Por: Lindomar Dias Padilha
Dilma e Katia - Imagem de internet |
Quem me conhece sabe que sempre fui um democrata, entendendo que um democrata não é apenas uma pessoa que apoia determinado modelo de organização política, mas sobretudo alguém que se comporta como um democrata, livre. Que aceita uma sociedade democrática. Que aceita a diversidade de opiniões e comportamentos, ainda que contrários aos seus. E que aceita essa diversidade de modo natural, com boa vontade, sem ilusões e sabendo que mesmo as aberrações de uma sociedade livre são preferíveis aos desmandos da falta de liberdade. Por isso mesmo, sempre fui capaz de me abrir ao debate e às polêmicas sem jamais perder a ternura, mas firme nas convicções e propósitos.
Entretanto, nestes últimos tempos, a postura maniqueísta e, por isso mesmo anti-democrática, tem batido à minha porta com muita insistência na forma de agressões e acusações contra minha pessoa e os princípios aos quais estou ligado por caráter, situação ou por escolha. Estranha-me muito que alguém julgando defender a democracia haja com tanta fúria justamente contra um democrata, contra pilares da própria democracia que é o debate sensato e, lamentavelmente eu não sou o único a ser agredido mas, há milhões de brasileiras e brasileiros nestas condições. Quero dizer portanto, que o que está em curso com a ascensão do maniqueísmo entre nós, os santos e deuses, versus eles, os pecadores e demônios, nada tem com a democracia. Ao contrário, este maniqueísmo é uma afronta à democracia e a fere de morte. Mesmo com essas considerações, sigo propondo o debate e, por isso me dispus a escrever estas linhas sobre o que penso (se isso interessar) sobre o momento crítico em que estamos atravessando por uma tormenta em mares nunca antes navegados sob essas condições.
Por primeiro preciso esclarecer que não escrevo sobre o passado e por ele mesmo. Escrevo sim para um futuro que sei que virá, pois, o amanhecer nos encontrará felizes depois da atormentada noite e ai estaremos nós dançando e festejando a nossa liberdade. A história é um retrovisor que precisamos, de tempo em tempo, olhar mas o furo é o pára-brisas e é por ele que veremos o amanhecer. No momento o nosso retrovisor está menos turvo que o pára-brisas e, aliás, o que nos atinge não é o que podemos chamar de brisa, por isso o futuro também está bastante turvo. Neste momento precisamos ver o que não se vê. Pensar em possibilidades, em vias alternativas e não ficar insistindo ainda mais no mesmo. Essa insistência é sinal de falta de abertura ao novo, é o velho se impondo. É o pessoal sobre o coletivo. É a anti-liberdade, porque sentencia o futuro exclusivamente com os pecados e erros (argumentos) do passado sem lhe dar qualquer chance de defesa. O futuro tem o direito de se defender e nós a obrigação de defendê-lo. Mais: temos a obrigação de construí-lo.
Chamo a atenção para a necessidade de uma reflexão sobre nossas ações, considerando não apenas nossos interesses singulares e pessoais, mas suas implicações e relações com o outro, com a sociedade e seus impactos no ambiente, na vida mesma e de todos. Isso significa nos vermos novamente seres humanos em sua totalidade, integrados em suas múltiplas dimensões, não só politico-ideológicas, pertencentes a uma sociedade e uma natureza, e construindo formas de vida que integrem essa totalidade de modo harmônico, afinando suas necessidades e possibilidades particulares, às necessidades e possibilidades da coletividade, notadamente no amparo aos empobrecidos e mais vulneráveis. A isso chamo de democracia ativa e concreta, que vai além do discurso fácil do "eu contra eles e todos contra nós". Só espíritos desarmados se abrem ao outro e se doam na construção deste futuro que, sei e reafirmo, virá e nos encontrará felizes porque com nossos deveres cumpridos, ainda que muitos não creiam e muito menos trabalhem para isso.
Venho de uma militância junto às Comunidades Eclesiais de Base onde aprendi que não há salvação individual e devemos sempre nos atentar para que o pecado do sistema não nos tome pela mão e nos conduza por caminhos indignos aos seres humanos. O poder por ele mesmo é sempre mesquinho e contra a vida dos demais, assim como toda sorte de acumulação, nos leva a defesa das mais variadas formas de latifúndios, frutos da ganância. Quando ganância e poder se juntam, então temos uma obra que, na linguagem que aprendi nas comunidades, nada mais é que manifestação do reino do mal, do ódio, e isso não é democracia, é poder pelo poder e neste ponto se igualam os de cá com os de lá, usando a linguagem maniqueísta que tem sido preferida por aqueles que se supõem estarem debatendo democracia e como se democratas fossem.
Milito desde o limiar da década de 80 tendo minha primeira relação político-partidária em 1982 com o recém criado PDT do saudoso trabalhista Leonel de Moura Brizola. Agremiação partidária que marcou profundamente minhas convicções e escolhas, só não tão decisivas quanto o foram as CEBs. Nesta mesma década militei junto ao MAR - Movimento Anarquista Revolucionário, participando inclusive de ocupações de casas e apoiando ocupações de terras no Estado do Rio de Janeiro, chegando a morar com meus pais em uma dessas ocupações conhecida como Vila Bakunin, em homenagem ao pensador anarquista Russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin. Uma pequena narrativa sobre este tempo pode ser lido AQUI em um texto escrito por Yasmin, que à época tinha 13 anos. Não me lembro da Yasmin mas pelo que ela escreve, compreendeu muito bem a importância daquele momento. Não relembro isso por saudosismo, senão para esclarecer de onde falo, qual a base de meu discurso.
A partir do engajamento no MAR, participei de diversos congressos e eventos estaduais da CUT - Central Única dos Trabalhadores, membro de uma corrente denominada PT/PT, de onde fomos expulsos, eu e mais alguns poucos, ainda em 1987 durante o IV Congresso Estadual da CUT/RJ, ocorrido entre os dias 28 a 30 de agosto daquele ano no Fundão, justamente por acreditarmos mais na liberdade democrática que nas estruturas de poder. Em 2017 completarei 30 anos de opção por militância fora de agremiações político-partidárias, salvo um curtíssimo período de apenas uma semana, em que estive nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, PC do B, em 2003.
A luta contra toda forma de autoritarismo marcou e marca minha opção política fundamental e minha relação com os demais na construção de um mundo bom para todos e todas e não pode haver mundo bom que não baseado na justiça e na liberdade. É por essa marca fundamental que compreendo os ataques e as violências dos discursos, sem no entanto, concordar com eles.
Há mais de 20 anos venho tentando contribuir na defesa da vida dos povos indígenas e meu grito maior tem sido o de demarcação das terras indígenas já! mas também vou às ruas por reforma agrária, por reforma política, por reformas na educação, por reforma tributária, por reforma urbana, contra a exploração de petróleo e gás natural na Amazonia, principalmente utilizando a tecnica do fraturamento (fracking) e o uso indiscriminado de combustíveis fósseis, contra a financeirização da natureza e todos os projetos que atentam contra a vida e pelo respeito entre as pessoas e em favor da tolerância ativa. No entanto, engana-se quem pensa que faço isso apenas pelos outros. Faço antes por mim mesmo, porque também eu dependo de tudo isso para me realizar enquanto ser humano integral e integrado à natureza, como parte indissociável dela. Minha postura tem sido democrática e não covarde ou conciliadora entre inconciliáveis. Temos que ser duros na defesa dos direitos especialmente dos menos favorecidos, sem arredar pé. Isso não significa defender governos ou partidos mas defender causas.
Dito isso e respondendo a uma pergunta cinicamente a mim formulada (mais parecendo uma acusação) se sou defensor do impedimento da Srª presidente Dilma, afirmo negativamente. Ou seja, não sou nem nunca fui favorável ao impedimento porque sei distinguir entre crimes políticos e crimes administrativos, ou de responsabilidade. Claro está que aqui se trata antes do primeiro caso que do segundo, sem no entanto afirmar que não tenha havido os dois tipos de crimes. Digo apenas que o impedimento deve ser analisado por crimes à administração. Se estes crimes dos quais ela tem sido acusada restarem provados, com a palavra o Congresso Nacional. Porém, os crimes contra a democracia aconteceram e é contra estes que me levanto democraticamente.
Penso que a saída mais correta e sensata seria a cassação pelo TSE da chapa que elegeu Michel Temer e Dilma e convocar novas eleições. No meu entendimento fomos todos e todas enganados e isso se caracteriza como fraude eleitoral. A fraude eleitoral é o ataque mais covarde à democracia, porque a ataca naquilo que lhe é mais representativo em nosso modelo que é o sufrágio universal. Desta forma soa como falsa, e de fato o é, a afirmação de que Michel Temer e Dilma foram eleitos democraticamente. Não foram eleitos democraticamente mas, ao contrário, foram eleitos negando um princípio basilar da democracia que é a verdade e a transparência nos propósitos. Mentiram e ocultaram intenções induzindo propositadamente o eleitor ao erro. Note que isso nada tem a ver com qualquer partido político mas com democracia e respeito ao voto e à vontade soberana do povo expressa neste mesmo voto. Para mim a cassação da chapa e a convocação de novas eleições recolocaria o debate sobre que democracia estamos construindo.
Em junho de 2013 o povo foi às ruas sem nenhuma agremiação partidária convocando, algo lindo de se ver! Atordoados com a democracia e liberdade ali manifestas, os que estavam no poder determinaram aos aparelhos repressores e repressivos que entrassem em ação e literalmente tivemos um massacre de sonhos juvenis de uma sociedade verdadeiramente justa. Cada uma daquelas bombas e balas, me feriam como que de morte porque de morte feriam a democracia e os sonhos de uma pátria livre. Em pouco tempo a juventude foi criminalizada por sonhar e os políticos, como hienas, se juntaram às mídias latifundiárias para degustarem e tripudiarem sobre seus restos e carnes sangradas e feridas. Nada, rigorosamente nada do que os jovens propuseram foi acolhido. Ali percebi com clareza a marcha da insensatez. Do poder pelo poder e do vale tudo para permanecer no poder ou para tomá-lo.
Não, ninguém vai me convencer de ficar do lado de quem está no poder e, faz de tudo para lá permanecer, tão pouco de ficar do lado de quem o quer a qualquer custo. Fico do lado do povo, a quem pertence verdadeiramente o poder: "não terias poder se não lhe fosse dado" (Jesus Cristo).
Quem se mistura a porcos, farelo come, como diz um ditado português. Pois bem, quem se junta a traidores da democracia, se retroalimenta de golpes e traições. Os golpes e traições só estão entre vocês mesmos que querem nos acusar e obrigar a que estejamos de um lado ou de outro. O povo não traiu ninguém e tem sido o único verdadeiramente traído e enganado ora pelos porcos, ora por aqueles que a eles se misturaram. Os iguais que se resolvam!
Link para texto de Yasmin:
https://www.nodo50.org/insurgentes/textos/autonomia/14vilabakunin.htm
Milito desde o limiar da década de 80 tendo minha primeira relação político-partidária em 1982 com o recém criado PDT do saudoso trabalhista Leonel de Moura Brizola. Agremiação partidária que marcou profundamente minhas convicções e escolhas, só não tão decisivas quanto o foram as CEBs. Nesta mesma década militei junto ao MAR - Movimento Anarquista Revolucionário, participando inclusive de ocupações de casas e apoiando ocupações de terras no Estado do Rio de Janeiro, chegando a morar com meus pais em uma dessas ocupações conhecida como Vila Bakunin, em homenagem ao pensador anarquista Russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin. Uma pequena narrativa sobre este tempo pode ser lido AQUI em um texto escrito por Yasmin, que à época tinha 13 anos. Não me lembro da Yasmin mas pelo que ela escreve, compreendeu muito bem a importância daquele momento. Não relembro isso por saudosismo, senão para esclarecer de onde falo, qual a base de meu discurso.
A partir do engajamento no MAR, participei de diversos congressos e eventos estaduais da CUT - Central Única dos Trabalhadores, membro de uma corrente denominada PT/PT, de onde fomos expulsos, eu e mais alguns poucos, ainda em 1987 durante o IV Congresso Estadual da CUT/RJ, ocorrido entre os dias 28 a 30 de agosto daquele ano no Fundão, justamente por acreditarmos mais na liberdade democrática que nas estruturas de poder. Em 2017 completarei 30 anos de opção por militância fora de agremiações político-partidárias, salvo um curtíssimo período de apenas uma semana, em que estive nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, PC do B, em 2003.
A luta contra toda forma de autoritarismo marcou e marca minha opção política fundamental e minha relação com os demais na construção de um mundo bom para todos e todas e não pode haver mundo bom que não baseado na justiça e na liberdade. É por essa marca fundamental que compreendo os ataques e as violências dos discursos, sem no entanto, concordar com eles.
Há mais de 20 anos venho tentando contribuir na defesa da vida dos povos indígenas e meu grito maior tem sido o de demarcação das terras indígenas já! mas também vou às ruas por reforma agrária, por reforma política, por reformas na educação, por reforma tributária, por reforma urbana, contra a exploração de petróleo e gás natural na Amazonia, principalmente utilizando a tecnica do fraturamento (fracking) e o uso indiscriminado de combustíveis fósseis, contra a financeirização da natureza e todos os projetos que atentam contra a vida e pelo respeito entre as pessoas e em favor da tolerância ativa. No entanto, engana-se quem pensa que faço isso apenas pelos outros. Faço antes por mim mesmo, porque também eu dependo de tudo isso para me realizar enquanto ser humano integral e integrado à natureza, como parte indissociável dela. Minha postura tem sido democrática e não covarde ou conciliadora entre inconciliáveis. Temos que ser duros na defesa dos direitos especialmente dos menos favorecidos, sem arredar pé. Isso não significa defender governos ou partidos mas defender causas.
Dito isso e respondendo a uma pergunta cinicamente a mim formulada (mais parecendo uma acusação) se sou defensor do impedimento da Srª presidente Dilma, afirmo negativamente. Ou seja, não sou nem nunca fui favorável ao impedimento porque sei distinguir entre crimes políticos e crimes administrativos, ou de responsabilidade. Claro está que aqui se trata antes do primeiro caso que do segundo, sem no entanto afirmar que não tenha havido os dois tipos de crimes. Digo apenas que o impedimento deve ser analisado por crimes à administração. Se estes crimes dos quais ela tem sido acusada restarem provados, com a palavra o Congresso Nacional. Porém, os crimes contra a democracia aconteceram e é contra estes que me levanto democraticamente.
Penso que a saída mais correta e sensata seria a cassação pelo TSE da chapa que elegeu Michel Temer e Dilma e convocar novas eleições. No meu entendimento fomos todos e todas enganados e isso se caracteriza como fraude eleitoral. A fraude eleitoral é o ataque mais covarde à democracia, porque a ataca naquilo que lhe é mais representativo em nosso modelo que é o sufrágio universal. Desta forma soa como falsa, e de fato o é, a afirmação de que Michel Temer e Dilma foram eleitos democraticamente. Não foram eleitos democraticamente mas, ao contrário, foram eleitos negando um princípio basilar da democracia que é a verdade e a transparência nos propósitos. Mentiram e ocultaram intenções induzindo propositadamente o eleitor ao erro. Note que isso nada tem a ver com qualquer partido político mas com democracia e respeito ao voto e à vontade soberana do povo expressa neste mesmo voto. Para mim a cassação da chapa e a convocação de novas eleições recolocaria o debate sobre que democracia estamos construindo.
Em junho de 2013 o povo foi às ruas sem nenhuma agremiação partidária convocando, algo lindo de se ver! Atordoados com a democracia e liberdade ali manifestas, os que estavam no poder determinaram aos aparelhos repressores e repressivos que entrassem em ação e literalmente tivemos um massacre de sonhos juvenis de uma sociedade verdadeiramente justa. Cada uma daquelas bombas e balas, me feriam como que de morte porque de morte feriam a democracia e os sonhos de uma pátria livre. Em pouco tempo a juventude foi criminalizada por sonhar e os políticos, como hienas, se juntaram às mídias latifundiárias para degustarem e tripudiarem sobre seus restos e carnes sangradas e feridas. Nada, rigorosamente nada do que os jovens propuseram foi acolhido. Ali percebi com clareza a marcha da insensatez. Do poder pelo poder e do vale tudo para permanecer no poder ou para tomá-lo.
Não, ninguém vai me convencer de ficar do lado de quem está no poder e, faz de tudo para lá permanecer, tão pouco de ficar do lado de quem o quer a qualquer custo. Fico do lado do povo, a quem pertence verdadeiramente o poder: "não terias poder se não lhe fosse dado" (Jesus Cristo).
Quem se mistura a porcos, farelo come, como diz um ditado português. Pois bem, quem se junta a traidores da democracia, se retroalimenta de golpes e traições. Os golpes e traições só estão entre vocês mesmos que querem nos acusar e obrigar a que estejamos de um lado ou de outro. O povo não traiu ninguém e tem sido o único verdadeiramente traído e enganado ora pelos porcos, ora por aqueles que a eles se misturaram. Os iguais que se resolvam!
Link para texto de Yasmin:
https://www.nodo50.org/insurgentes/textos/autonomia/14vilabakunin.htm