Chico Mendes no empate contra as falsas soluções do capitalismo verde
Daqui de Xapuri, afirmamos
ao mundo que Chico Mendes não morreu: foi assassinado. Esse foi o preço que ele
pagou por dedicar sua vida à causa da reforma agrária e da proteção da floresta,
já que os dominantes nunca aceitaram que os povos da floresta tivessem direito
à terra, ao pão e ao sonho. Acharam que assassinando-o, enterrariam sua luta.
Mas, já era tarde. Chico havia se transformado numa força que ultrapassou sua
existência física.
Desde seu assassinato, sua
memória cresceu em importância. Conscientes disso e com medo de seu poder
libertário, os de cima se lançaram na tarefa de se apropriar dela através de um
contínuo e sistemático processo de distorção.
Isso foi o que os governos
da Frente Popular do Acre (FPA) fizeram ao longo dos últimos 20 anos: servindo
aos interesses do capital internacional, impuseram, usando e abusando da imagem
de Chico Mendes, um conjunto de políticas cujo resultado foi o aumento da
privatização e da destruição da floresta.
Indo da exploração florestal
madeireira, de gás e petróleo no Vale do Juruá, e da mineração, passando pela
pecuária extensiva de corte e abrindo as portas para os projetos de Redução de
Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD e outras formas de Pagamentos
para Serviços Ambientais – PSA, essas políticas representam, em tudo, a mais
absoluta negação daquilo que o líder seringueiro defendeu, pois privatizam as
florestas, violam os direitos dos povos da floresta e os tratam como criminosos.
Em todo esse processo desfiguram
e, num certo sentido, assassinam Chico Mendes, uma e outras vezes mais, fazendo
dele um defensor do mesmo capitalismo que o assassinou, ou seja, fazendo dele o
contrário do que ele foi.
Lamentavelmente, o que vemos
hoje no Acre é a tentativa de transformar em mercadoria terras e territórios
que são sagrados para os povos originários e que, além disso, são a base de subsistência
de todos os habitantes da floresta.
Por isso é que, nos últimos
anos, vimos crescer em nosso meio a criminalização tanto de práticas ancestrais
das comunidades locais, como de toda forma de resistência à apropriação
capitalista da natureza.
Fiéis ao legado de lutas de
Chico Mendes, denunciamos esses projetos assassinos e aqueles que os defendem. Com
base em nossas dolorosas experiências, afirmamos ao mundo que propostas como
“desenvolvimento sustentável” e “economia verde” não passam de farsa e
tragédia.
São farsa porque não
protegem a natureza como dizem. São uma tragédia porque fazem exatamente o
contrário disso. E nós sabemos a razão: não há saída no capitalismo, seja em qualquer
uma de suas formas, ou com qualquer uma de suas cores. Não pode cuidar da vida
um sistema assassino.
Denunciamos essa farsa e exigimos
a suspensão imediata de todos os projetos de exploração florestal madeireira e
de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas derivadas das falsas
soluções do capitalismo verde, a demarcação de todas as terras dos povos
indígenas, e uma reforma agrária com soberania popular.
Pela Amazônia, pela reforma
agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o capitalismo verde e de
todas as outras cores, seja conduzido por governos ditos de esquerda ou por
governos assumidamente fascistas!
Chico Mendes vive. A luta
segue.
Xapuri, 16 de
dezembro de 2018
Declaração em Espanhol
Declaração em Inglês
Declaração em Espanhol
Declaração em Inglês
Se você desejar, pode assinar a declaração até 31 de dezembro em: