observar a tal canoa. Fiz sinal para que o
comandante parasse o batelão e retornasse para o local onde tínhamos avistado a
canoa, o que ele fez de pronto. Ancoramos o batelão no barranco próximo à canoa
e constatamos que de fato era muito diferente das demais que conhecíamos na
região.
A canoa era construída de um único
tronco tendo suas proa e polpa arredondadas. Medindo cerca de cinco metros de
cumprimento e a parte mais larga cerca de 80 centímetros, com madeira
claramente cavada como que escupida. No interior da canoa três pequenos paus
roliços serviam de banco. Um design inconfundível e uma verdadeira obra de
engenharia aeronáutica. Na proa da canoa um cipó cujo nome não me fora dito,
voltava-se para o alto do barrando até uma pequena árvore onde se encontrava cuidadosamente
amarrado, uma âncora em direção oposta à água. Em relação a madeira utilizada e
o processo de confecção daquele modelo de canoa o cacique Francisco me informou
por meio de entrevista, via mensagens de áudio em rede social, que:
Outra coisa, seu Lindomar, referente a madeira que o senhor perguntou que
a gente faz de um pau só é utilizado, às vezes, o Cumarú. Principalmente o
Cumarú que é um pau melhor de abrir no fogo e a Guariúba. Esses dois são os pau
melhor que tem para trabalhar aquele tipo de canoa. A gente abre no fogo.
Primeiramente a gente cava, né? E aí quando tá cavada a gente abre ela no fogo.
Tem dois tipos de fazer ela. Já diretamente cavada, sem ser preciso abrir no
fogo e também ela já feita para abrir no fogo. Ela fica mais moldeada, né? Boleada.
Mas a madeira mais utilizada mesmo é o Cumarú e a Guariúba. (SIQUEIRA, entrevista
concedida em 26/07/24).
Embora eu já soubesse o nome da
madeira usada na fabricação daquele modelo de canoa, e o leitor saberá como eu
soube do nome mais ao final, optei por consultar o cacique para maior
legitimidade e atualização deste tipo de informação. Nesta entrevista, o
cacique Francisco, também conhecido como Chiquinho Arara, explica o tipo de
madeira utilizada para a construção daquele modelo de canoa e ainda explica,
mesmo que de forma rápida, o processo de confecção da canoa. A entrevista
indica ainda que eles continuam fazendo este tipo de canoa, digamos,
tradicional e de forma artesanal. Ao final apresentarei uma foto que fiz de uma
dessas canoas em 2023.
Decidimos
subir o barranco, eu e Rose porque os demais permaneceram no batelão, para ver
se encontrávamos o dono da canoa. O barranco estava muito alto porque o nível
das águas do rio estava muito baixo em razão da seca já mencionada. Assim que
subimos o barranco, nos deparamos com uma pequenina casa de madeira e coberta
com palhas, elevada cerca de 1,30 metros do chão, típicas da região. Avistamos
um senhor com traços marcadamente indígenas aparentando ter seus 70 anos, mais
ou menos, de bermuda e sem camisa que ao nos ver apenas se acocorou em uma
espécie de trapiche que avia logo na frente da casa, como se fosse uma pequena
varanda sem cobertura. Atrás dele havia uma menina moça aparentando uns 15 anos
de idade, que ao nos ver tratou de fugir pelos fundos da casa e esconder-se na
mata.
Depois de
longos segundos de silêncio total, resolvemos iniciar uma conversa. Iniciamos
por nos apresentar. Dissemos quem éramos, para quem trabalhávamos e qual era o
nosso interesse naquela região pouco visitada. Diante da dificuldade de
estabelecermos um diálogo, perguntei se aquela canoa no rio era dele e aí sim,
ele respondeu que sim. Então, indagamos a razão de ser uma canoa tão diferente
das demais? Neste momento aparece uma terceira pessoa, também um senhor
aparentando ter 70 anos mais ou menos. Este, porém, estava de bermudas, com
camisa e ainda um boné de cor acinzentada. Somente com a chegada deste segundo
senhor é que a conversa pode fluir melhor, tanto que depois de alguns minutos a
menina foi chamada a retornar à casa.
O primeiro
senhor finalmente se apresentou e em seguida tratou de apresentar os demais.
Ele era Thaumaturgo de Azevedo, a moça chamava-se Celiene e era neta de seu
Thaumaturgo. O outro senhor era chamado por Zé do Basílio. Seu Thaumaturgo
falava misturando o português com espanhol e outra língua que não era possível
identificar, mas foi possível a compreensão. Inicialmente seu Thaumaturgo, com
muita desconfiança de nós, procurou desqualificar nosso trabalho associando-nos
à Fundação Nacional do Índio – Funai, que hoje se chama Fundação Nacional dos
Povos Indígenas. Ao ler Gluckman pude entender melhor o sentimento do senhor
Thaumaturgo.
Contudo, como Fortes já salientou, "os agentes de contato" são
"em larga escala, personalidades socialmente estereotipadas, tanto do
ponto de vista dos nativos quanto do ponto de vista dos órgãos da civilização
europeia, para quem funcionam como instrumentos". (GLUCKMAN, 2010, p.
332).
Os “agentes
de contato”, lá como neste caso com os primeiros Apolima-Arara, fomos tratados
como representantes do governo e isso criava uma barreira enorme entre nós.
Todavia, com o tempo e com algumas intervenções do Sr. Zé do Basílio, seu
Thaumaturgo foi se acalmando e pude finalmente perguntar a ele se eu podia
tomar nota de algumas coisas sobre sua história e o porquê de estarem ali, ao
que hesitante, disse sim, mas não via em nós possibilidade de ajudá-los. Então
começamos a fazer anotações em nossos diários de campo lembrando aqui do que
dizia Malinowsk:
devemos não só anotar os acontecimentos e detalhes ditados pela tradição
como pertencentes à própria essência do ato, mas também registrar as atitudes
de atores e espectadores, umas após as outras. (MALINOWSK, 1978, p. 35).
Quase
lacrimejando, seu Thaumaturgo passou a contar a sua história, a história de dor
e desterritorialização de seu povo. Quando terminei de anotar o seu relato
perguntei se poderia levar aquelas informações às autoridades e ele disse sim,
recobrando o semblante com uma leve expressão de esperança. Tanto que pedi para
tirar uma foto deles e ele permitiu, não sem antes trocar umas poucas palavras
com o Zé do Basílio e passar as mãos pelo rosto por umas duas vezes. Aquela
atitude me fez pensar que ele ainda estava sob sentimentos ambíguos ou dúvidas.
Então fiz a foto! Estávamos diante não apenas de três pessoas, mas de um povo
que se revelava a nós, ao estado do Acre e ao Brasil. Sublime alegria a minha!
E tudo por causa de uma canoa!
II.
Os Apolima-Arara
Em minha
dissertação de mestrado PADILHA (2021, p. 69) destaco que as primeiras
referências conhecidas aos Arara (Xawanáwa) do alto Juruá foram feitas no
início do século XX, e que segundo PEREIRA NETO (2004, p. 26), é possível que
naquele tempo mais de um grupo fosse chamado do mesmo modo ou de forma
semelhante, localizando-se alguns deles, inclusive, na região do rio Tarauacá.
Importa explicar aqui que o Rio Tarauacá, embora não seja afluente do Rio
Juruá, àquela época era considerado um rio pertencente à administração do Alto
Juruá.
um relatório da Prefeitura do Alto Juruá mencionava a existência de
numerosas malocas indígenas naquele departamento citando na bacia dos rios
Tarauacá e Envira as tribos dos aninauás, ararapinas, ararauás, canamaris,
capanáuas, caiuquinas, caxinauás, contanauás, curinas, curinas espinhos e bocas
pretas, aninauás, marinauás e tuxinauás. (MENDONÇA, 1998, p. 194).
Talvez
seja justamente por isso que no povo Apolima-Arara há uma predominância dos
ditos “Arara” pois, na verdade há uma miscigenação muito grande entre outros
povos, especificamente, segundo COUTINHO (2003, p. 1) os Amawáka, Koníbo, Santa
Rosa, Kampa e Kaxinawá. Esta miscigenação se deveu por algumas razões, mas
especialmente pelo recrutamento forçado de indígenas para trabalharem no corte
da seringa nos seringais por meio de ataques conhecidos como correrias[5] em
toda a região.
Tentativas
de retornarem ao território de origem foram feitas, mas a Funai, quando fez a
demarcação do território para os Ashaninka do Rio Amônia, território contiguo
ao hoje território dos Apolima-Arara, não procurou demarcar também a terra dos
Apolima-Arara o que resultou em uma nova dispersão do povo que, mais uma vez
foi expulso de seu território. Essa foi a segunda explicação mais dolorida que
ouvi de própria boca de seu Thaumaturgo
Aparentemente,
a FUNAI não se deu conta do que tinha ocorrido no rio Amônia até o ano de 1999.
Nessa época, a equipe do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de Cruzeiro do
Sul, nas pessoas de Lindomar Dias Padilha e Rosenilda Nunes Padilha, dirigiu ao
chefe do Posto Indígena da FUNAI naquela cidade, Hudson
de Melo Barros, um expediente datado de 18.11.1999 afirmando, entre outros
assuntos, que durante uma viagem pelo alto Juruá nos dias 13 e 14 daquele mês
haviam constatado a presença de um agrupamento indígena que denominaram
'Apolima'. (PEREIRA NETO, 2003, p. 56).
Aquele
primeiro encontro com seu Thaumaturgo, Celiene e Zé do Basílio e a visita aos
demais membros do povo que ficaram espalhados ao longo do Rio Amônia, afluente
da margem esquerda do Rio Juruá, resultou em um relatório com fotos e textos
apresentados à Funai que se comprometeu conosco a criar um grupo de trabalho
para proceder à identificação do povo. Aqui cabe lembrar GEERTZ (2008, p. 14)
quando diz que o etnógrafo "inscreve" o discurso social: ele o anota.
Ao fazê-lo, ele o transforma de acontecimento passado, que existe apenas em seu
próprio momento de ocorrência, em um relato, que existe em sua inscrição e que
pode ser consultado novamente. A data apresentada pelo funcionário da Funai, à
época chamado de “chefe de posto” em função do cargo, Sr. Hudson de Melo Barros,
é bastante incerta.
A partir
daquele primeiro encontro e após visitar os demais indígenas do povo espalhados
pela região, nos programamos para realizar viagens mais frequentes e com maior
permanência entre eles. Em menos de um ano decidiram retornar ao território de
origem e passaram a viver em conjunto em uma só aldeia a qual denominaram Novo
Destino. Inclusive seu Thaumaturgo que inicialmente estava descrente, voltou e
foi morar na nova aldeia. Com o retorno ao território e a formação da aldeia,
passamos a permanecer por dias e até meses morando com o povo para aprender
melhor a história e a forma de viverem sua cultura. Além do aprendizado de
minha parte, a convivência com eles também os ajudava a acreditar e lutar pela
reconquista do território que se encontrava totalmente invadido.
III. Considerações:
A partir
da reconstituição da aldeia, além da esperança, aumentaram os conflitos e,
portanto, aumentou muito a necessidade de me fazer presente por mais vezes e
permanecer por mais tempo em cada uma dessas idas à aldeia. Aumento também a
confiança deles em mim. Os cinco primeiros anos, enquanto me dedicava a
escrever a história deles, fui também me apropriando de seu jeito de ser, de
pensar de sonhar e pude, nesse processo, participar de diversos rituais. Não
consegui refletir muito sobre os rituais porque a demanda para produzir
documentos para encaminhar às autoridades e ainda o cuidado com a própria vida
me consumia bastante.
Para
produzir documentos confiáveis tínhamos, eu e os meus narradores, que centrar
muito na condução histórica do processo e na formalidade. Não é fácil fazer
registros sob forte pressão. Interessante que ao ler Malinowsk pude perceber
com maior clareza aquilo que eu vivia e sentia quase que como uma intuição.
Mas, ali também estava presente as informações adquiridas a partir da
militância, o meu lugar. Me refiro mais especificamente à angústia de ter que
fazer história, escrever no campo das leis, do direito e ainda fazer registros
etnográficos.
Nas ciências históricas, como já foi dito, ninguém pode ser visto com
seriedade se fizer mistério de suas fontes e falar do passado como se o
conhecesse por adivinhação. Na etnografia, o autor é, ao mesmo tempo, o seu próprio
cronista e historiador; suas fontes de informação são, indubitavelmente,
bastante acessíveis, mas também extremamente enganosas e complexas, não estão
incorporadas a documentos materiais fixos, mas sim ao comportamento e memória
de seres humanos. (MALINOWSK, 1978, p. 23)
Fazer essa referência a Malinowsk
não significa necessariamente confirmar e simplesmente reafirmar o método, mas
é unicamente colocar-me diante da experiência. Certa feita, quando eu estava na
mata acompanhando um grupo de homens que ao mesmo tempo que caçavam
fiscalizavam o território. Pela hora do almoço nos reunimos todos no
acampamento. Enquanto comíamos uma carne de veado que que Assis havia matado, o
próprio Assis começou a falar sobre uma árvore que ele havia visto ali pelas
redondezas. Ele descreveu a árvore com tanta precisão e interesse que eu tive
que perguntar o porquê aquela árvore era tão importante para ele? Ele respondeu
com uma espécie de devoção à árvore: “aquela árvore é Cumarú. O Cumarú anda na
terra e na água, por isso ele é muito importante para nós”. Eu não entendi e
resolvi acrescentar mais uma pergunta: como ele anda na água? Como isso é
possível? “seu Lindomar, é com o Cumarú que fazemos nossas canoas”.
A única coisa que historiadores e etnógrafos conseguem fazer, e a única
coisa que se pode pedir que façam, é expandir uma experiência particular para
as dimensões de uma experiência geral ou mais geral, de modo que ela se torne,
por essa razão, acessível enquanto experiência a homens de outras terras ou
outro tempo. (GEERTZ,2008, P. 32).
Com essa
fala de Geertz quero retornar ao ponto onde iniciei para reforçar minha
convicção pessoal de que o grande encontro que tive com os Apolima-Arara foi na
verdade conduzido inteiramente pelo “espírito do Cumarú”, a canoa!
Referências
Boas, Franz, 1858-1942. Antropologia
cultural / Franz Boas; textos selecionados, apresentação e tradução, Celso
Castro. - 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005
COUTINHO, Walter JR. Relatório de Identificação
e Delimitação da Terra Indígena Arara do Rio Amônia, Fundação Nacional do
Índio – FUNAI, Brasília 2003.
GEERTZ,
Clifford, A interpretação das culturas (1926) 1ª Ed. LTC, Rio de Janeiro, 2008.
GLUCKMAN, Max. Análise de uma situação
social na Zululândia moderna. In: FELDMAN-BIANCO, Bela (org.). Antropologia das
sociedades contemporâneas. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2010. p. 237-265.
MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico
Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos
da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os
Pensadores).
MENDONÇA, Belarmino. Reconhecimento do Rio Juruá
(1905). Ed. Italiana e Fundação Cultural do Estado do Acre, coleção Reconquista
do Brasil, vol. 152, Acre, 1989.
PADILHA, Lindomar Dias. Dissertação de mestrado. Direitos
humanos e povos originários na Amazônia Ocidental: Demarcação dos territórios
como fundamento para um modelo baseado no Bem Viver – O caso
Apolima-Arara. UCP,2020
PEREIRA NETO, Antônio “Relatório de conclusão da
delimitação da terra indígena Arara do rio Amônia, município e Marechal
Thaumaturgo-AC, em cumprimento à I.E. no 165/DAF de 04/12/03”. Brasília:
FUNAI, 19 de janeiro, 2004.
SIQUEIRA, Francisco. Cacique do
povo Apolima-Arara: entrevista concedida a Lindomar Padilha em 26 de julho de
2024.
[1]
Doutorando em Antropologia pela Universidade Federal de Pelotas (PPGANT/UFPEL),
mestre em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Pós-graduado
em Desenvolvimento Social no Campo: Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades
Tradicionais pela Universidade de Brasília (UnB), Filósofo indigenista.
[2]
Nome dado na região embarcações de médio e grande porte, mas que têm o fundo
chato e pequeno calado para facilitar a navegação em águas mais rasas, como era
o caso no Alto Juruá.
[3]
Significa “eu vim ajudar ou simplesmente mutirão. Palavra muito utilizada na
Região Amazônica para designar a forma de produção das comunidades.
[4]
No acre “arigó” inicialmente se referia aos nordestinos que vinham trabalhar no
corte da borracha e, por não conhecerem a região, tinham dificuldade para
locomoção entre as estradas de seringa.
[5]
As correrias eram perseguições armadas aos povos indígenas que acompanharam a
abertura e a instalação dos seringais no Acre, no final do século XIX e início do
século XX. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kuntanawa#:~:text=%5BAs%20correrias%20eram%20persegui%C3%A7%C3%B5es%20armadas,e%20in%C3%ADcio%20do%20s%C3%A9culo%20XX%5D.
Acessado em: 27/07/24.